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A tirinha dos milhões: a trajetória do cartunista Carlos Ruas, de Niterói, que atrai seguidores em todas as mídias

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em entrevista ao A Seguir: Niterói, o premiado cartunista fala do projeto de internacionalizar seus quadrinhos e do processo criativo na composição de sua arte
Carlos Ruas
O cartunista Carlos Ruas. Foto: Divulgação

As carteiras escolares ficavam repletas de desenhos que mapeavam o caminho do sucesso do designer gráfico e cartunista Carlos Ruas, neto do jornalista e fotógrafo, também de Niterói, Carlos Ruas. Nascido na cidade, o cartunista não podia imaginar que em apenas dois anos o seu blog de tirinhas teria mais de 40 mil visitas por dia.

Na época, quando ainda tinha 26 anos, conciliava a web com o trabalho numa agência de publicidade, até que resolveu se dedicar totalmente às histórias em quadrinhos. O blog, apelidado de “Um sábado qualquer” – série de quadrinhos que lançou o cartunista – se tornou um dos mais acessados do país e chamou a atenção das editoras.

As redes sociais também evidenciam o seu alcance, que de forma orgânica, capturou a atenção do público mesmo abordando uma temática que ainda pode ser vista como tabu.

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Só no Facebook, acumula mais de 2,7 milhões de seguidores. No Instagram, são 753.000 pessoas. No Twitter, quase 68.000. Sem a divulgação da imprensa e qualquer suporte de terceiros, Carlos resolveu seguir sua intuição, como uma aposta em si mesmo. A vontade já estava amadurecida, mas o percurso que iria traçar dependeria da recepção do público, grande parte composto pelo boca a boca aliado ao compartilhamento de posts em redes sociais.

O conceito bem amarrado e os rascunhos registrados no seu caderno de ideias, que ele carinhosamente chama de “patrimônio cultural”, o levaram a carimbar esboços daquilo que serviam como fluxos de pensamento para a construção temática de seus futuros quadrinhos. A identidade visual também já definida: fundo branco, em sua maioria, dando destaque para a narrativa que permeava o enredo dos personagens principais (esses sempre em primeiro plano e, estrategicamente, coloridos).

– Eu gosto de focar na mensagem que eu quero passar. O fundo não faz parte da ideia que eu quero passar. Na série de tirinhas “Cães e Gatos”, por exemplo, os personagens são coloridos, mas o resto é preto e branco, a casa, os outros personagens. Tudo está em segundo plano. Eu só desenho o essencial para o entendimento da mensagem. Quando você coloca muitos elementos, às vezes você polui. Você quer dizer uma coisa e acaba dispersando a atenção para outra – pontua.

Religião com humor

O sucesso das tirinhas que abordavam as religiões com humor e irreverência possibilitou que, em 2011, o “Um sábado qualquer” fosse um dos blogs de quadrinhos mais acessados do país, conquistando um público diversificado e disposto ao debate. Reconhecido, então, participou do livro em homenagem a Maurício Souza, “MSP novos 50”.

Além de criador do “Um sábado qualquer”, Ruas também é responsável por outras séries de quadrinhos, como “Mundo avesso” e “Cães e gatos”, três universos distintos e criativos que compõem a sua obra. Carlos é graduado em design gráfico e trabalhou em uma produtora cultural enquanto lançava em 2009, nas redes sociais, o “Um sábado qualquer”.

Os livros

Ao longo dos 12 anos, publicou dez livros, seja de forma independente ou por editoras. A maioria dos livros foi lançada através do financiamento coletivo e estão disponíveis, para compra, na ‘Uma loja qualquer’, além de produtos, como garrafinhas. Seu 4° livro, “A infância de Cristo”, arrecadou R$ 280 mil na plataforma Catarse, batendo o recorde de maior arrecadação nerd. Ao todo, lançou seis campanhas na plataforma, entre livros e produtos como pantufas e garrafinhas – todos viabilizadas pelo apoio de antigos e novos fãs.

Em 2013, fundou a empresa “Um Sábado Qualquer”, com o objetivo de ampliar sua atuação como quadrinista e comercializar produtos personalizados de forma online. No ano seguinte, estreou seu canal do Youtube que conta com animações, curiosidades e mais de 426 mil inscritos. No mesmo ano, criou o “Mundo Avesso”, que é definido pelo autor como tirinhas de “filosofia visual”, trazendo reflexões sobre valores e virtudes. Os personagens “Cães e Gatos” mostram, de forma humorada, como lidar com as diferenças, as dinâmicas e adversidades do convívio social, assim como as divergências que podem surgir pelo caminho.

Ruas marca presença nos principais eventos geeks/nerds no país, como a Comic Con e Bienais do Livro, além de feiras regionais, que o mantém em contato com fãs nos quatro cantos do país. Também foi chargista convidado do programa Roda Viva por duas vezes: em 2016, com os entrevistados Leandro Karnal e Luis Felipe Pondé, e também em 2018, com Ziraldo como atração principal.

Em entrevista ao A Seguir: Niterói, o premiado cartunista, que também participa ativamente do canal de divulgação científica, o Bláblálogia, fala do projeto de internacionalizar seus quadrinhos, da ideia de lançar um livro de tirinhas que desmitificam a Ciência e do seu processo criativo na composição de tirinhas, suas referências de trabalho e muito mais.

Os melhores momentos da entrevista você confere abaixo:

A Seguir: Niterói: Você tem formação em desenho industrial, mas atua profissionalmente em desenho de quadrinhos desde 2010. Você fez desenho industrial pensando em virar cartunista um dia ou se descobriu na profissão? Quando começou seu interesse pelo desenho?

Carlos Ruas: Sim, eu sou designer gráfico, com formação em desenho industrial. Hoje em dia esse nome acaba ficando um pouco defasado. Está mais para artes visuais. O desenho industrial carrega um pouco essa ideia de que tem um pouco a ver com indústria, o que não tem nada a ver com isso. Eu exerci a profissão de designer por dois anos após minha formação. Eu trabalhei numa empresa, em Vila Isabel, que organizava eventos culturais. Ia todos os dias de ônibus de Niterói para lá. Foi minha primeira profissão.

Eu nunca achava que podia viver de quadrinhos nessa época. Estamos falando de início dos anos 2000. Nessa época, a internet não era muito voltada para marcas, clientes, era meio terra de ninguém. Não era muito viável ganhar dinheiro na internet. Se você pensa em quadrinho, você pensa em papel. Você contava nos dedos quem vivia de quadrinho no Brasil. Era Maurício de Souza e mais alguns. Era uma época desestimulante – ainda é hoje em dia – mas nessa época a mídia digital não dava esse suporte. E na mídia impressa era um jornal inteiro e um chargista. E ele já tinha 40/50 anos, um cara mais velho, mais experiente.

Desde criança eu fazia quadrinho. Cheguei a ser, por um tempo, o chargista no jornal da escola. As carteiras escolares ficavam repletas de desenho. Mas eu nunca achei que isso me levaria a algo profissional. Eu me divertia fazendo. Fazia conceitos artísticos para tantas empresas e clientes que comecei a sentir falta do meu. Eu pensei, quer saber? Eu vou fazer uma tirinha minha. Nem que seja um hobbie. Comecei a procurar tirinhas pela internet e achei dois blogs. Achei revolucionário. Vi que tinha a possibilidade de criar o meu próprio blog.

Até que eu fiz as 10 primeiras tirinhas de “Um Sábado Qualquer”, pensei em conceito, nos personagens e mandei para alguns jornais. Mas não tive resposta de ninguém. Pensei: “bem, se tem tirinha, pode ter blog” e comecei a divulgar. Aos poucos, foram aparecendo pessoas. Em dois anos, o blog já estava com 40 mil acessos diários. E eu vi que tinha um público consumidor ali. Podia criar uma marca, pensar em produtos. O pessoal pedia por e-mail. Foi quando eu tomei a decisão de sair do emprego em que eu trabalhava para me dedicar exclusivamente às tirinhas. Doze anos se passaram e estamos aí. Foi a melhor decisão da minha vida. O veículo digital veio para ficar. Não é mais nenhum mistério. Não é mais uma coisa a ser debatida.

É uma vitrine de certa forma, né?

Sim. E é algo bem democrático. A internet lançou vários artistas e se demonstrou muito acessível. Qualquer um pode lançar seu trabalho no Tik Tok, no Instagram. Pode ser um recém-formado, com poucos recursos. A internet te dá essa possibilidade. Hoje o blog acaba se tornando mais um portfólio, mas antes era o único veículo de comunicação que existia.

Você é o autor da webcomic “Um Sábado Qualquer”, que aborda, de forma satírica, temas relacionados às religiões. Qual foi sua maior inspiração para a criação do roteiro da webcomic?

Eu criei “Um Sábado Qualquer” unindo meus hobbies. É um prazer muito grande desenhar e eu também sempre gostei muito de estudar religião, mas não como forma de crença, pelas histórias das religiões e o fascínio que existe em muitas pessoas de abraçarem esses seres, esses deuses e dedicarem suas vidas a eles e às regras que impõem. As pessoas se entregam de corpo e alma a algo que é uma crença, que não é baseado em fatos e evidências. Isso é ter fé. Tem um céu prometido e cada um alega que o seu é o verdadeiro. A fé faz com que as pessoas acreditem que o seu seja o único. É essa devoção me fascina.

Eu tive um pai ateu, uma avó espírita e estudei numa escola católica. Então, essa mistura fez com que eu ficasse cada vez mais curioso também. Eu nunca tive nada imposto, religiosamente falando. Minha família sempre foi muito eclética. Sempre tive muita liberdade de pesquisar as religiões e as mitologias. Quando eu criei “Um Sábado Qualquer”, vi que não existiam muitas tirinhas que abordavam a religião. Queria dialogar com os nichos que não foram explorados ainda. E funcionou muito bem. No início era só um Deus, o cristão. Depois, fui expandindo e criei a série “Boteco dos Deuses” e comecei a falar das outras crenças, sejam elas novas ou antigas.

Quais são as principais referências do seu trabalho? Ou referências indiretas de coisas que você consumiu ao longo de sua vida?

O Newton tem uma frase que eu gosto muito. Quando perguntaram para ele como que conseguiu enxergar tão longe, por conta das descobertas que ele fez e que revolucionaram a física, ele responde: “Se eu enxerguei longe é porque me apoiei em gigantes”. As referências são muito importantes para você desenvolver o seu trabalho. Quando eu era criança e devo isso muito ao meu pai, ele me apresentou o Henfil, que tinha charges muito críticas. E eu comecei a entender o que era o humor crítico, além do humor bobo. Quino também me influenciou muito, além de Laerte e Angeli. Principalmente Laerte, que está no panteão dos deuses dos quadrinhos. Para mim, é uma das melhores quadrinistas que já existiu.

Como você define sua identidade visual? Você não trabalha com excessos, mas ao mesmo tempo não é uma forma simples de passar a mensagem. Como achar esse equilíbrio para transmitir esse conteúdo?

Eu acho que a ideia está acima do traço, da ilustração. Você pode ser um artista que desenha de forma magnífica, mas se aquilo que você desenha não é interessante, você não vai ter visualizações e isso é importante. Ter pessoas seguindo seu trabalho. Tem tirinhas de boneco de palito que fazem enorme sucesso, porque a pessoa é criativa, tem ideias muito boas.

Eu sigo um caminho que eu não preciso detalhar muito as coisas. Em muitas tirinhas que eu faço, o fundo é branco. Eu gosto de focar na mensagem que eu quero passar. O fundo não faz parte da ideia que eu quero transmitir. Na série de tirinhas “Cães e Gatos”, por exemplo, os personagens são coloridos, mas o resto é preto e branco, a casa, os outros personagens. Tudo está em segundo plano. Eu só desenho o essencial para o entendimento da mensagem. Quando você coloca muitos elementos, às vezes você polui. Você quer dizer uma coisa e acaba dispersando a atenção para outra.

Como é seu processo criativo? Você desenha no computador, tablet ou vai no manual mesmo?

Eu uso um tablet há dois anos. Foi revolucionário para mim isso. Há dez anos eu só usava papel e caneta. É um processo mais lento. Eu tenho um caderninho de ideias que uso até hoje diariamente. Toda reflexão que passa pela minha cabeça eu anoto porque pode virar um conteúdo e eu folheio diariamente esse caderno. Eu já cheguei a usar dois programas para ajeitar a tirinha no computador e agora eu consigo fazer todos os processos no tablet, desde o rascunho à arte final. É tudo no mesmo programa. Até a postagem. É meu caderninho de ideias, que uso desde sempre, e meu tablet. Meu caderninho é meu patrimônio cultural.

 Fale um pouco dos seus livros. 

O último livro que lancei foi o “De onde viemos?”. Acho que é o melhor  que já fiz. É um livro para ficar. Nele, eu falo da diversidade religiosa. O título já é uma provocação. Eu trago vários criacionismos pelo mundo. Para isso, tive que pesquisar as divindades em várias regiões do mundo e reuni tudo no que eu chamo de catálogo.

Nesse livro eu quis mostrar essa pluralidade e não colocar o cristianismo como destaque, sem exaltar uma religião específica. A ideia é que todas fiquem no mesmo nível. Eu quero mostrar especialmente, aos jovens, que existem várias religiões para que fiquem à vontade para escolher uma para chamar de sua. É uma maneira de quebrar um pouco o pensamento de que a sua fé está acima dos outros. É um livro que fiz com muito carinho, muita pesquisa e deu muito trabalho. Lancei ele no Natal do ano passado.

O que você acha que gerou tanta identificação no público?

Acho que como estamos em um tempo de diversidade, isso acabou coincidindo com o que eu passo no meu quadrinho nesses doze anos. Já está um pouco ultrapassada a ideia de que uma religião específica é considerada a principal, como se estivesse inserida em um patamar superior. Nós estamos em um momento de quebrar esses paradigmas, de trazer a diversidade para o debate. Nesse sentido, muitas pessoas que leem “Um Sábado Qualquer” acabam se identificando com esse tipo de pensamento porque eu coloco todos os deuses na mesma mesa de boteco. Você tem o Shiva, o Deus hinduísta, o Oxalá, que é representado hoje pelas matrizes africanas. Tem também os deuses mitológicos que eu coloco nas minhas tirinhas.

As pessoas se identificam porque eu abordo os deuses de uma forma não agressiva, não ofensiva, até porque a ideia não é catequizar ninguém, nem mesmo converter ou desconverter. Não quero entrar numa bolha. Tem muita visão estereotipada. Deuses que são vistos de uma forma ruim. Estamos quebrando com isso.

Já “Cães e Gatos” tem um outro eixo temático. Poderia falar um pouco sobre a proposta dessa série de tirinhas? 

Eu quis fazer o meu Garfield (risos). É uma abordagem mais leve. O “Um Sábado Qualquer” é mais ácido, mais crítico. É o alívio cômico. Quando eu pensava em temáticas mais leves não tinha onde colocar. E nem todo mundo gosta de humor em torno da religião. Eu sei que é um tema tabu, um campo delicado, apesar de eu estar sempre na corda bamba, tomando cuidado, nem todo mundo curte.

Então, eu criei o “Cães e Gatos” (2017), que tem personagens leves. Nela, eu consigo trabalhar o convívio. Eles se amam, moram na mesma casa e precisam aprender a conviver juntos com suas diferenças. Muitos casais se identificam com cães e gatos. Felicidade para um cão é um rabo abanando, para um gato não. Gato não demonstra afeto desse jeito e aí o cão acha que o gato não está feliz com ele. Mas, na verdade, eles precisam se comunicar para se entender. Eu trabalho um pouco com a psicologia do casal dessa forma, com as diferentes perspectivas.

No momento você está com algum projeto em andamento?

Estou com muitos projetos pela frente. Quero fazer um jogo de cartas com os deuses. Quero também lançar um livro focado na Ciência, em como ela funciona. Em tempos de pandemia, no que acreditar em meio a tanto negacionismo e fake news? As pessoas acreditam numa imagem de jpeg compartilhada no WhatsApp. Tenho que fazer um livro sobre o processo para a criação de uma vacina ou de um medicamento. Abordar todo o método por trás, a segurança dele. Quero mostrar de forma bem simples e transparente.

Você é um dos fundadores do canal de divulgação científica Bláblálogia. Pela página do Instagram, notamos que o canal se propõe a sanar diversas dúvidas de temas relacionados à saúde. Inclusive, sobre Covid longa, herpes, que virou polêmica no BBB, visibilidade trans, síndrome do burnout. Qual impacto você enxerga no canal e como é feita a curadoria do conteúdo, de forma a atingir um leque grande de assuntos e ao mesmo tempo sem perder a consistência?

O Bláblálogia é um canal de ciência. É uma criação do Emílio Garcia e mais 29 pesquisadores. Ele nasceu de um encontro de divulgadores científicos pela necessidade de ter mais explicações nas redes de como a Ciência funciona. A ideia no início era cada um se dedicar um dia para o canal, mas acabou que não deu certo. As pessoas tinham outros projetos. Mas o Emílio sempre acreditou no projeto e hoje o canal segue com lives sobre a Ciência. Atualmente participamos eu, o Emílio e o biólogo Pirula. Toda quinta-feira eu participo de uma live e o tema do dia varia, sempre no âmbito da Ciência. Eu gosto de mostrar, através do quadrinho, que a Ciência não é um bicho papão. O quadrinho é um veículo para isso e eu faço questão de utilizá-lo.

Você nasceu em Niterói. Como é sua relação com a cidade? O que gostava de fazer por aqui?

Atualmente eu moro em São Paulo. Me mudei por motivos profissionais. Os maiores eventos de quadrinho são aqui. Mas morei grande parte da minha vida em Niterói. Moro aqui há cerca de 4 anos. Quando eu saí de Niterói tinha 30 anos. Sou nascido e crescido em Niterói. Amo a cidade. Minha família mora aí. De dois em dois meses eu vou para a cidade para visitar a família. Gostava muito de sair com os amigos, jogar, ir ao Campo de São Bento quando morava em Niterói.

Na pandemia, passei a ir menos. Foi difícil. Usávamos divisórias de plástico para separar os ambientes (quando ainda não havia vacina) e para conseguir conviver por mais tempo, em segurança. Mas não deixava de ir.

Daqui a cinco anos onde estará o Carlos?

Eu pretendo fazer animações com investidores e internacionalizar o “Um Sábado Qualquer” e o “Cães e Gatos”. A ideia é traduzir para o inglês e o francês e divulgar nas redes, como no Instagram. Quero muito que dê certo!

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