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Aos 11 anos, a niteroiense Maria Eduarda Damas não titubeia quando lhe fazem a clássica pergunta “o que você quer ser quando crescer?”. A resposta é rápida e precisa: Rainha de Bateria – da Unidos do Viradouro, é claro.
Ela já deu alguns passos na direção da realização do seu sonho. No último dia 10, ela foi coroada primeira Princesa da Corte Mirim do Carnaval 2025 do Rio de Janeiro, formada também pelo Rei (Arthur Miguel, 10 anos, Estrelinha da Mocidade), Rainha (Valentina Monteiro, 10 anos, Inocentes da Caprichosos) e segunda Princesa (Kawany Venâncio, 11 anos, Aprendizes do Salgueiro).
As 20 crianças que participaram do concurso tinham de 6 a 11 anos de idade e eram oriundas de 17 escolas de samba tradicionais que integram a Associação das Escolas de Samba Mirim do Rio de Janeiro (AESM-RIO), realizadora do evento.
Os critérios de avaliação dos jurados incluía desenvoltura, graciosidade, habilidade no samba, além da exigência de matrícula e assiduidade na rede de ensino pública.
Com sorriso nos lábios, Maria Eduarda sambou com sandálias de salto alto nos pés.
– Ela sempre foi alegre sambando e é muito carismática – afirmou Marcio Moura, carnavalesco da Virando Esperança, a escola mirim da Viradouro, da qual Maria Eduarda faz parte.
Confira a apresentação de Maria Eduarda
A dona de casa Aline Damas Cardoso tem certeza que a filha Maria Eduarda não “puxou” a ela. A família, moradora do Centro de Niterói, tem por tradição assistir os ensaios da Viradouro, na Amaral Peixoto. E só. Ou, no máximo, ver a movimentação de alguns blocos de rua.
– Desde os 3, 4 anos que a Maria Eduarda gosta de sambar. Eu não sei sambar, eu arrasto o pé. Ela puxou à minha irmã, que também adora um samba. E o curioso é que as filhas dela, minhas sobrinhas, não gostam de samba. Acho que teve uma troca aí – brincou Aline.
Ano passado, a filha chegou da escola onde cursa a 5ª série do Fundamental, em Icaraí, com um folheto da Virando Esperança e pediu para a mãe a inscrever. Foi feita sua vontade.
– Eu a inscrevi porque ela gosta muito, é da pessoa. Quero que meus filhos sejam o que eles quiserem – disse Aline cujo filho caçula, Gabriel de 6 anos, pelo menos, até agora, não curte nem um pouco brincar Carnaval.
A Virando Esperança voltou a desfilar este ano, depois de alguns anos de interrupção do projeto. E qualquer criança, pode participar, sendo ou não morador da comunidade do Viradouro. Tendo ou não necessidades especiais. Dos 5 aos 21 anos.
Quem quer desfilar na escola mirim se inscreve e assume o compromisso de participar dos ensaios, toda terça-feira, das 18h às 21h, na quadra da Viradouro, no Barreto.
– Quem tem que ter vontade de desfilar é a criança e não os pais, mas eles têm que acompanhar os filhos nos ensaios – observou Moura.
Quem quer um pouco mais, se inscreve no projeto Virando o Futuro, que oferece oficinas de samba no pé (passista), percussão, canto, balé clássico, mestre-sala e porta-bandeira. As aulas acontecem duas vezes por semana, também na quadra da Viradouro.
Maria Eduarda se inscreveu no projeto, ano passado, de olho nas aulas de samba no pé.
– Eu não sabia sambar quando cheguei. De salto, então, nem pensar. Eu treinei muito. Eu andava muito mal de salto e tem alguns passos que ainda não sei fazer muito bem – disse ela.
Sim, ela sabia que existia o concurso para Corte Mirim do Carnaval, mas nunca tinha lhe passado pela cabeça participar. A Virando Esperança indicou ela e outra integrante do projeto e ambas toparam participar.
– Fiquei surpresa, feliz, orgulhosa e também nervosa quando vi que ia participar do concurso. Também fiquei muito nervosa na apresentação. Na hora, foquei nos passos e no samba que estava tocando. Estou muito animada de ter uma agenda com a Corte Mirim, ano que vem – afirmou a Princesa, que ainda não entrou de férias na escola.
Com a retomada da escola mirim, a direção da Viradouro decidiu que, por quatro Carnavais, a Virando Esperança vai levar para o Sambódromo, no Rio, enredos clássicos da escola de samba de Niterói.
Este ano foi “Menino Rei”, de 2017. Para o Carnaval de 2025 será “Orfeu”, enredo que Joãozinho Trinta desenvolveu para a Viradouro em 1998.
– Essa é uma forma da garotada entrar em contato com a história da escola – explicou Moura.
Este ano, a Virando Esperança desfilou com 600 crianças e jovens, número mínimo de integrantes exigido pela AESM-RIO para ir para a avenida.
E as fantasias foram feitas também por alunos do Virando o Futuro. Trata-se do curso de adereços e fantasias, único ministrado no Rio, mais precisamente, no ateliê de Alessa Reis, chefe de ateliê da Viradouro.
Esse curso é para jovens a partir de 15 anos, mas atraiu, mesmo, universitários de 19, 20 anos e pessoas 60+. Segundo Moura, foram abertas 4 turmas, ano passado, com 45 alunos, cada – e ainda teve quem não conseguisse uma vaga.
– A gente estimula as crianças a se divertirem, a curtirem o momento. O projeto não tem como objetivo formar jovens para o mercado de trabalho. A gente forma, mas o que vai ser feito com o que se aprende, é a criança que decide. Através das oficinas, buscamos que desenvolvam autoestima, aceitação e entendimento do próprio corpo. Não estamos formando competidores, mas cidadãos felizes, empoderados, inteligentes – afirmou Moura, que entrou para a Viradouro no ano 2000 como bailarino da comissão de frente.
As famílias nada pagam para participar do Virando Esperança ou Virando o Futuro. O encerramento das atividades de 2024 será no próximo dia 29 e as inscrições para 2025 estão previstas para serem abertas em abril.
No próximo Carnaval, a escola mirim vai desfilar na sexta-feira, 7 de março. Será a 11ª agremiação a entrar no Sambódromo, por volta das 20h30. O desfile dura 30 minutos e, segundo Moura, não tem competição, só exibição.
Este ano, com a volta da Virando Esperança para o Sambódromo, Maria Eduarda estreou como passista. Ano que vem, terá participação dupla. Como primeira Princesa da Corte Mirim do Carnaval, vai desfilar na avenida para receber os aplausos e reverências dos “súditos” nas arquibancadas, antes das apresentações das agremiações. Depois, com a fantasia da Virando Esperança, volta para a avenida para assumir seu posto de passista mirim da escola.
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