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A Ponte vista por dentro, o Centro de Controle de Tráfego

Por Fernanda Nunes
| aseguirniteroi@gmail.com

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O A Seguir visita o centro de controle da Ponte e entra na estrutura do vão central, o maior desafio do projeto
50 anos Ponte Rio-Niterói
A Ponte recebe 150 mil carros por dia, um desafio para a Ecoponte manter as pistas livres. Fotos: Marcel Lopes

Na correria para chegar do outro lado, os 150 mil motoristas que passam diariamente pela Ponte Rio-Niterói desconhecem os detalhes da sua engenharia e operação. Pouco sabem sobre as  galerias existentes nas estruturas de cimento e ferro por onde circulam trabalhadores e toda parafernália tecnológica necessária para garantir a segurança do trajeto. O A Seguir Niterói visitou por dentro a operação dessa obra grandiosa, que, após 50 anos de existência, comemorados no dia 4 de março, ainda se transforma e surpreende.

A visita ao Centro de Controle de Tráfego dá uma ideia do mundo que é a Ponte: numa sala repleta com um telão à frente, quase do tamanho de uma parede, com imagens capturadas de diferentes câmeras espalhadas pela ponte, monitores, computadores, mapas de controle,  quatro profissionais mantêm os olhos em tudo o que acontece na Ponte. O trabalho na sala é permanente, por 24 horas, divididas em dois turnos.

Nada acontece entre o Rio e Niterói sem que eles vejam. E não é pouco o que acontece com tanta gente passando por ali. Num único dia, um dia comum, acontecem cerca de 80 registros, que vão desde carros estacionados para a troca de pneu até acidentes graves, com feridos. Em vésperas de feriado, esse número salta para 150 por dia. Se nada de excepcional acontecer…

Tudo parece superlativo. É espetacular, por exemplo, a paisagem da Baía de Guanabara a partir do vão central da ponte. Assustadora também. Numa visita guiada, parti da praça do pedágio até lá, de ônibus. Minha expectativa era de, pela janela, ter uma visão panorâmica das cidades do Rio e Niterói, num local privilegiado, acessível apenas a funcionários da concessionária Ecoponte. Já seria suficientemente inusitado, mas, ao chegar ao vão central, descobri que a expedição estava só começando.

Saindo do ônibus, fui encaminhada a uma escada circular branca, de largura pouco maior do que a minha, na lateral da ponte, que permite a passagem até um andar paralelo, abaixo do asfalto. A escada é suspensa sobre a Baía, não há chão para sustenta-la e, pelo seu entorno, se avista a Zona Norte da capital e a Baixada Fluminense. Do outro lado, o município de São Gonçalo.
Foram poucos segundos de descida até chegar ao ponto alto da visita: um platô de metal, vazado, em formato de treliça, e com barras laterais de segurança. Pisar sobre o platô é como sobrevoar o mar, a 72 metros de altura a partir da lâmina d’água.

A primeira reação ao chegar é de controlar a mente para não entrar em pânico. A seguinte é uma vontade de sentar e esperar o pôr do sol. Uma funcionária da Ecoponte disse, no entanto, não ser recomendado, por causa dos ventos fortes. Ela já tinha pensado nisso antes.

O vão central da Ponte Rio-Niterói é formado por um espaço de 300 metros de largura entre dois pilares e de outros dois secundários, de 200 metros cada um. Ele foi construído para permitir a passagem de embarcações, até mesmo de plataformas, uma característica importante, já que estaleiros do entorno recebem frequentemente unidades produtoras de petróleo e navios para conserto.

Concluída a visita ao platô, o passo seguinte foi entrar em um dos túneis sob o asfalto, uma estrutura metálica de 848 metros de extensão, de onde se ouve os carros passarem sobre a sua cabeça. Passando por uma passarela estreita, cercada de aço, cheguei ao local onde estão instalados 16 blocos de molas, de um total de 32, espalhadas ao longo do vão central. Esses Atenuadores Dinâmicos Sincronizados (ADS) são o orgulho dos engenheiros da ponte. Sem eles, os motoristas continuariam sentindo o piso
balançar em dias de ventania, como acontecia até o início dos anos 2000. Nessas situações, a concessionária era obrigada a interditar a passagem, causando engarrafamentos nas duas cidades. Atualmente, mesmo com ventos de 60 km por hora, nada acontece. Ultrapassado esse limite, os carros são obrigados a se aproximarem uns dos outros e a reduzir a velocidade, numa ‘operação comboio’, controlada por veículos da Ecoponte.

Não parece que a obra tem 50 anos. Ainda conserva muito da sua modernidade. E os equipamentos e controles de última geração não entregam a passagem do tempo. A viagem pela história ficou por conta da  palestra do engenheiro Carlos Henrique Siqueira, atual consultor da Ecoponte e ex-funcionário, uma memória viva de toda história da Ponte Rio-Niterói, desde a sua construção. Ele aparece de cabelos longos no crachá do primeiro emprego e situa bem as mudanças,

– As tecnologias usadas na Ponte Rio-Niterói ainda são válidas, após 50 anos. Naquela época, que não tinha o advento do computador, a engenharia brasileira criou esse monumento. Ela é um exemplo não somente pela sua magnitude, mas, sobretudo, pela sua manutenção.

A conversa deixa de ser, então, sobre o passado para falar do futuro. A expectativa da concessionária é de que novas tecnologias sejam agregadas ao monitoramento – como robôs, drones, lasers e sensores. A Ecoponte também avalia a adesão ao sistema free flow, em que equipamentos reconhecem automaticamente a passagem dos veículos e geram a cobrança de pedágio. Por enquanto, estão sendo analisadas soluções experimentadas em outras rodovias, mesmo fora do Brasil, para saber se são adaptáveis às peculiaridades da Ponte Rio-Niterói.

Essa, porém, será uma nova história. Se tudo seguir como o planejado, a ponte tem um longo caminho pela frente.

Veja a cobertura completa em: https://aseguirniteroi.com.br/especial-50-anos-ponte-rio-niteroi/

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