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A peregrinação dos candidatos à prefeitura de Niterói pelo apoio evangélico

Por Sônia Apolinário
| aseguirniteroi@gmail.com

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Em um mesmo dia, os principais adversários na disputa pela prefeitura participaram de um mesmo culto religioso, na cidade
culto
Culto no Lagoinha, no domingo, 29 de setembro. Fotos: reprodução

No último domingo de campanha antes das eleições, no dia 29 de setembro, os dois candidatos à prefeitura de Niterói que pesquisas de intenção de voto indicam estarem nos primeiros lugares, na preferência do eleitorado, participaram de um mesmo culto religioso, na cidade.

Leia mais: O tom das campanhas para prefeitura de Niterói

Na Lagoinha, repleta de candidatos a vereador, Rodrigo Neves (PDT) e Carlos Jordy (PL), atendendo ao pedido do pastor anfitrião, se perfilaram abaixo do palco, quase lado a lado, após trocarem cumprimentos protocolares.

– Nunca pedi cargo, nunca pedi nada a nenhum político e nunca vou pedir. Fizemos uma carta, com muito respeito e carinho, para dar para os candidatos a prefeito e vocês fazem o que quiserem com ela. Se quiserem assinar, vocês assinam. Acho que é uma grande oportunidade – afirmou o pastor Felippe Valadão, no alto do palco.

O documento, lido em seguida, continha as seguintes “propostas”:

“Não adotar políticas públicas contrárias aos princípios cristãos, principalmente nas escolas públicas” (não foi explicado quais são esses princípios)

“Não subverter, corromper, modificar os princípios bíblicos da família tradicional, isto é, homem com mulher; mulher com homem”.

“Não permitir, apoiar, estimular, ideologia de gênero contrária à heterossexualidade e orientação sexual contrária ao sexo biológico, em qualquer órgão municipal, principalmente nas escolas públicas”.

“Não permitir a inclusão de questões  sobre identidade de gênero e orientação sexual em qualquer tipo de censo”.

“A identidade sexual ensinada nas escolas públicas deve ser a do sexo biológico”.

“Ser contrário a qualquer projeto de lei que autorize pessoas transexuais  a escolher o banheiro que pretende utilizar de acordo com sua percepção de gênero”.

“Não adotar política de pronome neutro nas escolas ou qualquer repartição pública municipal”.

“Criar canal de diálogo entre prefeitura e liderança cristã para tratar pautas que contrariem os princípios bíblicos”.

“Zelar pela pauta conservadora da família e princípios cristãos”.

Os candidatos

– Nunca me esquivarei de tornar público os valores cristãos que carrego. Um candidato a prefeito não pode ter duas caras – postou Jordy, nas suas redes sociais, em alusão à assinatura do documento.

Em outra postagem, o candidato do PL, que tem aparecido nas pesquisas de intenção de voto em segundo lugar na preferência do eleitorado de Niterói, editou um vídeo em que aparece assinando o documento da Lagoinha, no próprio templo. Ele tem como vice na sua chapa, Alexandra Ferro (PP), que se apresenta como missionária, no material de campanha.

Já Rodrigo Neves (PDT), que tem aparecido nas pesquisas eleitorais na liderança das intenções de voto, em Niterói, postou nas suas redes sociais um vídeo, gravado na Lagoinha, junto com o pastor Felippe Valadão.

Para a liderança religiosa, o candidato entregou a “Carta ao povo evangélico”. Neves, que se definiu como cristão, registrou o documento sendo lido por Valadão:

– Sempre valorizei e fui parceiro das igrejas da nossa cidade. Na pandemia, criei o único programa do Brasil que ajudou centenas de igrejas de Niterói com pagamento de salários dos seus funcionários. Quero voltar para proteger nossa cidade, evitando aventureiros e retrocessos.  Comigo, a prefeitura vai apoiar todos os eventos cristãos, defender a família e manter o diálogo constante com toda a comunidade – leu o pastor que ao final disse: – Seja feita a vontade de Deus.

Dias depois, Neves registrou, também nas suas redes sociais, seu encontro com Dom José Francisco, Arcebispo da Arquidiocese de Niterói, e Dom Geraldo, Bispo Auxiliar.

– Quando fui prefeito, governei em permanente diálogo e cooperação com todas as lideranças religiosas de nossa cidade. Vamos avançar na cooperação com todas as igrejas e religiões para fazer de Niterói uma cidade cada vez mais acolhedora, tolerante e com mais amor ao próximo – afirmou.

No último dia 24 de setembro, o candidato Bruno Lessa (Podemos) registrou nas suas redes sociais um encontro que classificou como “inspirador” com lideranças evangélicas de Niterói.

Segundo ele, “temas essenciais como a situação das pessoas em vulnerabilidade social, o apoio às famílias atípicas e o papel fundamental das igrejas nas políticas públicas foram amplamente discutidos” durante o encontro.

– O compromisso das lideranças com uma Niterói mais inclusiva e solidária se fortaleceu e, com grande alegria, recebemos o apoio dessas importantes vozes para a nossa campanha – postou Lessa cuja vice na sua chapa, Bruna Doriel, tem atuação junto à evangélica Igreja Internacional da Graça de Deus.

Na última terça-feira (1°), Talíria Petrone (Psol) divulgou o apoio à sua candidatura pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, frequentadora da Assembleia de Deus em Brasília.

A candidata também informou ter recebido “a benção” da pastora Mônica Silva, da Assembleia de Deus Central, do bairro de Tenente Jardim, em Niterói.

Ainda na terça-feira, Talíria recebeu “reforço religioso” para a sua campanha. O deputado federal e pastor da Igreja Batista do Caminho, Henrique Vieira (PSOL), percorreu com ela vários bairros da cidade, no alto de um carro de som.

Força evangélica

Reportagem do site Nexo registrou que, nos últimos 30 anos, os evangélicos aumentaram sua participação na vida pública do país, “transcendendo a fronteira da Igreja para ocupar espaços na mídia, na cultura e na política”.

O Censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, detectou um aumento de 61% na população evangélica do país, em relação ao levantamento anterior, feito em 2000 – o Censo de 2022 ainda não atualizou esses dados.

– Em termos absolutos, o Brasil foi o país que registrou o maior crescimento da população evangélica, em todo o mundo, nos últimos anos – afirmou para a reportagem o historiador e antropólogo Paul Freston, professor na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, no Canadá.

Pelo Censo de 2010, os evangélicos não eram maioria em Niterói. O levantamento indicava que 54.70% da população era católica (acima da média do estado: 48.54%, abaixo da média do país: 65.92% ).

O evangélicos apareciam em segundo lugar, como opção religiosa de 18.69% dos niteroienses – abaixo das médias estadual e nacional, respectivamente, de 27.46% e 21.02 %.

Os espíritas representavam 8.07% da população da cidade enquanto os adeptos da umbanda e do candomblé correspondiam a 1%.

Segundo o blog “Evangelização”, no estado do Rio de Janeiro, a maioria dos evangélicos pertencem à Assembleia de Deus; em segundo lugar vem a igreja Batista, seguida pela Universal do Reino de Deus.

Candidaturas religiosas

Nas eleições municipais de 2024, estão disputando representatividade política, em todo o país, 8.731 candidaturas que apresentam viés religioso. Desse total, 94,9% (8.290) são evangélicas; 3,3% (284) estão associadas às crenças de matriz africana e 1,8% (157) são católicas.

O levantamento foi feito pelo grupo de pesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF). De acordo com a pesquisa, no Rio de Janeiro, 395 candidaturas têm perfil religioso. Desse total, 88,4% têm cunho evangélico; 10,4% estão associadas às crenças de matriz africana e 1,3% são católicas.

Niterói, segundo o levantamento, é um dos municípios do estado que mais apresentam “concorrentes de terreiro”, ao lado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias e São João de Meriti. A pesquisa não informa o quantitativo dessas candidaturas.

 

 

 

 

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