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A morte do porteiro do Colégio MV1 na Rua Gavião Peixoto, em Icaraí, pode ser considerada a “crônica de uma morte anunciada”*, parafraseado o título do romance do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques. Livro que relata a ocorrência de uma morte que toda a cidade sabia que aconteceria e mesmo assim não consegue evitar.
Foi o que aconteceu na quinta-feira (22) em Niterói, depois de um sequência crescente de ações violentas registradas na cidade.
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Sebastião Lair Hipólito, de 65 anos, abria a escola quando viu um ladrão no corredor roubando equipamentos do colégio.
Segundo a polícia, o invasor era Rennan de Oliveira da Silva Santos, de 21, que tinha invadido o lugar pouco depois da chegada de Sebastião.
O vigia foi impedir Rennan e foi esfaqueado pelo assaltante. Morreu na hora. Na fuga, Rennan ainda levou a bolsa de uma funcionária.
A prisão aconteceu perto dali. Na Rua Sete de Setembro. Equipes do Niterói Presente prenderam Rennan tentando furtar uma bicicleta. O criminoso foi levado para a 77ª DP (Icaraí), onde foi reconhecido pela funcionária da escola.
A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí investiga o caso. Sebastião foi enterrado na sexta-feira (23), no Cemitério Maruí, no Barreto.
A morte comoveu e indignou a cidade.
Nas redes sociais, moradores relataram o aumento crescente da violência nas ruas de Icaraí, Centro e São Francisco. Atribuem o problema ao aumento da população em situação de rua – e também de grupos de usuários de drogas.
A polícia apurou que Rennan havia fugido de um hospital psiquiátrico em Jurujuba no início da semana e vinha cometendo crimes desde então. Ele já havia atacado um ciclista em Santa Rosa na quarta-feira (21) e agido em São Francisco na quinta-feira (22).
O colégio MV1 divulgou nota sobre a morte de Sebastião Lair Hipólito:
“É com profunda tristeza e consternação que compartilhamos a dolorosa notícia do falecimento de um dos nossos colaboradores, Sebastião Lair Hipólito, vítima da violência com que somos obrigados a conviver diariamente.
Ao abrir as portas da nossa escola, cumprindo sua rotina diária, foi atacado por uma pessoa em situação de rua, que o atingiu covardemente pelas costas, resultando na sua trágica e precoce partida.
Esse ato de absoluta monstruosidade nos enluta, nos choca, nos atordoa. Estamos profundamente consternados pela perda irreparável de uma pessoa de convivência diária, gentil, educada, responsável, um homem de família, um trabalhador.
A prisão do assassino, já efetuada, não conforta nossos corações, partidos pela brutalidade que permeia nossa Sociedade.
Que nosso amigo Sebastião descanse em paz, e que sua memória permaneça entre nós. Não esqueceremos da pessoa que nos deu tanto de atenção, cortesia, cordialidade e desvelo.”
* O livro Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Marques, foi publicado em 1981. O mesmo ano em que o escritor colombiano recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. O livro é ambientado em uma pequena cidade fictícia na Colômbia, onde o personagem principal, Santiago Nasar, é acompanhado desde a saída de casa “no dia que seria o dia de sua morte” até ser assassinado pelos irmãos Vicário, que toda a cidade sabia que espreitavam para matá-lo, alegadamente pela honra de sua irmã. A narrativa gira em torno do tema da inevitabilidade do destino.
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