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A favela vista por dentro, em Niterói

Por Livia Figueiredo
| aseguirniteroi@gmail.com

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Jovens do projeto BemTV retratam as comunidades do Morro do Estado, do Preventório e de Jurujuba
Estado (1)
Foto da exposição “Made in Favela” no Instituto JCA

O nome já anuncia. Olho Vivo. Desconstruir o que a sociedade impõe e construir. Imprimir um novo olhar em moradores de comunidades. A proposta é simples, porém desafiadora: levar o jovem a olhar para dentro do seu território de origem num exercício de valorização, de entender a importância da favela, o porquê dele estar ali.

Leia mais: Niterói é o segundo município do estado com mais favelas; só perde para o Rio

Thais Amaral participou do projeto Olho Vivo em 2014. Mora na morro do Preventório e é produtora na Bem TV desde 2009. A Bem TV é a responsável por levar esse projeto, assim como outros, para moradores de comunidades de Niterói.

– A gente trabalha com o que é de direito, com a beleza das comunidades, com a violência. A potência do território. A cada formação, o grupo, formado por jovens de comunidades, é encarregado de montar um produto final. Se for audiovisual, os jovens montam uma ficção, um documentário. Se for foto, é montada uma exposição.

Todas as fotos que podem ser vistas abaixo fizeram parte de uma exposição. Quando o jovem entra no projeto ele assina uma autorização de imagem, que inclui uma cláusula autorizando a Bem TV pode usar tudo que o jovem produziu na formação.

Geralmente esses jovem têm o olhar aguçado para os problemas e não para a vida que existe dento da favela. Thais conta que no Morro do Preventório, a formação começou com uma introdução do local, um contexto geral, um panorama que identifica o lugar e o insere em seu meio.

Primeiro, é importante entender que é necessário olhar para o macro, para se decifrar o que se passa em seu interior. O espaço geográfica, bem como a sua formação história ajuda a entender a identidade, o DNA que acompanha cada morador de comunidade.

– Não é somente a formação. É a mudança do olhar. A gente mostra para o jovem quais são seus direitos, seus deveres. Mas também o quanto eles de material conseguem produzir com uma câmera. O lugar onde eles moram, mesmo com todas as dificuldades, tem potência. E tudo que eles aprendem é para eles levarem para os territórios deles, mas para fora também.

Como é feita a seleção?

Todas as formações são compostas por jovens do território de suas origens. Se a formação acontece no Preventório, a prioridade é para jovens daquele território. Se acontece no Caramujo, são com os jovens do Caramujo. Caso sobre vaga, são atendidos jovens de outras comunidades.

Onde a Bem TV atua?

Niterói, São Gonçalo e Rio.

Qual o critério para participar do Olho Vivo?

Ser morador de favela e/ou do território que o projeto atende.

O que você carrega da Bem TV?

Eu conheci a Bem TV em 2014 através do projeto de formação em audiovisual do Olho Vivo. Nesses anos todos, eu trabalho com vários jovens de territórios e comunidades diferentes.

Mas uma coisa que todos têm em comum é o quanto que foram impactados pelo Olho Vivo, como esse projeto conseguiu transformar o olhar desses jovens. É inacreditável como uma saída para fotografar o território, uma formação, uma conversa em sala de aula podem capturar aquele território onde não tem saneamento básico… a comida não chega na porta de casa, uma correspondência não chega. E como isso tudo é tão pequeno perto de tanta vivência, tanta potência.

O jovem sai transformado. Algo que ele entrou só para ocupar seu tempo, virou algo que eles levam para a vida.

E como existe vida naquele sol que passa, sim, por aqueles tijolos. Um cachorro que passa na rua, numa criança jogando bola, num tênis preso no meio fio, no baile da pracinha. E como existe vida ali que contribuem diariamente no nosso dia a dia.

O que esse jovens levam de bagagem?

Nas nossas formações, a gente recebe muitos jovens que acreditam que a única coisa que está predestinada para eles é trabalhar no McDonalds, ser cobrador, ser babá. Eles saem dizendo: “Eu sou fotógrafo, eu sou cinegrafista”. Isso é o mais importante.

Foto tirada no morro do Estado em uma das formações. Foto: Arquivo/ Bem Tv 

Formação em Jurujuba. Foto: Divulgação/Bem Tv

Sobre a exposição:

A exposição “Made in favela, o mundo é nosso”, além de uma ode fotográfica de jovens que sonham, desejam, criam, é uma celebração aos 20 anos do Projeto Olho Vivo, projeto que transcende as barreiras da fotografia.

Nesta exposição, é revelada uma jornada emocional e íntima através das lentes de talentosos jovens que se erguem diante de nós e nos convidam a celebrar as duas décadas de Olho Vivo, e também o poder da perseverança, do amor pela comunidade e da capacidade de criar beleza em meio a desafios.

Cada fotografia é um tributo à resiliência, à criatividade e à paixão desses 24 jovens fotógrafos que saíram pelas ruas com sensibilidade no olhar, pelas vielas e casas que moldaram suas vidas. Cada clique da câmera é um testemunho do desejo de documentar a verdadeira essência do Caramujo.

A exposição “Made in Favela – O mundo é nosso” está em exibição na sede do Instituto JCA, que fica na Rod. Prefeito João Sampaio, 2501 – Baldeador, em Niterói.

O projeto é uma realização da Bem Tv com parceria do Instituto JCA, apoiado pela Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria Municipal das Culturas, da Fundação de Arte de Niterói e da Secretaria Municipal de Fazenda, com recursos via Lei de Incentivo Fiscal do município.

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