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A difícil vida do morador de Niterói entre 50 mil motos nas ruas da cidade

Por Redação
| aseguirniteroi@gmail.com

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Dez situações de desrespeito às regras de trânsito (e ao morador de Niterói) flagradas no dia a dia pelo jornalista Giovani Faria
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Aumento do número de acidentes com motos levou Ecoponte a fazer campanha de segurança. Foto: Arquivo

Niterói tem 300 mil carros. A cidade convive com esta ocupação faz tempo, a prioridade por aqui não é do pedestre.

Mas a situação tem se agravado nos últimos anos com o aumento considerável de motocicletas que trafegam na cidade.

O Crescimento da Frota de Motos em Niterói

Já são cerca de 50 mil. Uma boa parcela em decorrência do aumento da demanda de serviços de entrega, a partir da pandemia.

Desrespeito às Regras de Trânsito

A mudança aparece nas estatísticas com o aumento do número de acidentes. Mas também com um desrespeito recorrente às regras do trânsito – e muitas vezes, da civilidade.

Por exemplo:

  • O barulho alto dos motores
  • O barulho alto das motos que trafegam com o escapamento aberto para alertar os carros de sua presença, em velocidade
  • O avanço de sinais
  • As ultrapassagens perigosas
  • A invasão das faixas de proteção do pedestre e, algumas vezes, das calçadas

Leia mais: Número de motocicletas em circulação em Niterói explode depois da pandemia

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Congestionamento intenso nas ruas. Foto: Pexels/Kaique Rocha

10 Cenas que Revelam o Desrespeito e a Imprudência

O jornalista Giovani Faria, colunista do A Seguir, que observa em suas Andanças a vida na cidade que escolheu viver há quase 50 anos, fez um desabafo depois de tantos “atropelos”.

Ele listou dez cenas que exibem a conturbada relação de motociclistas e moradores. 

Cena 1

A moto avança o sinal vermelho na Gavião Peixoto. O pedestre, já no meio da rua, se esquiva e xinga o condutor.

Este, ato súbito, retorna na contramão e, duplamente errado, vai tirar satisfação com quem estava certo.

FDP é o senhor!

E parte lépido e fagueiro com seu animal de aço, em ziguezague.

Cena 2

A moto para no sinal vermelho na Praia de Icaraí. O guarda de trânsito não tira os olhos do celular. O condutor passa sem acelerar, de fininho, fingindo-se de morto, embora vivíssimo, nas costas da autoridade.

Malandro é o gato.

Cena 3

A moto buzina, buzina e buzina enquanto tenta passar entre dois carros. Mas esbarra no retrovisor de um deles.

O motorista grita, tenta tirar satisfação, mas o apressadinho vai embora, empinando a moto, sem capacete e com vistosas sandálias havaianas vermelhas.

Cena 4

A buzina não é estridente, mas repetida três vezes chama a atenção do pedestre que caminha junto ao muro do Campo de São Bento, em plena calçada.

A moto pede passagem por ali, já que não havia espaço no asfalto tomado de carro da Lopes Trovão.

Pode isso, Arnaldo?

Cena 5

O motorista do carro sai da garagem na Herotides de Oliveira e, numa rua de mão única, dá de frente com uma moto na contramão.

A batida não ocorre por centímetros. Errado, o homem do capacete ainda brada:

Preste mais atenção, chefia!

Cena 6

Uma moto para sobre a faixa de pedestre, outra faz o mesmo. Uma senhora reclama.

-Está falando comigo, vovó? – tripudia o gênio da raça.

-Não está vendo a faixa de pedestre? – indaga a senhora, com um misto de ironia e cordialidade.

-Tanto vi que parei sobre ela. Vá para a PQP, veinha – exalta-se, antes de arrancar na segunda marcha, balançando a cabeça.

Cena 7

Com uma mão no guidão e outra agarrada no celular em viva-voz, o capacete vermelho ignora o sinal de mesma cor.

Passa tranquilamente, como se não houvesse amanhã, em plena Paulo Gustavo.

O guarda olha, mas não vê. Faz vista grossa. Afinal, também estava no celular.

Cena 8

Na Domingues de Sá, a moto entra na contramão em plena Gavião Peixoto, para acessar a Octávio Carneiro.

Um senhor observa e reclama com o autor da manobra absurda. E leva para casa uma resposta enviesada.

-Por aqui eu corto caminho – justifica-se o dono da rua.

Cena 9

Sem silenciador, a moto de 300 decibéis acelera para furar mais um sinal vermelho – não será, jamais, o último.

O verde já saiu de cena, o amarelo teve sua vez, e agora o vermelho já brilha a cinco metros do chão – mas a moto nem dá sinal de que vai reduzir a velocidade.

Peralá: mas o sinal tem câmera e, enfim, ele será multado.

Esquece, meu caro.

Ato súbito, em meio a olhares dos pedestres, o capacete azul vira o corpo para o lado, estica a mão esquerda e tapa a placa traseira do possante de duas rodas.

E vai embora, com um risinho sarcástico.

Cena 10

Na mesa da padaria, café com leite, pão com manteiga e três capacetes.

A conversa rola num tom que permite que todos ao redor ouçam. Um festival de bravatas:

  • Eu não paro em sinal vermelho. É perda de tempo – gaba-se um deles.
  • Moto é como bicicleta: faz o que quer – brada o segundo.
  • Faço muita “M” (com letra maiúscula), nunca fui parado em blitz, jamais fui multado – sentencia o terceiro.

 

Veja a coluna Andanças: Presta atenção, chefia!

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