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A cada 100 mortos pela polícia do Rio, 87 são negros, afirma estudo

Por Gabriel Mansur
| aseguirniteroi@gmail.com

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Polícia carioca foi a que mais matou gente entre os sete estados monitorados em relatório; Niterói registrou 60 mortes
Operação no Complexo do Alemão deixou 19 pessoas mortas. Foto: Sema Souza/Voz das Comunidades
Operação no Complexo do Alemão deixou 19 pessoas mortas. Foto: Sema Souza/Voz das Comunidades

No Rio de Janeiro, das 1.214 pessoas mortas em decorrência de intervenção de agentes do Estado em 2021, 1.060 eram negras (696 pardas e 364 pretas). O número representa 87,3% das ocorrências, quando são descartados os casos em que a raça da vítima não é informada. A informação aparece no relatório da Rede de Observatórios de Segurança,  “Pele alvo: a cor que a polícia apaga”, publicado nesta quinta-feira (17).

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A proporção de negros assassinados durante ações policiais chama atenção pela diferença em relação ao total da população negra no estado. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,7% da sociedade fluminense se declara negra.

A polícia que mata

Em números absolutos, a polícia carioca foi a que mais matou gente entre os sete estados monitorados pela Rede de Observatórios de Segurança, de acordo com o documento.  A capital segue liderando as estimativas, com 458 registros, seguida, no estado do Rio, por São Gonçalo, com 209, e Duque de Caxias, com 114. Niterói é a quinta colocada, com 60 vítimas.

O relatório aponta que a taxa de letalidade policial é ainda mais alarmante pelo fato de ter sido levantado em plena pandemia, em meio a uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que restringiu a realização de operações policiais em comunidades do Estado.

Moradores do Complexo do Alemão fazem protesto pacífico pedindo paz na comunidade. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

– Importante frisar que as mortes no Rio de Janeiro, contadas na casa do milhar, ocorreram em plena pandemia, quando diversos indicadores tiveram reduções, inclusive os de homicídios e roubos em vários estados. No caso do Rio, existe a agravante de que as 1.356 mortes de 2021 ocorreram em desrespeito à determinação do Supremo STF de que operações policiais só poderiam acontecer em situações excepcionais – diz o relatório.

“Racismo declarado”

O estudo desenvolvido pela Rede de Observatórios da Segurança avaliou dados de sete estados brasileiros: Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao g1, o coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança, Pablo Nunes, fala em um racismo declarado, “que se pratica com a anuência de autoridades e a naturalização de boa parte da sociedade”.

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– Em todos os estados analisados, eles (negros) estão mais representados entre o total de pessoas mortas do que na população geral. Isso evidencia uma estrutura brasileira de reprodução do racismo e de certa aceitação dessas mortes por meio da sociedade – ressaltou.

“Operação de Guerra”

Bruno Paes Manso, pesquisador da Rede e do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP) e um dos responsáveis pelo estudo, revelou ao Brasil de Fato que o Rio de Janeiro é  “diferente” dos outros estados, porque as forças de segurança atuam com estratégias de operação de guerra nas comunidades. 

– Ao contrário dos outros estados, onde o patrulhamento da polícia no geral está mais ligado a prisões em flagrantes ou mesmo revistas em determinadas circunstâncias, um tipo de patrulhamento mais preventivo, o Rio de Janeiro é o único estado em que a Polícia Militar opera com estratégias de operação de guerra – ressaltou.

Rio de Chacinas

Etimologicamente, a palavra chacina significa o ato de esquartejar e salgar porcos. No Rio de Janeiro, historicamente, o termo assume um sentido político entre moradores de favela, utilizado para classificar massacres, sobretudo de civis. Quanto a isso, uma forma de definir as chacinas parte de uma perspectiva estatística e considera toda ação policial com três ou mais mortos civis enquanto tal.

Ano após ano, o Rio se notabiliza pelo grande número de chacinas quando o assunto é segurança pública. Marcado por incursões desastrosas das polícias que sobem favelas e deixam um número altíssimo de corpos, o Rio de Cláudio Castro (PL) registrou, em 17 meses – desde maio de 2021 – três das quatro operações mais mortíferas de toda a história.

Governo de Cláudio Castro é recordista em chacinas. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A mais letal entre todas as ações envolvendo agentes públicos aconteceu no Jacarezinho, na Zona Norte, em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram. Um ano depois, em maio deste ano, 25 pessoas foram assassinadas durante uma operação policial na Vila Cruzeiro, também na zona Norte. O último caso registrado foi em 21 de julho de 2022: uma ação no Complexo do Alemão deixou 19 mortos.

Principais números do estudo:
  • O RJ é o estado que mais produz mortes em ações e intervenções das polícias
  • O Rio de Janeiro teve 1.356 mortes em 2021 durante ações policiais. Em 2020, foram 1.245 mortes
  • Entre os mortos pela polícia, 87,3% são pessoas negras
  • A população negra no RJ representa 51,7% da população do estado
  • A capital carioca também é a que registrou o maior número total de mortes, com 458 registros

Niterói

Das 56 mortes causadas – e identificadas – por agentes do estado em Niterói, 44 eram negras (29 pardas e 15 pretas). Segundo relatório do Instituto Segurança Pública (ISP), todas as vítimas eram homens.

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A maioria, 65%, tinha entre 18 e 29 anos. Ao mesmo tempo, 10% dos mortos tinham entre 12 e 17 anos, ou seja, eram menores de idade, e 13,3% tinham entre 30 e 59 anos. O mês de junho teve a maior taxa de ocorrências: 11.

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