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60 anos de uma tragédia: as lições do incêndio do Gran Circo Norte Americano

Por redação
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Lona com parafina e saídas bloqueadas teriam colaborado com grande número de vítimas
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Nesta sexta-feira (10), foram condenados quatro réus no julgamento do incêndio da Boate Kiss,  que matou 242 pessoas e feriu mais de 600 em 2013. Algumas das primeiras evidências das investigações apontaram que os extintores de incêndio não funcionavam, e que não havia saída para emergência, o que aumentou o número de vítimas da tragédia. Para o jornalista Mauro Ventura, autor do livro “O espetáculo mais triste da Terra: o incêndio no Gran Circo Norte Americano” (Editora Companhia das Letras, 2011), a falta de estrutura para prevenir e combater as chamas também foi o que provocou tantas mortes e feridos. A tragédia de 17 de dezembro de 1961, a maior da história da cidade, e que este mês completa 60 anos, foi causada por um funcionário temporário ressentido por ter sido demitido.

Ventura contou ao A Seguir: Niterói que a ideia de debater o episódio novamente é tentar evitar que novas tragédias parecidas ocorram, mas lamenta que a o tempo faça as pessoas esquecerem a dor do luto, e a negligência cause novos dramas como o do incêndio na boate em Santa Maria.

Divulgação

– Uma das razões que me levaram a escrever o livro foi mostrar toda a cadeia de acontecimentos que levou ao incêndio, pra que isso não se repetisse nunca mais. E como a gente viu, alguns anos depois do lançamento, com o incêndio da boate kiss, parece que a gente não aprendeu nada. Então, relembrar esse tema, depois de tudo o que aconteceu, com toda a responsabilidade, inoperância, todas as falhas, é importante, por que a gente te que mostrar que não dá pra aceitar uma coisa dessas -, explica o jornalista.

Ventura foi convidado a falar sobre o incêndio na Livraria da Travessa, juntamente com o Dr. Moyses Damasceno, presidente do Centro de Pesquisa e Inovação do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), para discutir o que ainda é possível aprender a partir da tragédia.

Tragédias que se repetem

Um dos problemas, semelhante ao que causou tantas perdas na boate Kiss, foi a estrutura inflamável e a falta de passagem para evacuar o público em caso de necessidade. O Gran Circo tinha capacidade para 3 mil pessoas, e estava lotado no dia do incêndio:

– Ele, por exemplo, tinha instalações elétrica precárias, uma lona altamente inflamável, a única saída, era obstruída por grades, então o fogo poderia não ter se alastrado e causado muito menos impacto se você tivesse por exemplo uma saída de emergência.

Revolução na medicina

O incêndio fez com que uma especialidade até então vista como futilidade no Brasil fosse vista com outros olhos: a cirurgia plástica. Mais de 800 pessoas ficaram feridas, e boa parte das lesões se deram pelo contato com o fogo. Foi quando entraram em cena dezenas de médicos para tratar ao menos as marcas que a tragédia deixara na pele:

O Paulo Knauss, professor e pesquisador da UFF, ele fala que ‘não é à toa que a cirurgia plástica no Brasil é tão desenvolvida. Ela teve nessa tragédia seu maior campo de pesquisa e experimentação na história’. O próprio [Ivo] Pitanguy dizia que essa tragédia mostrou a importância da especialidade dele, porque até então, a cirurgia plástica brasileira era vista pela população como algo cosmético. E essa tragédia mostrou que não.

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