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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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Uma deliciosa rua chamada Nóbrega

nóbrega placa 1

No Jardim Icaraí, entre a rua Lopes Trovão e a Avenida Sete de Setembro, a Rua Nóbrega vem se firmando como point gastronômico de Niterói.  De ponta a ponta, são cerca de 600 metros de comprimento. Porém, é ao longo de quase 400 deles que se concentram 23 estabelecimentos, neste momento. Juntos, oferecem um cardápio variado de comidas, bebidas e climas.

Dependendo do horário em que se passe por lá, é possível nem perceber essa vocação do local. Durante a semana, a Nóbrega, em geral, acorda tarde. A partir das 17h, portas começam a ser abertas, mesinhas e cadeiras ganham as calçadas e, quando a noite chega, a iluminação dos bares e restaurantes dão um clima especial para a rua.

Na Nóbrega, as placas não têm numeração e, às vezes, o endereço “oficial” do estabelecimento, não informa, de fato, onde fica. Um exemplo é o Fina Cerva. Consta que o bar especializado em cerveja artesanal, abastecido com 12 torneiras de chope, fica na Avenida Sete de Setembro 193. Porém, é na Nóbrega que está sua entrada, ladeada pela loja de salgados Delícias da Penha e a hamburgueira Bastardos, quase em frente ao tradicionalíssimo japonês Gendai – mais de 20 anos na rua.

É na outra ponta, na Lopes Trovão, que a Nóbrega começa sua numeração. Por lá, um delivery do China In Box reina solitário, há um bom tempo. O início da “farra” fica somente  duas quadras à frente, onde veteranos e novatos recebem um público de perfil mais jovem.

O mexicano Guacamole Taqueria (outro cujo “falso endereço” afirma ser Rua Miguel Couto 358) se instalou na Nóbrega há um ano. Ao seu lado, funciona a pizzaria Broto que chegou há três anos. Ambos são casas  hypes do outro lado da Baía que, agora, experimentam o sucesso também em Niterói.

Sócio da Taqueria, o carioca Edson Ribeiro tem dois restaurantes no Rio de Janeiro. Ele conta que não conhecia Niterói e foi para a Nóbrega atraído pelo amplo espaço do imóvel.

“Não conhecia a rua e me surpreendi positivamente, na verdade, a Nóbrega está superando as minhas expectativas”, diz ele que tem comemorado a casa cheia, neste momento de retomada das atividades na cidade.

Na Broto, o gerente Matheus Campista conta que a marca escolheu a rua para sua experiência em Niterói porque o local já estava se tornando um point, antes da pandemia.

“Somos bem conhecidos e poderíamos ter ficado em um local mais isolado. Mas preferimos ficar onde seríamos mais vistos. Juntos, viramos um coletivo e isso é mais legal”, afirma ele.

Naquele canto, quem ocupa mesas na frente de um estabelecimento pode pedir o cardápio de qualquer outro. Sem estresse. Isso inclui a hamburgueira que fica mais escondida, no primeiro andar do número 90 e até a pizzaria 00, que se encontra um pouquinho mais afastada desse  quadrilátero.

O veterano do local é o Dona Cevada, outro bar especializado em cerveja artesanal, com dez torneiras de chope. Há cinco anos na Nóbrega, Hugo Horta conta que, nesse tempo, já viu muito abre e fecha de restaurante, no entorno. Ele lembra que, quando chegou, a rua era “meio parada” e, aos poucos, outros foram se instalando.

No final de semana, aquele canto da Nóbrega começa a funcionar bem mais cedo e a rua ganha ares de cidade do interior graças também ao deck, atualmente interditado para reformas (para tristeza das crianças).

Os advogados cariocas Pedro Amorim e Mariana Winter sabem bem disso. Eles se mudaram há seis meses do Rio para Niterói. Moradores do Jardim Icaraí, logo descobriram a Nóbrega e se encantaram:

“Na Nóbrega a gente se sente em casa. A gente não sai daqui. A Nóbrega é o nosso quintal”, afirma Mariana.

Há quem tenha mais de 20 anos de rua como o Torninha (25) e o, agora, Novo Steak House (23). Em comum também é o fato de abrirem cedo. Ou seja, almoço garantido. Mais recentemente, o pequeno Torninha, especializado em comida italiana, ampliou seu espaço com mesinhas na calçada com direito a um deck em frente que dá um clima de piquenique para o local. Ao seu lado, o grande Mamma Jamma, também com ares italianos, segue formando filas na porta.

Sobre o Novo Steak House, é bom que se explique que não se trata de uma continuação do tradicional Steak que fechou as portas, em Icaraí. O lugar, que já se chamou Novo Século e Nóbrega, pertence todo esse tempo à mesma família.

“Quando o Steak fechou, em 2018, vimos a oportunidade de adaptar o cardápio deles e mudamos o  nome em função disso. Fomos procurados por alguns ex-funcionários do restaurante, em busca de emprego. Então, cinco deles trabalham, atualmente, conosco”, explica Ricardo Perez, a  segunda geração da família no comando do restaurante.

Nessa retomada, ele fez algumas modificações no cardápio, que ainda tem no churrasco misto seu best-seller. As novidades incluem a criação de itens típicos de comida de boteco, como sanduíche de pernil, empadinhas, croquete de carne e bolinho de bacalhau. Seu objetivo é atrair, de volta, o público que costumava frequentar o local à noite. Na sua opinião, o hábito do delivery, implantado durante a pandemia, deixou as pessoas com preguiça de sair de casa.

Pertinho dali, a Casa di Lucy também reabriu as portas com novidades. A principal delas é o horário – passou a “acordar” mais cedo e é mais uma opção, na rua, para almoço. O restaurante mal tinha inaugurado e teve que fechar as portas por conta da pandemia.

“A gente se reinventou no delivery, que não iríamos fazer, inicialmente. Agora, vou manter e até aumentar esse serviço”, conta Alberto Sauerbrounn.

Niteroiense, ele tem outros dois restaurantes no Rio de Janeiro, mais precisamente em Ipanema, mais precisamente, um do lado do outro: Cantina da Praça e Mercearia da Praça (no caso, a General Osório), especializados, respectivamente, em cozinha italiana e portuguesa.

O de Niterói, segundo diz, é uma “casa de vó”, ou seja, serve de tudo um pouco. Os pães são feitos lá mesmo e a pizza é de fermentação natural. Entre as cervejas, a artesanal Noi, de Niterói, marca presença no cardápio. O nome é uma homenagem a sua mãe, falecida em 2018.

Foi o imóvel, que ainda guarda as características de uma casa, que o levou para a Nóbrega. Aliás, é o fato de ainda haver muitas casas e ser uma rua de pouco trânsito de veículos que explicam essa nova “vocação” gastronômica da rua.

Na Nóbrega, tem loja de roupa com barzinho no fundo (Colabora Nóbrega, com cerveja artesanal Masterpiece, de Niterói), um pequeno espaço que funciona somente como delivery de pizza (Nikiti Pizzaria), uma barbearia que se transforma em bar, à noite (Seu David), restaurante a quilo (Dio), um empório ao lado de uma loja de doce. Tem até açougue, que faz parte do Meatpacking. Lá, você pode comprar a carne e levar para casa ou pedir para fazer na hora, na brasa do restaurante.

Os sócios do Meatpacking aproveitaram a pandemia para se mudar da rua João Pessoa para a Nóbrega.

“Estávamos muito sozinhos e gente gosta de ver gente. Quando vimos o espaço disponível, não pensamos duas vezes e nos mudamos”, conta o sócio Guilherme Calil.

Seu restaurante se “emenda” com o Boteco Confraria (outro que abre cedo). A casa é uma das pioneiras no que veio a se tornar o primeiro polo gastronômico do Jardim Icaraí: a pequena rua Leandro Motta – que começa (ou termina) na Nóbrega, pertinho do Fina Cerva.

Mas, afinal, quem é esse Nóbrega? Os comerciantes não sabem e a prefeitura de Niterói (via assessoria de imprensa) também não soube responder. Quem souber de quem se trata, me conta.

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