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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
Publicado

Um roteiro por três estreantes do Comida di Buteco Niterói

comida di buteco 24

Um quilombo urbano, um local que divide espaço com uma igreja e um petisco transformado em manifesto. Muito resumidamente, esses são os “climas” de três bares estreantes no Comida di Buteco Niterói 2024. Lupulinário visitou esses lugares para conhecer algumas das novidades (para ela) do evento. Localização fora do “circuito convencional” e diversidade de propostas foram os critérios utilizados para montar esse roteiro.

Confira

Quilombo Urbano

 

No Centro de Niterói, o Nossas Raízes Bistrô, antes de participar do Comida di Buteco, abria apenas para almoço. O estabelecimento é conduzido por Francis Oliveira que, há 20 anos, comanda um buffet. Foi o sucesso da sua comida que a animou a abrir um restaurante. O cardápio é enxuto e reproduz receitas das matriarcas da família.

A feijoada é a estrela da casa, que sempre tem também três tipos de Angu (à Baiana, com costela e agrião, de frango com quiabo). Dentre as sobremesas, o saudoso manjar de coco com calda de ameixa é o protagonista.

O restaurante abriu pouco antes de começar a pandemia do Coronavírus. O delivery sustentou o negócio até poder voltar a receber o público. O clima de quilombo urbano foi construído carinhosamente por Francis, ao longo do tempo:

– Em 2015, visitei o quilombo de São José da Serra, em Valença (RJ) e me senti em casa. Fui direto para a cozinha ajudar a fazer a feijoada. Quis trazer um pouco daquela energia para o meu restaurante e meu ponto de partida foi justamente a feijoada – contou ela que toca o negócio ao lado da família.

Para o Comida di Buteco ela criou o petisco Batuke na Cozinha: Bolinho de arroz com pupunha, banana da terra e carne seca acompanhando de molho de pimenta. Endereço: Rua Visconde de Sepetiba, 66, loja A, Centro. Telefone: (21) 98873-5260

 

 

 

Ache a igreja

No Fonseca, o Alhos e Bugalhos tem pouco mais de um ano de funcionamento. A marca, porém, é bem mais antiga. O negócio da chef Paula Simões e seu marido Bernardo Godinho começou com a venda de sanduiches feitos em pão de alho, em eventos.

Advogada por formação, Paula se encontrou profissionalmente, mesmo, foi na cozinha. Já teve empresa de comida congelada, mas a proposta de montar uma sanduicheria lhe despertou uma certa água na boca.

– Era para ter apenas sanduíche no cardápio, mas as pessoas começaram a pedir comida. Então, resolvemos virar um bar, do tipo que nós gostamos de frequentar: com comida boa, cerveja gelada e clima de quintal de casa – afirmou Paula.

Os sanduiches de pão de alho (receio de coração, linguiça ou picanha) estão firmes e fortes no cardápio bem como bolinhos como o de pernil com abacaxi ou feijoada e os hambúrgueres no pão de brioche com pasta de alho.

Quem chega no estabelecimento, nem imagina que o local divide o espaço com uma igreja. Isso mesmo! Uma grande porta de ferro preta, no pátio,  “esconde” um local sagrado para os evangélicos. Sim, eles sabiam que tinha uma igreja no local que, inclusive, era a dona do local que estava sendo oferecido para alugar para o bar.

Ficou acordado que os cultos seriam realizados nos dias e horários em que o bar não funcionaria. E assim está sendo.

Para o Comida di Buteco Paula criou o petisco Jilomenal:  Barca de jiló branqueado e empanado, recheado com costela desfiada e cream cheese, coberto com muçarela gratinada.

Esse petisco foi um verdadeiro desafio para a Lupulinário, que  não gosta de jiló. Admito que fui “convertida”.

Endereço: Rua Desembargador Lima Castro, 66, Fonseca. Telefone: (21) 97237.7372

Manifesto

No Ingá, o Armazém 7 é o primeiro bar assumidamente LGBTQIA+ de Niterói. Não foi criado com a intenção de “marcar território”. Porém, casos de homofobia contra o local acabaram por levar seu proprietário, Leonardo Souza, a colocar uma orgulhosa bandeira do arco-íris na frente do estabelecimento.

Publicitário por formação, ele e o marido e outro casal montaram um primeiro negócio em Maricá. Era um depósito de bebidas que, aos poucos, passou a vender de tudo um pouco, a pedido dos moradores da região. O nome Armazém vem dessa ideia de oferecer produtos diversificados. O sonho, mesmo, era montar um bar.

– Queríamos montar um bar que vendesse comida boa, com cerveja gelada e preço justo. Um bar para um público diverso, onde todos pudessem se sentir confortáveis.  Porque, por mais que a gente fosse para qualquer tipo de bar, existia uma cobrança , a gente não podia demonstrar o nosso amor.  Antes de surgirem os bares LGBTQIA+,  no Rio, você era fadado a ir a boates ou saunas. Mas são propostas diferentes de sentar em um bar e tomar uma cerveja – contou Leonardo que, atualmente, comanda o estabelecimento com a ajuda do marido.

No cardápio, além de petiscos, tem refeição como o pra lá de caseiro feijão, arroz, bife, batata frita e farofa ou filé de tilápia com molho de camarão.

O local funciona há cerca de três anos. Quando chegaram, a recepção foi das melhores porque, em frente, existe uma casa de militantes da causa lgbtqia+ e eles começaram a frequentar o bar com assiduidade. E o local começou a atrair esse público. Aos poucos, Leonardo foi recheando a programação do bar com ingredientes da cultura lgbtqia+ . Os shows protagonizados por drags se tornaram sucesso.

Foi quando as hostilidades começaram por parte de outros vizinhos que, dos prédios, jogavam água nos frequentadores  e chamavam a polícia a todo momento.

– Um dia, uma agente da Ordem Pública deu um show. Falou que estava ali “por causa daquele bando de viados”. Isso viralizou na internet e nós postamos uma nota de repúdio. Em seguida,  assumidamente, colocamos uma bandeira no bar e nos tornamos um bar lgbtqia+, o único de Niterói.

Para o Comida di Buteco, Leonardo criou o petisco O Escondidinho dentro do Armário : Escondidinho de Batata Baroa com Costela e Catupiry.

O petisco foi alçado à condição de manifesto ao ser servido dentro de um armário de madeira. Para apreciá-lo, é preciso tirá-lo do armário. Abrir o armário tem sido um dos momentos mais “instagramáveis” do concurso.

Endereço: Rua Visconde de Morais, 270, bloco C, loja 006, Ingá. Telefone: (21) 99970-3590

 

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