São Pedro, protegei-me!
Não estou pedindo muito. Esse andarilho é sempre moderado nos seus pleitos, desejos e preces. Mas olhe para mim, nem que seja de rabo de olho. Zele por mim, mas sem qualquer exclusividade. Sei que estás sempre ocupado. E muito, já que cuida do bom destino de milhões de pescadores mar afora, mar adentro. Eu, que nunca pesquei na vida e não distingo xerelete de sardinha, sou apenas um… pisciano.
São Pedro, protegei-me!
Mas vou explicar o que quero, o que passa nessa alma atormentada. E tenho certeza que compreenderá meu dilema. E que me ajudará, como aos seus protegidos, de tempestades em alto-mar, de vendavais, de monstros das profundezas dos sete mares. Confio em ti.
São Pedro, protegei-me!
Agora, o anzol está pronto e vamos logo atirar a isca nesse mar de mistérios. Chega de esperar que as ondas assustadoras se transformem em marolas infantis. Peço sua bênção para algo simples, banal, frugal… algo que talvez, numa primeira avaliação aí no pátio celestial, reagirás com uma sonora gargalhada ou, ao menos, um riso frouxo.
São Pedro, agora direto ao ponto: sou um caminhante, um peregrino, um andarilho, um arrasta-botas por esse mundão de seu chefe, Deus. Mas não quero levar a ele, na minha insignificância, aquilo que pedirei diretamente a você. E perdoe-me chamá-lo assim, com tanta intimidade. Tenho um pouco de vergonha. Acho que o criador cuida de coisas mais elevadas.
São Pedro, o que lhe peço tem a ver com uma de suas obras terrenas, construídas pelos homens, seus fiéis seguidores, seus protegidos, aqueles desbravadores dos oceanos que vivem no perigo, que enfrentam a noite, que são duros e valentes nas adversidades.
São Pedro, me ajude nessa petição. Quando chego ao mercado de peixes que leva seu nome, ali no Centro de Niterói, perco a bússola de meus passos, meu caminho vira um perigoso atalho rumo ao prazer de carne. Da carne branca, diga-se de passagem.
Subo as escadas atraído pelo burburinho incessante e me perco quando encontro aquele mar de gente falando alto em mesas espremidas em corredores estreitos. Sou atraído por essa isca num anzol imaginário. Da proa à popa daquele segundo andar do mercado que leva seu nome, só vejo alegria.
São Pedro, protegei-me do pecado da gula por sardinha frita, robalo assado, cherne com alcaparras, linguado-de-qualquer-jeito, anchova-com-qualquer-acompanhamento, camarão na moranga e por aí vai.
Sobre a cerveja gelada, São Pedro, deixa que falo sobre isso diretamente com Deus.
Viva o Mercado São Pedro, sempre no meu caminho!