30 de abril

Niterói por niterói

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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Um abraço, Luiz Antônio Mello: Niterói te agradece

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Luiz Antônio Mello, criador da Maldita FM

Luiz Antônio Mello, antes de ser jornalista, diretor de rádio, produtor musical, escritor, roteirista, agitador cultural e todas as atividades que abraçou, era um apaixonado por Niterói. Daquelas raras pessoas que, tendo na vida todas as chances de ganhar o mundo, fincou pé na cidade e não trocava a caminhada na orla, a praia, a Gruta de Santo Antônio e o Caneco do Mário, por lugar nenhum do planeta. Uma paixão recíproca, porque a gente era capaz de se reconhecer em Niterói apenas por cruzar com ele na rua e trocar cinco minutos de conversa. Era parte da cidade, como Itacoatiara, o Parque da Cidade e o italianinho.

A voz de Niterói atravessou a baía e cruzou todas as pontes nas ondas da Rádio Fluminense, a Maldita – a irreverente criação de Luiz Antônio, que mudou a música brasileira para sempre, e a auto estima do morador de Niterói. Foi quando Niterói, ainda sofrendo com a fusão e a perda dos recursos da Capital, passou a ser legal. Luiz Antônio era legal. A história era tão boa que virou filme, há pouco tempo. Que bom que Luiz  Antônio teve chance de ver, de se ver, antes de nos deixar aos 70 anos. Tão fascinado, e talvez incrédulo, que assistiu dezenas de sessões seguidas, como se estivesse surpreso com a obra que criou. Dezenas de sessões é parte do exagero, um traço pessoal.

Jornalista da Rádio Jornal do Brasil, aceitou o desafio de assumir o controle da rádio. Comprou “válvulas”, no tempo que existiam válvulas, com o dinheiro do próprio bolso, para botar a rádio no ar. A Radio Difusora Fluminense antes transmitia o turfe, corridas de cavalo. Não havia um único disco na emissora. Os discos que inauguraram a programação eram os que tinha em casa. Os LPs do Led  Zeppelin deviam ter sulcos no vinil de tão tocados. Era sua música favorita. Depois a rádio começou a tocar as novas bandas de rock que surgiam na cena carioca com o fim da ditadura e o surgimento do Circo Voador. Lobão &  Cia. Um estouro com a Blitz. As promoções inusitadas atraiam os jovens, até a transmissão do Rock in Rio com fichas de orelhão… Mas isto está tudo no filme.

Luiz Antônio Mello trabalhou no sistema Globo de Rádio, foi colunista do Jornal  do Brasil e do Estado de São Paulo e, se pulou de um emprego para outro, não abriu mão de Niterói. Até perceber que não tinha saída. E montar escritório no Steak House, enquanto existiu. Fez muita coisa pela cidade, na cultura, no turismo e até na gestão pública. Estava, finalmente, onde sempre quis estar. Cidadão pleno de Niterói, fazendo blog, criando na Rádio LAM, escrevendo na Tribuna.

Entre tantas lembranças, guardo a imagem do início dos anos 80 do fusca sempre cheio, voltando do Jornal do Brasil  com a turma de Niterói e quem ia para a UFF. Led Zeppelin a todo volume.  Deveria tocar Stairway to heaven. Só me dou conta agora dessa simbologia. Para Luiz Antônio Mello, era o caminho para o paraíso.

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