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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Rodrigo Neves sai da eleição maior do que entrou

29.10.22 - Rodrigo Neves - LulArte em Niterói - Crédito Divulgação 3 (2)
Rodrigo Neves no último ato da campanha, na pria de Icaraí, sábado, 29 de outubro. Foto: divulgação.

O ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), sai da eleição com um resultado melhor do que os 8% , ou 672.291 votos que conquistou na disputa pelo Palácio Guanabara, em que ficou atrás do governador reeleito Claudio Castro (58,69%) e do candidato apoiado pelo PT, Marcelo Freixo do PSB (27,39%). Numa eleição polarizada, Rodrigo Neves ficou encaixotado entre Lula e Bolsonaro buscando uma terceira via que o candidato do seu partido, Ciro Gomes, jamais viabilizou, até brigar com seu próprio eleitor e amargar a pior votação que teve em todas as suas participações, com pouco mais de 3% dos votos, em quarto, atrás da senadora Simone Tebet, do PMDB.

No segundo turno, ao contrário de Ciro que se recolheu ao próprio rancor, Rodrigo soube se reiventar e emprestar apoio a Lula desde o primeiro momento. A  última imagem do ex-prefeito na campanha, sábado, em Niterói, não é de quem perdeu a eleição, mas de quem soube se reposicionar politicamente e terá papel importante no cenário da política fluminense.

Rodrigo Neves costurou alianças importantes além do território de Niterói, que reconheceu seu trabalho em oito anos de governo, elegeu seu sucessor, Axel Grael no primeiro turno e lhe deu vitória na cidade.

Se aproximou do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que tentou o quanto pode se esconder da eleição, espremido entre Castro e Freixo. Chegou a se aproximar de Castro, mas o inegável viés bolsonarista do candidato, interrompeu o flerte. Nâo queria Freixo, que via como adversário no território da Centro-esquerda. Inventou o ex-presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, mas depois buscou uma aliança com Neves. No seu estilo fanfarrão, anunciava “o melhor prefeito do Brasil”, mas não foi tão generoso na abertura de palanques  na capital. No apagar das luzes, foi salvo do ostracismo pela grosseria do ataque de Bolsonaro, que o devolveu ao topo dos memes, onde costuma se desempenhar bem.

Neves convocou manifestações para Lula em Niterói, Itaboraí, São Gonçalo e outros municípios da região. Levou Lula a São Gonçalo, território bolsonarista e evengélico que parecia interditado ao candidato. Fez caminhadas com Tebet, Freixo, o deputado Alexandre Molon, e o ex-prefeito de Maricá, Washington Quaquá. Assumiu um protagonismo na Região Metropolitana II, esta em que Niterói se insere e remete à configuração do antigo estado do Rio, com influência até Campos.

Numa eleição para o Palácio Guanabara que foi comandada pela aliança de Castro com os prefeitos da Baixada Fluminense, com a milícia e com o voto evangélico, Rodrigo Neves sobreviveu. Aos 48 anos, ganha estatura política como um dos personagens da política fluminense.

A vida política de Rodrigo, no entanto, não será tão fácil quanto pressupõe o desempenho na eleição. Quadro do PT no início da carreira, amarrado ao PDT, terá que articular bem seu posicionamento partidário. Enfrenta alguma resistência dentro de um partido, porque saiu no momento do mensalão, e no outro porque não tem o lastro do Brizolismo. Embora Ciro também não o tenha e chegou a ser advertido pelos dirigentes históricos, que cobravam declaração de apoio a Lula. A reorganização do PDT, que se fará necessária, pode ser decisiva para os movimentos do ex-prefeito.

Niterói, por outro lado, sai com boa representação na Assembleia e quadros políticos importantes, que subiram no mesmo carro de som que Rodrigo, na praia de Icaraí para defender a democracia, apesar de divergências partidárias: a deputada federal Talíria Petrone (PSOL), o deputado estadual Flávio Serafini,  Waldeck Carneiro, Chico D’Angelo (que lamentavelmente não se reelegeu), Leonardo  Giordano… até Felipe Peixoto (PSD), egresso do PDT e opositor de Neves nos últimos anos, subiu ao palanque. Ao final, uma boa notícia.

 

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