O então presidente Bolsonaro não só sabia como pediu e aprovou alteração na minuta de golpe apreendida pelos investigadores do atentado de 8 de janeiro de 2023. É o que descobriu a Polícia Federal. Pouco mais de um ano após a tentativa de golpe e o ataque ao Estado Democrático de Direito, as investigações chegam cada vez mais perto do ex-presidente e de seu séquito de assessores, inclusive generais do Exército.
Além da participação de Bolsonaro, este é o outro ponto importante da operação desta quinta-feira (8/2): são quatro generais quatro estrelas, três deles ex-ministros bolsonaristas, como alvos da ação. Contra eles há provas fortíssimas de participação na trama golpista, mostram as investigações da PF, que foram chanceladas pela Procuradoria Geral da República e pelo Supremo Tribunal Federal.
General Walter Braga Netto era vice na chapa derrotada de Bolsonaro nas eleições de 2022. Foi Chefe da Casa Civil e Ministro da Defesa. Como tal, não só participou da tentativa de golpe, segundo a PF, como pressionou pela punição a oficiais do Exército que relutavam a aderir ao atentado à democracia.
O outro general é nada menos que Augusto Heleno, íntimo do então presidente e Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência na gestão bolsonarista. Conhecia o capitão desde os anos 1970, quando o mais velho atuava como instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras. É apontado nas investigações também como integrante da chamada Abin Paralela, que fazia espionagens ilegais contra opositores do governo.
Paulo Sérgio Nogueira é outro general alvo da operação desta quinta-feira. Acabou virando Ministro da Defesa quando Braga Netto foi escolhido para vice na chapa de Bolsonaro à reeleição. Antes, fora Comandante do Exército nomeado por Bolsonaro no começo de 2021.
E ainda temos Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, general quatro estrelas, o único dos quatro que não foi Ministro de Bolsonaro. Segundo a PF, há fortes indícios de participação dele na trama golpista. As investigações chegaram a conversas dele com Mauro Cid, o assessor mais próximo de Bolsonaro, que também deu detalhes da tentativa de golpe em delação.
Há outros militares investigados. São 16 no total os alvos da operação de hoje que pertencem aos quadros das Forças Armadas ou estão na reserva. Alguns inclusive foram presos.
Contra os generais, porém, não há mandados de prisão. Ou não há ainda. Mas levá-los aos tribunais é começar, de fato, a mostrar ao país o que se passou nos quartéis e como chegamos às cenas dantescas de vandalismo que mancharam para sempre a história da democracia no Brasil.
(Deve ser intriga da oposição, mas nos bastidores de Brasília já comparam Valdemar Costa Neto a Al Capone, o gângster americano que acabou preso por sonegação de impostos. No caso do Chefe do PL, o partido de Bolsonaro, ele foi preso por posse ilegal de arma)