“Vergonha, vexame, humilhação” foi a manchete que fizemos no Globo, em 2014, diante do 7 a 1 para a Alemanha. O Brasil saía menor da Copa em casa, como sai o PSDB diante do fracasso das prévias para a escolha de seu candidato à Presidência da República.
Foram adiadas as prévias porque o aplicativo para a votação não funcionou em pleno 2021. Tamanha incompetência não podia ser pior para a democracia e o partido, que já teve relevância no país.
Partido grande que esteve no Planalto por dois mandatos e que não consegue um aplicativo, ordinário que fosse, para uma votação entre três opções não pode pretender comandar o país novamente. Não pode. Não deste jeito.
O adiamento revelou muito mais do que a briga de foice em que estão metidos os grupos no PSDB, representados na disputa pelos governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), tendo no meio, como incendiário, o deputado Aécio Neves (MG).
Desde que foi apanhado pedindo dinheiro a Joesley Batista, um dos donos da JBS, o ex-governador e ex-senador mineiro parece obstinado a se destruir. Não bastasse o que fez antes, é hoje um dos mais aguerridos parlamentares a atuar no Congresso em defesa de pautas que perpetuam tudo isso que está aí.
No caso das prévias tucanas, age pró-Leite porque é contra Doria e, como acusou o também pré-candidato Arthur Virgílio (AM), parece querer levar o PSDB para o Centrão.
O ex-prefeito de Manaus chamou o correligionário de “maçã podre que estraga as outras”, acusou o mineiro de apoiar pautas bolsonaristas no Congresso e afirmou que Aécio trabalhou para o fracasso das prévias porque “quer é um partido dele, com todo o estilo de um partido do Centrão”. O mineiro negou ter atuado contra as prévias e andou dizendo que Virgílio é “laranja do Doria”.
Com a guerra entre Doria, Leite e Aécio, o PSDB deve sair das prévias (se é que elas serão mesmo realizadas) ainda mais rachado e fraco do que quando começou o processo eleitoral interno. A divisão parece não ter retorno. O vencedor das prévias não unirá o partido, pelo menos não para 2022.
Parte da elite econômica e intelectual que apostava num candidato competitivo dos tucanos ainda como rescaldo de um casamento duradouro nos anos FHC, agora já não tem esperanças de que dessa briga saia uma real possibilidade de enfrentar o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT) em 22.
Como no 7 a 1, o vexame, a vergonha e a humilhação são uma pena. Não para o PSDB e os tucanos. Eles são os responsáveis pelo papelão do domingo passado. Mas para a democracia, para os partidos e o país. O Brasil precisa de escolhas internas democráticas em partidos fortes.
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O vexame é o exemplo que só piora as coisas, senhores tucanos, em meio ao descalabro atual. O informe “Estado global da democracia”, publicado esta semana pelo Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea), cita o Brasil como o país que registrou o maior declínio democrático ao longo do ano passado entre 150 países analisados