O engarrafamento faz parte da paisagem. Faz tempo que a enorme concentração de carros é um problema na vida de Niterói. São 300 mil veículos para uma população que encolhe e não chega a 500 mil pessoas. Fora outros milhares de carros e motos e ônibus de municípios que trafegam por estes lados, de passagem, especialmente do Rio, São Gonçalo, Maricá e Itaboraí. A cidade faz parte de uma Região Metropolitana e não dá conta de resolver sozinha todos os problemas, muitos deles de gestão do estado, como as barcas. Nos últimos dias, o assunto voltou ao debate público, anunciando que estamos a um ano da eleição de 2024 e está aberta a temporada de promessas. O plano do governador Claudio Castro de ampliar as linha de metrô, por exemplo, passa pelas urnas antes de chegar a qualquer lugar.
O governo do estado anunciou que vai contratar estudos de viabilidade para levar o metrô mais longe. Numa ponta, a Niterói e São Gonçalo. Em outra, até o Recreio dos Bandeirantes. O projeto passa por Niterói, como estava previsto desde os primeiros desenhos do transporte nos anos 70, mas, na verdade, deste lado da Baía de Guanabara, mira outros eleitores, digo, outras estações: São Gonçalo e Alcantara, território visado para a consolidação do projeto bolsonarista no estado, depois de conquistar a baixada fluminense. O estudo, provavelmente. não ficará pronto antes do fim governo de Castro, em 2026.
O Palácio Guanabara não tem contribuído muito para a solução do problema do transporte público. No que diz respeito a Niterói, é responsável de forma decisiva pela deterioração do serviço das barcas, que hoje transporta um quarto dos passageiros que transportou no passado, agravando a presença de carros nas ruas. A ponte já registra movimento equivalente aos dos momentos de maior trânsito na via. Enquanto isso, a solução do problema está empacada em outro estudo de viabilidade. Qual será o novo modelo de operação do transporte marítimo, com a saída já anunciada da CCR Barcas? Como vai funcionar a estação de Charitas? Como ficam as tarifas? Ninguém sabe.
Sem trem, sem barcas, na verdade também não temos ônibus. Pelo menos, não como solução para o transporte público. Hoje, as empresas de ônibus estão na justiça pleiteando aumento de tarifas, que dizem que deveriam custar R$ 6,50, e se ajustam aos custos do serviço da pior forma possível, reduzindo a frota em circulação. Em Niterói, tem sido frequente encontrar os pontos de ônibus da cidade sempre lotados, a qualquer hora do dia. E lá vai de novo, quem pode, tirar o carro da garagem. Uma pesquisa da Nittrans mostrou que os ônibus representam o principal transporte para apenas 25% dos moradores que responderam ao questionário. Não foi uma pesquisa com método, mas uma consulta aberta para colher dados para o desenho do plano viário da cidade, mas o número preocupa, é pouco mais que o dobro dos 12% que dizem que a bicicleta é o principal transporte.
Não há solução fácil a vista. Mas a proximidade do calendário eleitoral sugere que está na hora para se falar do assunto, enquanto estamos parados no engarrafamento que leva à próxima eleição.