Não sei por quê, mas sempre que a gente imagina o fim do mundo pensa em um lugar distante. Um cataclisma em outras terras, um calor insuportável que queima árvores e racha o chão, ondas gigantes que cobrem a terra. Deve ser influência do cinema americano, que povoa o imaginário da gente, e sempre encontra um herói para salvar o planeta. O problema é imaginar que Daniel Craig apareceria por aqui. A Prefeitura teria postado alguma coisa. Então, tudo parece distante. O mundo deve acabar mesmo em Los Angeles, Nova York ou Tóquio.
Mas estes dias que os termômetros marcaram 41 graus sem respeito ao final do inverno e início da primavera trouxeram o problema bem para perto de nós. Não foi só a sensação de falta de ar e de que não há sobra possível para conter o bafo do aquecimento global. Também apareceram estudos que mostram o impacto da aumento das marés sobre a cidade. Outro problema do imaginário construído pelo cinema americano. Você nunca verá um cientista debruçado sobre mapas de Niterói dando um alerta global. Mas um estudo da UFF botou a cidade no mapa da destruição global, como a repórter Sônia Apolinário mostrou no A Seguir.
Vai começar por Piratininga. Na verdade, a definição não é tão específica. O mar vai subir, em consequência do aquecimento global, e isso representa uma ameaça para 1/4 do território do município. São as Terras Baixas. O imenso litoral da cidade, nosso maior patrimônio: praia, paisagem e royalties do petróleo. Mas Piratininga está na mira por causa do aumento das marés que costuma derrubar o calçamento. Assim como Camboinhas, que já tem “barreiras” de contenção para enfrentar as ressacas.
Os avisos aparecem, a gente é que teima em não querer ver, como se não fosse acontecer nunca. Na conta da UFF, o cenário otimista bota parte de Niterói debaixo d’água até 2.100. Não é tanto tempo assim.
Mas para onde podemos correr? Para o Parque da Cidade, para a Serra da Tiririca…? Por sorte ainda temos as montanhas e as reservas de floresta. Difícil vai ser sair de Piratininga. Já não é fácil nos dias de praia e em alguns dias da semana, com até duas horas de engarrafamento… Imagine o trânsito no fim do mundo. Nem a rotatória que está sendo construída na entrada de Camboinhas vai resolver.
Diante de tudo isto, a melhor solução será trabalhar para conter o aquecimento global. É claro que nossas ações não serão suficientes para salvar o planeta. O mundo precisa se unir. Mas dá para começar a pensar a sério em reduzir emissões, cuidar do consumo consciente, evitar a poluição… Afinal, ninguém vai querer ficar engarrafado em Piratininga.