26 de dezembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
Publicado

O dia em que as luzes se apagaram

Moradores protestaram contra a falta de energia depois de mais de 48 horas de apagão em muitos bairros da cidade

Aonde você estava quando as luzes se apagaram, em Niterói? O apagão do sábado (18) deixou boa parte da cidade sem luz, depois que o vento forte derrubou o palco montado na praia de Icaraí para as comemorações dos 450 anos de Niterói. Parece um filme antigo, como aquele em que Hollywood retratou o apagão de Nova York e de boa parte da Costa Leste americana, em 65. Mas não teve graça, sem Doris Day.

O que se viu na cidade foi um festival de trapalhadas, incompetência e drama, capaz de acabar com a paciência do morador da cidade, que, em alguns bairros, depois de dois dias sem luz, desistiu das ligações para um telefone da Enel para incendiar pneus no meio da rua.

Vale recuperar algumas imagens, que nos marcaram no fim de semana. Lojas fechadas. Funcionários de bares e restaurantes sentados na calçada em Icaraí, São Francisco, Charitas, Centro, Fonseca, Pendotiba e outros bairros esperando a luz que não voltava. Casas sem luz ou sem internet, sem serviços de TV. Pouca gente foi poupada de algum tipo de transtorno. O telefone chamando no vácuo. Comerciantes e moradores jogando fora alimentos apodrecidos. Pessoas pedindo ajuda na internet para socorrer parentes que não poderiam sobreviver sem equipamentos de emergência. Protestos nas ruas. Barricadas nas ruas. Fogo nas ruas.

Quanto tempo é razoável esperar pela volta da energia? Duas horas, seis horas, 12 horas, 24 horas? Já são mais de 60 horas, dois dias e meio, e ainda há 31 mil endereços sem luz, nesta terça (21).

O pior é que tudo o que aconteceu, de certa forma, estava previsto. A Enel chegou a anunciar, há poucos dias,  um plano especial para enfrentar as emergências do verão, como raios, ventos e chuva, depois de ter passado pelos mesmos problemas em outubro. No mês passado, sim, caíram mais de 90 árvores e a cidade pareceu ter sido sacudida; desta vez, não,  cerca de 30 árvores foram atingidas. A empresa, investigada desde o primeiro semestre por uma CPI da Câmara Municipal, pela precariedade de seus serviços, chegou a divulgar, numa ação de marketing, que estava recolhendo fios soltos do emaranhado de cabos que expõe a cidade ao risco de curtos, panes e… falta de luz. Parecia tudo sob controle, até cair meia hora de chuva.

A Prefeitura parece ter dado a desculpa perfeita para a Enel, ao atribuir a queda do palco a ventos de 137 km/h. Ventou forte na Baía de Guanabara. Mas não houve vestígios de nenhum furacão em Icaraí. Não havia areia na pista, telhados voando, vidros quebrados, como já vimos outras vezes. Os quiosques da praia, que sabemos como são precários, não sofreram danos, nem os banheiros químicos colocados na calçada se moveram do lugar… Até os potes de água que os vendedores de coco botam para os cães que passeiam por ali ficaram no lugar.

O feriado protegeu a cidade de uma confusão maior, com muita gente viajando. E Arariboia deve ter um santo muito forte para não ter deixado que o aniversário de 450 anos de sua cidade tivesse se tornado uma tragédia maior. Os músicos convidados para o show de abertura no sábado só saíram do palco um minutos antes dele desabar.

Nesta terça-feira, a cidade tenta retomar a sua rotina. Ainda há muita gente ligando para a Enel e para a Prefeituras ou sentada na calçada esperando a luz voltar.  A questão agora vai ser que filme vai contar o que aconteceu para as luzes se apagarem.

 

COMPARTILHE