O Brasil volta a jogar nas quatro linhas, depois de tempos nervosos em que Bolsonaro sequestrou a camisa da seleção brasileira e ameaçou violar todas as regras do jogo político. Pelo menos no Catar. A Copa do Mundo tem a chance de resgatar a paixão dos brasileiros pelo futebol, embora o trauma da aventura autoritária ainda não esteja curado, enquanto o país assiste o fanatismo dos seguidores do presidente, rezando, marchando, fechando estradas, queimando caminhões e mandando mensagens para ETs para questionar o resultado das eleições e pedir um golpe militar. As ruas não estão enfeitadas como em outras copas e ainda não dá para abstrair e sair distraidamente com a camisa amarela. Mas é o Brasil em campo e o futebol tem este efeito de nos unir.
O Brasil entra em campo na quinta-feira contra a Sérvia. É a primeira seleção no ranking da Fifa. Não quer dizer muito, já passamos por isso antes. E tem um ataque renovado, Neymar, Raphinha, Richarlisson, Vinicius Júnior, Antony… E vai ter Galvão, gritando Brrrasil, cheio de erres, recuperado da Covid, que é outra preocupação que embarreira a nossa alegria. Por um momento teremos a chance de fantasiar a superioridade do drible brasileiro, deixando de lado os problemas que não conseguimos resolver e se agravaram nos últimos anos, inflação, desemprego, saúde, educação… A mudança de governo resgata a possibilidade de pensar o futuro. Torcer pelo Brasil vai nos botar no mesmo lado da arquibancada – e talvez ali a gente possa se (re)conhecer.