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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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O barato do terpeno na cerveja

cannabis indica (1)

Uma das características da cerveja artesanal é o uso dos mais variados ingredientes nas suas receitas. No Brasil, o uso de frutas, por exemplo, é mais do que comum.

Há cerca de três anos, um ingrediente “novo” começou a ser usado de forma um pouco discreta. Trata-se do terpeno que, no momento, já foi alçado à categoria de “modinha cervejeira”.

No segmento, a indicação que a cerveja leva terpeno é para dizer que é feita com um componente da Cannabis.

A primeira coisa a se esclarecer é que terpeno não existe somente na maconha.

– Terpenos são substâncias voláteis produzidas pelas plantas ou animais. Todo ser vivo produz terpeno, que são comunicadores sensoriais usados pelos seres da natureza. Feromônios são terpenos, por exemplo. As flores emitem terpenos para sinalizar para as abelhas que estão floridas e tem ali pólen para elas. O Linalol, terpeno muito usado pela indústria dos cosméticos, é o que dá o cheiro da lavanda. Esse é um terpeno que, para fins medicinais, tem efeito calmante em baixa dose e é sedativo em alta dose – explicou o niteroiense Bruno Teixeira, médico especializado em Medicina Ortomolecular, Canábica, Integrativa e Regenerativa, além de Beer sommelier e expert em Coquetelaria Cervejeira.

Usar terpenos da Cannabis foi um “caminho natural” dos cervejeiros uma vez que se trata de uma planta que é uma espécie de “prima” do lúpulo, um dos ingredientes básicos da cerveja.

Cerveja com terpeno dá “barato”? Segundo Bruno, não. O que o ingrediente pode fazer é transmitir um pouco das características da Cannabis do qual foi extraído.

– Por exemplo, uma cerveja que use terpenos da família do mirceno (muito encontrado nos lúpulos, inclusive), vai resultar em uma bebida de aroma puxado para terroso, com nuances de frutas e especiarias e uma ativação no organismo de efeito mais relaxante, tendo esse terpeno propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Se usa um Purple Kush, o efeito tende a um relaxamento mais pronunciado com sensações de contentamento e felicidade – informou Bruno.

Ele contou que já experimentou várias cervejas terpenadas nacionais e não curtiu, ou seja, não percebeu nem aroma nem sabor com características que remetesse à Cannabis e muito menos com efeitos que não sejam do álcool propriamente dito. O motivo provável, na sua opinião, é o uso de terpenos “genéricos” adicionados em alguma base de cerveja – geralmente uma IPA ou suas variações.

É possível fazer cerveja com uso de terpeno de Cannabis que, se não dá barato, proporciona, de fato, o “efeito” da planta? Sim, é possível. A questão é saber se o custo-benefício vai valer para o produtor que, em muitos casos, usa o terpeno para acentuar características do(s) lúpulo(s) usado(s) na produção.

– A maioria das cervejas com terpeno que vi tem efeito só de marketing, mesmo – afirmou Bruno que conversou com Lupulinário de São Paulo, onde participava do 3 ° Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, que está sendo realizado no Expo Center Norte.

Cannabis Indica em chope

Em Niterói, no momento, é possível experimentar o chope Cannabis Indica. É uma West Coast IPA (5% ABV, 40 IBU) feita com terpeno extraído da Cannabis Indica, disponível no bar Fina Cerva (Avenida Sete de Setembro, 193 Lj 103, Jardim Icaraí).

Essa planta tem os seguintes efeitos comumente associados: relaxante, calmante, alívio da dor, indução do sono. O produtor (cervejaria Octopus de Belo Horizonte, MG) não informou no rótulo o terpeno usado. Sobre a cerveja, disse que resultou em uma bebida com aroma herbal e cítrico que remete a frescor.

O que eu percebi: no aroma herbal, mas também remetendo a melão; na boca, mais fruta amarela com um amargor se pronunciando mais no retrogosto. O aroma não remeteu à maconha (não sei se essa era proposta do produtor). Se teve efeito calmante? Nada diferente do que uma bebida de baixo teor alcoólico pode proporcionar.

A própria Octopus vai promover, no seu taproom em Belo Horizonte, o primeiro Cannabis Day, em 8 de junho. No dia, será lançado o terceiro rótulo da linha terpenada da marca: Cannabis Ruderalis, uma Session IPA. O primeiro foi o Cannabis Sativa (New England IPA).

A Cannabis Ruderalis tem uma singular capacidade de autofloração. Seu efeito costuma ser associado a relaxamento, alívio da dor e ajuda contra a ansiedade sem comprometer a clareza mental.

Já a Cannabis Sativa costuma ser associada a um efeito mais revigorante, de aumento de energia, estimulação criativa e sedação reduzida.

Marcha da Maconha

Em Niterói, acontece no sábado, 25 de maio, a Marcha da Maconha. A passeata tem concentração às 14h20, no Terminal Rodoviário João Goulart, no Centro, com saída às 16h20. O tema da Marcha da Maconha deste ano será “Basta de enchente, fogo e camburão! Favela urbanizada e com legalização”, com ênfase nos debates sobre a necessidade de reformas urbanas e políticas de adaptação climática.

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