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Sergio Torres

Sergio Torres trabalhou nos três maiores jornais do país ao longo de 35 anos. Mas se interessa mesmo é pelas notícias locais de Niterói, onde nasceu e sempre viveu. 
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O amigo de Leonardo da Vinci em Niterói

davinci

Um dos episódios mais engraçados de minha atividade como jornalista de “O Fluminense” nos anos 80 está relacionado à exposição que celebrou os inventos do mestre italiano Leonardo da Vinci (1452-1519).

Sucesso absoluto em São Paulo, onde foi vista por ao menos 100 mil entusiastas admiradores do inovador artista, a mostra chegou ao Rio de Janeiro em 1987.

O vernissage para um seletíssimo grupo de convidados aconteceu no Palácio Gustavo Capanema, sede carioca do Ministério da Educação.

Autoridades dos três Poderes, artistas de renome, marchands, intelectuais e os habituais penetras dividiam o espaço com os jornalistas. Eu era um deles.

A exposição comemorava os 70 anos da empresa IBM do Brasil. Reunia maquetes de inventos de Da Vinci, painéis fotográficos, imagens e documentos variados.

Em meio ao burburinho, apareceu entre os jornalistas um telegrama em que um dos convidados para o vernissage agradecia a lembrança, mas declinava da honra.

Tratava-se de ocupante de alto cargo da Universidade Federal Fluminense (UFF), cujo nome omitirei em respeito a sua memória, já que não se encontra mais neste vale de lágrimas.

Ao ler o conteúdo da mensagem, vazada por um assessor de imprensa amigo, os jornalistas não se contiveram. Ninguém conseguiu segurar o riso. Era absurdo demais para ser verdade. Mas, infelizmente, era. Em especial, para a maravilhosa universidade e para Niterói.

No telegrama, o celebrado professor assinava um texto que dizia mais ou menos o seguinte:

“Amigo Leonardo, por motivo de força maior não poderei comparecer ao lançamento da exposição com os seus trabalhos.

Desejo-lhe sucesso e uma auspiciosa carreira.”

Logicamente, “O Fluminense” nada publicou sobre a gafe espetacular. Dono do jornal, o ex-deputado Alberto Torres proibiu que a esperançosa mensagem do dirigente da UFF fosse noticiada. Dr. Alberto não apreciava qualquer coisa que se assemelhasse a deboche nas centenárias páginas de seu jornal. Era um homem bastante formal. Além do mais, amigo das pessoas que à época conduziam os destinos universitários.

O silêncio do diário niteroiense de nada adiantou. Dias depois a concorridíssima coluna do jornalista Zózimo Barroso do Amaral, no “Jornal do Brasil”, em nota irônico, anunciou que a UFF tinha em seu corpo diretivo um legítimo amigo de Leonardo da Vinci, morto 468 anos antes.

“O Amigo de Leonardo.” Assim passou a ser conhecido até a sua morte, passados mais de 20 anos, a douta sumidade da Universidade Federal Fluminense.

 

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