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Sergio Torres

Sergio Torres trabalhou nos três maiores jornais do país ao longo de 35 anos. Mas se interessa mesmo é pelas notícias locais de Niterói, onde nasceu e sempre viveu. 
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O acrobata maluco da ponte

ponte

Inevitável que haja uma ponte entre Niterói e Rio, mas eu evito. Considero as barcas o meio de transporte ideal entre as duas cidades separadas pela Baía de Guanabara. Uma pena que estejam tão mal cuidadas, mas, paciência, prefiro mil vezes navegar a ficar preso em engarrafamento a 70 metros de altura.

Minha estreia na ponte aconteceu no primeiro domingo após a inauguração. Foi desesperador. No fim da tarde, voltando do Rio, o congestionamento tomava a ponte toda, uma coisa inacreditável. Parecia que toda a população de Niterói tinha decidido passear na ponte naquele domingo.

Antes da ponte havia as barcaças de carro. Era um passeio legal. Lembro que tinha uma carrocinha de cachorro quente, eu caía dentro. No trajeto pela baía avistavam-se dezenas de botos saltando, era incrível. Nunca mais vi botos na Guanabara, nunca mais mesmo.

Como repórter de “O Fluminense”, fiz várias reportagens na ponte. Desastres, suicídios, engarrafamentos de feriadão, obras de manutenção, pânico em temporais que faziam a estruturar corcovear, especialmente no vão central.

Em janeiro de 1985, ia no carro do jornal para o primeiro Rock in Rio. O fotógrafo era o craque Marcelo Regua, que vinha de moto ao lado. Deixaria a envenenada máquina em casa e seguiria com a gente.

O intrépido retratista, sem medo da morte, passou, sabe-se lá  a razão, a se exibir. Eu e o motorista (não lembro qual deles) assistimos estupefatos ao Regua ficar em pé no banco da moto, curvado sobre o guidom a uns 100 km/h. Sua longa cabeleira dourada era fustigada pelo vento, já que o capacete que usava era bem pequeno.

A seguir, ele esticou a perna direita para o lado, em ângulo reto com o corpo. A seguir, recolheu a perna e fez a mesma acrobacia com a esquerda. Concluída a exibição, sentou-se de volta na motocicleta e riu para a gente.

Posso assegurar que se caísse ali Regua não teria se casado com a querida Rosita Cucco nem seria o pai de três adoráveis rapazes. Pois morreria na hora, arrebentado no asfalto da Presidente Costa e Silva. É possível até que o ônibus que vinha atrás o esmagasse.

Como, graças a Deus, nada disso aconteceu, Marcelo Regua é hoje um calvo senhor circunspecto, chefe de família, que não dispensa um mingau pela manhã e uma canja de galinha antes de vestir o pijama de bolinhas e dormir.

Como continua vivo, imagino que abandonou as motos há muito tempo.

 

 

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