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Sergio Torres

Sergio Torres trabalhou nos três maiores jornais do país ao longo de 35 anos. Mas se interessa mesmo é pelas notícias locais de Niterói, onde nasceu e sempre viveu. 
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O Abominável Homem de Neves

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Marcelo: crimes bárbaros aterrorizaram Niterói e região. História do maníaco virou até filme

Talvez o assassino mais famoso da história niteroiense seja Marcelo Costa de Andrade, vulgo Vampiro de Niterói. Para os mais novos – ou aqueles de memória curta -, o cara barbarizou na primeira metade dos anos 90. Oficialmente, matou 14 meninos. Embora os policiais que o investigaram há três décadas acreditem que ele cometeu mais homicídios, a conta parou por aí, 14 estava de bom tamanho.

Das vítimas, ele bebeu o sangue, daí o vampiresco apelido. De alguns (ou de todos, vai saber), vilipendiou sexualmente o cadáver e o esquartejou. Uma coisa realmente terrível. Agora, passados 30 anos, volta a notícia de que a Justiça pode soltá-lo, já que, pela legislação brasileira, ninguém pode ficar preso tanto tempo. Pelas minhas contas, Marcelo tem 55 ou 56 anos de idade.

Eu era repórter da “Folha de S.Paulo” quando Marcelo foi preso. De acordo com a apuração policial, seu primeiro crime aconteceu perto da foz de um valão de esgoto que desaguava na Baía de Guanabara na altura do bairro de Neves, em São Gonçalo. Bem ali no início da rodovia Niterói-Manilha.

Ivan, a vítima, tinha 6 anos. Havia sido levado ao local por Marcelo, que lhe fizera alguma promessa jamais cumprida. A descoberta pela perícia que não houve afogamento, suspeita inicial, mas crime provocado por asfixia e lesões cranianas graves decorrentes de golpes com objeto resistente, chocou a região de Neves e dos vizinhos bairros niteroienses, como Barreto, Engenhoca, Fonseca e Tenente Jardim.

Pior: o infeliz menino havia sido violado pelo psicopata. Violado após a morte. Logo surgiu o primeiro apelido de Marcelo: o Abominável Homem de Neves, referência irônica ao Yeti, criatura mítica que, reza a lenda, habita as altitudes indevassáveis do Himalaia. O Abominável Homem das Neves não existe. Mas seu equivalente do bairro gonçalense era de carne e osso.

Marcelo veio a ser preso algum tempo depois. Graças a um delegado boa-praça da 76ª Delegacia, no Centro de Niterói, consegui entrevistá-lo com exclusividade. Sem expressão facial, ele contava com detalhes como fazia para atrair as crianças, as formas como as matava e o que fazia em seguida. Um troço repugnante.

Lembro-me que no carro, de volta ao Rio, a fotógrafa que me acompanhava, tão abalada com a entrevista, sofreu uma intensa crise de chilique. Caiu em um pranto convulso, entremeada por gritos e palavrões contra o maníaco.

O Abominável Homem de Neves não chegou a ser julgado pelos crimes. Foi considerado inimputável, já que ficou atestada por junta médica a sua loucura extrema. Desde então se encontra recolhido no manicômio judiciário em Niterói. Certa vez ele escapou. Foi parar no Ceará, sabe-se lá como. Acabou preso lá e voltou para a tranca aqui.

Não sei se vai ter juiz com coragem para soltá-lo.

 

 

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