Niterói entrou no mapa da economia nacional com o projeto de recuperação do Canal de São Lourenço, para resgatar o Porto da cidade, o terminal pesqueiro e dar novo fôlego à indústria de construção, mas sobretudo de reparos, naval. A visita do presidente Lula na cerimônia que marcou o início da obra, serve como reconhecimento, mesmo que a empreitada quase não conte com recursos federais.
O presidente Lula é um entusiasta da indústria naval, apesar dos prejuízos recorrentes aos cofres públicos. Boa parte deles em seu governo. Sindicalista, produto de uma economia industrial que gerava bons empregos nas fábricas de carros e estaleiros, ao contrário dos empregos precários oferecido na agricultura, na construção civil e no comércio, Lula acredita que o investimento na indústria naval pode mover a economia, criando empregos, renda, consumo e novas empresas. Faz tempo não é assim. Nas últimas aventuras, o retorno do investimento foi muito pouco.
No caso de Niterói, no entanto, a lógica é outra e o investimento faz mais sentido. Primeiro porque não subsidia a indústria, apenas cria infraestrutura para os negócios. Depois, porque é uma aposta na principal atividade do Rio de Janeiro, a produção de petróleo e derivados. Niterói faz parte deste ecossistema que cresceu com o Pré-sal e dobra o orçamento da cidade com os royalties. Com o canal, obstruído ou não, já é aqui o ponto de reparo de boa parte das plataformas e de outros equipamentos da indústria do óleo.
Também é bem-vindo o investimento no terminal pesqueiro. Niterói já é o centro de distribuição de pescado do estado, depois que o Rio desembarcou deste papel. O projeto pode alavancar a atividade.
Ainda vai demorar para a cidade enxergar os ganhos do projeto. Mas a cerimônia de ontem exibiu a coincidência de interesses entre o governo federal e Niterói. Lula aproveitou para fustigar o governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro, diante de um constrangido governador Cláudio Castro. O encontro rendeu ainda para o secretário executivo Rodrigo Neves declarações de apoio à sua candidatura à prefeitura. Em ano eleitoral, com a pressão bolsonarista no município, é como encontrar petróleo.
