4 de dezembro

Niterói por niterói

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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Niterói mais perto de São Gonçalo

Centro 3
Lançamentos imobiliários no Centro atraem novos moradores para a cidade.

Niterói está mais perto de São Gonçalo. As apostas da prefeitura e do mercado imobiliário na ocupação do Centro com a construção de grandes torres de edifícios têm atraído compradores de cidades vizinhas, especialmente de São Gonçalo. Em recente evento do mercado, corretores apontaram forte interesse de moradores de cidades vizinhas na compra dos lançamentos na região do Caminho Niemeyer e da avenida Feliciano Sodré. Os primeiros prédios começam a mudar a paisagem da cidade e cerca de metade dos compradores são do Rio, Itaboraí e especialmente de São Gonçalo. Como já acontecera, de forma desordenada, na expansão de Maria Paula.

Niterói, historicamente, recebe um volume grande de moradores da cidade vizinha. Especialmente em função do terminal das barcas, durante muito tempo o principal acesso ao Rio de Janeiro. Era uma circunstância da geografia e da dificuldade de transporte público. Ao longo dos anos, com o esvaziamento das barcas, o Centro se degradou, em termos comerciais. O comércio migrou para o Plaza  Shopping e para Icaraí. O terminal Norte, com a integração dos ônibus, manteve o fluxo de moradores de São Gonçalo naquela região da cidade.

As atrações de Niterói, por outro lado, sempre mobilizaram os moradores de São Gonçalo para Niterói. Especialmente para as praias. Era comum ver no estacionamento uma enorme quantidade de carros com placas de São Gonçalo, Itaboraí e do Rio e de municípios da Baixada, quando as placas ainda permitiam essa identificação. Nos fins de semana, a orla de São Francisco, especialmente, recebe um público importante da cidade vizinha e muito do movimento de bares e restaurantes depende do fluxo de São Gonçalo. Este movimento é natural: é a cidade mais urbanizada e de melhor qualidade de vida da região, além da paisagem.

Na última eleição, o interesse de São Gonçalo em Niterói ganhou a política. O bolsonarista Carlos Jordy contou com um exército de cabos eleitorais de São Gonçalo, na sua aliança com o prefeito da cidade, Capitão Nélson, para tentar chegar à prefeitura. Não deu certo, foi derrotado na eleição. Mas o movimento mostra que existe uma tendência – e algum interesse econômico – na formação de um cinturão neste eixo do Leste Fluminense, que também inclui Maricá. Curiosamente, um território disputado por três partidos: em São Gonçalo, o comando é da extrema direita e dos evangélicos, do PL; em Niterói, o último refúgio do trabalhismo e do Brizolismo, temos o PDT; e, do outro lado,  em Maricá, o PT de Quaquá e o projeto de redução das desigualdades sociais, a MariCuba.

O Censo mostrou que os fluxos migratórios internos se tornaram marcantes no Brasil. No estado do Rio, as cidades da Região Metropolitana e da Baixada perderam moradores. Niterói também viu sua população diminuir nos últimos anos. Mas, na última semana, o mesmo Censo indicou que se por um lado há imóveis fechados, o número de moradores nas favelas da cidade aumentou. São 86 mil pessoas – 10 mil a mais que na pesquisa anterior. O município precisa interpretar estes dados e ter clareza sobre o projeto de cidade que o morador deseja ter – e definir políticas que apontem para esta direção. Sinais trocados costumam gerar confusão, sabemos disso pelos engarrafamentos.

 

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