21 de novembro

Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Silvia Fonseca

Silvia Fonseca é jornalista e trabalhou por 30 anos no jornal O GLOBO, onde foi Editora Executiva. Tem pós em Gestão de Redação, tem uma consultoria em soluções de mídia e é sócia fundadora do A Seguir: Niterói. Nasceu em Minas, mas mora em Niterói há 32 anos.
Publicado

Niterói elege Rodrigo Neves e pede mudança

54086171434_d1f7c73fcb_c
Rodrigo Neves, eleito neste domingo para seu terceiro mandato à frente da Prefeitura de Niterói

Niterói elegeu Rodrigo Neves (PDT) neste domingo com dois recados claros. O primeiro deles, por mais contraditório que possa parecer, é que quer mudança.

Embora não tenha se afastado do poder nos últimos 12 anos, com enorme influência sobre o governo de seu sucessor Axel Grael, Neves teve hoje 156.067 votos. Foram 20.003 a mais que no primeiro turno. Mas esses 57,20% dos votos válidos de agora, descontados os eleitores que anularam ou não foram votar, significam 38,06% do total do eleitorado de 410.032  da cidade.

Onde vamos chegar? Quase 62% anularam, votaram no bolsonarista Carlos Jordy, adversário de Neves neste segundo turno, ou sequer foram às urnas. Ou seja: 253.965 eleitores não deram seu aval ao ex-prefeito. Sem contar que, entre os que apertaram o 12 de Neves, também há aqueles que só fizeram esta opção porque a rejeição a Jordy era mais forte. Do ponto de vista do resultado eleitoral, essa numerada toda não importa.

Neves está eleito e é uma vitória importante para a cidade, especialmente porque o adversário era um extremista que já atacou a democracia, a verdade e o respeito às minorias, à liberdade e aos direitos humanos.  Mas esses números que saem das urnas advertem: comemore muito, porém sem deixar de ver os resultados com moderação.

Onde querem mudança? Parece ser consenso, e os dados estatísticos mostram isso, que Niterói precisa urgentemente melhorar a educação e a saúde públicas.  Uma cidade com orçamento de R$ 6 bilhões anuais não pode exibir os resultados tristes que tem tido nas avaliações educacionais e na atenção básica à saúde. Simplesmente não pode. Não há justificativa.

Também é preciso tornar a máquina pública menor, desinchar,  transferir receitas que sustentam uma infinidade de cargos comissionados para áreas prioritárias, inclusive para o meio ambiente.

Há a questão do trânsito, o problema das calçadas esburacadas, da falta de um programa eficaz de recolhimento e tratamento do lixo, da crescente população de rua sem assistência, entre tantos outros. Mas Neves terá tempo agora. Ficou oito anos no poder, depois mais quatro com Axel à frente. Assumindo o terceiro mandato, poderá ser reeleito e garantir a permanência de seu grupo no poder por 20 anos seguidos.

É tempo de sobra para entender bem as urnas de hoje, cuidar dessas questões e dar de fato mais qualidade de vida para seus cidadãos menos assistidos. E aí, sim, quem sabe, tentar se projetar para além dos limites de Niterói, o que ficará difícil se não compreender  sua votação de agora.

Aí entramos no segundo recado importante da eleição deste domingo em Niterói: o apreço pela democracia ainda é forte, mas está ruindo. A extrema direita cresce e se fortalece muito rapidamente na cidade.

A votação de Jordy impressiona, mesmo com ele derrotado. Pelo histórico do deputado bolsonarista, acaba sendo um feito numa cidade em que a esquerda está no poder há 35 anos. É claro que isso é reflexo de uma igualmente impressionante adoração de parte dos niteroienses pelo ex-presidente Bolsonaro, mas vamos lá: a cópia mal acabada  teve 42,80% dos votos válidos, ou 116.796. Em relação ao primeiro turno, foram quase 17 mil votos a mais. Considerando o total de eleitores da cidade, Jordy recebeu aval de 28,48%. É muito.

Entre os que votaram nele há gente de direita, de extrema-direita, negacionistas, eleitores que odeiam a esquerda, que rejeitam a democracia e pregam a volta da ditadura. Há até bem intencionados. Mas também há quem não queria ver Neves e seu grupo por tanto tempo no poder. Quem acha que 16 ou 20 anos à frente da prefeitura é demais e queria mudança. Estes últimos taparam o nariz para apertar o 22. Só que o jogo hoje no Brasil se joga assim, infelizmente. Não adianta menosprezar ou tentar reduzir a ignorantes e lunáticos aqueles que acreditam e votam em extremistas.

O bolsonarismo perdeu em Niterói neste domingo, mas mostrou força.

Neves venceu, mas vai ter de avançar e mudar sua forma de fazer política se quiser crescer e aparecer para além dos limites de Niterói.

No mais, independentemente do futuro das duas forças políticas na cidade, Niterói saiu ganhando hoje. Especialmente porque se livrou de cair nas mãos de um  bajulador de extremistas como Carlos Jordy.

Este voltará para Brasília e tentará continuar fazendo barulho na Câmara dos Deputados. Mas atenção: os quase 117 mil eleitores  dele continuarão aqui em Niterói. É o seu vizinho, o seu cunhado, o amigo do seu filho. É bom os setores progressistas se lembrarem disso. E Neves entender que, para evoluir,  precisa  trocar hábitos da velha política por uma gestão mais moderna e uma máquina mais leve (em todos os sentidos). Boa sorte!

 

COMPARTILHE