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Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
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Niterói e os eventos extremos do clima

canal da Avenida Almirante Ari Parreiras,
Chuva e ventos mostram cidade despreparada para emergências, com ruas alagadas, congestionamentos e palcos que desabam

O morador de Niterói, maltratado pela proximidade do Rio e suas atrações, tem um certo complexo e acha que nada acontece na cidade. Mas o aquecimento global e os riscos para o planeta mostram que não é bem assim: Niterói está no centro dos eventos climáticos extremos mundiais. A Prefeitura tem se preparado para a agenda climática e equipou a cidade com um radar meteorológico e criou uma secretaria do clima. Desta forma, foi capaz de detectar eventos que outros institutos não captaram e que  revelam a fúria da natureza nos últimos meses.

A sequência é impressionante e provavelmente será analisada por especialistas na COP, a conferência mundial do clima, que será realizada ano que vem no Brasil.

Em novembro, quando o palco montado para o show dos 450 anos na praia de Icaraí desabou minutos antes da apresentação de Marisa Monte, a Prefeitura detectou ventos de 138 km por hora, a velocidade de um ciclone extratropical, que o INPE  não teve a competência de documentar.

Menos de um mês depois, a árvore de Natal de São Francisco, uma das maiores atrações da cidade os últimos anos, também caiu de seus mais de 50 metros de alturas, decorando a praça do Rádio Amador com toneladas de ferro retorcido. A Prefeitura até hoje não divulgou o relatório do acidente, mas registrou, como alegou a empresa contratada pela montagem, a força de uma ventania inesperada na madrugada.

O ano de 2024 começa com os alertas da catástrofe climática indicando que Niterói está definitivamente no centro do cataclismo. A chuva de sexta para sábado alagou as ruas da cidade e deu um nó no trânsito, agravado pela falta de luz e sinais queimados. A explicação da Defesa Civil de Niterói foi mais um registro dos extremos climáticos: um volume recorde de chuva.

O problema se repetiu na noite de sábado para domingo. Moradores da cidade ficaram ilhados em diversos pontos pelas ruas alagadas. No túnel que liga São Francisco a Icaraí, centenas de carros ficaram parados até quatro horas. Moradores fizeram relatos dramáticos do abandono, sem qualquer socorro, até as águas baixaram, já perto das 4 h da manhã. Segundo a Prefeitura, mais uma chuva recorde:  120,2 milímetros no período de uma hora, o que representa mais de 80% do volume esperado para todo o mês de janeiro. Uma escalada de recordes que dá a dimensão da emergência climática.

A Prefeitura registrou ainda elogios para a ação de suas equipes de trânsito e limpeza e o trabalho de recuperação da energia, sem o que os efeitos dos eventos extremos poderiam ter sido ainda maiores para a população, como acontece nos furacões registrados nos Estados Unidos e na América Central, com ruas alagadas, prédios inundados, pessoas ilhadas, hospitais fechados…, o que não se viu por aqui, graças a Deus e à Empresa de Conservação.

Os meteorologistas já tinham advertido que uma das consequências da agressão do homem ao meio ambiente é a repetição cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos. Há muitas pesquisas mostrando o descongelamento da Antártica, o aquecimento dos mares, a seca na Amazônia e a dramática falta d’água em regiões da África. Depois dos últimos acontecimentos e relatos da Prefeitura sobre a intensidade de ventos e chuvas que castigam a cidade, Niterói certamente estará no centro das pesquisas climáticas.

 

 

 

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