A cidade retoma suas atividades. A não ser pela máscara no rosto, praticamente não se nota restrições à rotina. As pessoas tomam as ruas, os restaurantes estão cheios, as vitrines voltam a atrair o consumidor. Um esqueleto de metal que se ergue em São Francisco anuncia que teremos, sim, Natal, depois de tantas datas perdidas.
Ainda encontramos as marcas de distanciamento no chão, que o tempo ainda não apagou, como nos custa apagar tudo o que vivemos. O horário dos bancos permanece alterado, a distância entre as mesas aumentou, ainda há filas para evitar aglomeração em lugares fechados e dá certo medo pensar em festa… Mas tudo parece ter voltado a funcionar. Até o catamarã de São Francisco promete voltar.
A vida foi congelada em 2020, como num jogo sem graça de estátua, que nos enfiou dentro de casa, com os riscos da pandemia nas ruas. Quem não estava na linha de frente, como profissionais de saúde e trabalhadores em atividades essenciais, manteve contato com o mundo por home-office e por delivery.
De repente, no país dos técnicos de futebol, o brasileiro se tornou especialista em saúde. Quantas palavras entraram em nosso vocabulário, em nosso dia a dia? Semana epidemiológica, PCR, comorbidade, Rt, a taxa de contágio, média móvel, oxímero, pronação, intubação, índice de ocupação hospitalar… Mais de 600 mil mortos.
Às vezes, a desinformação nos confundiu, atribuindo à cloroquina benefícios que não apareciam na bula do remédio. Mas soubemos celebrar a vacina, e podemos discorrer sobre AstraZeneca, Coronavac, Pfizer… Niterói teve um dos melhores índices de aceitação da ciência, um cartão de apresentação da cidade, tão vistoso quanto a Baía de Guanabara. A cidade já completou a imunização de 91,2% da população adulta.
Uma experiência transformadora. Impossível ser o mesmo, depois de passar pela pandemia. Em Niterói, 57.293 enfrentaram a doença; 2.473 moradores perderam a vida, gente que conhecemos pelo nome: Pedro, Marcelo, Laura…. Paulo Gustavo. Como tudo isto nos toca? Quem somos nós, os moradores de Niterói que hoje retomamos a cidade? Aprendemos alguma coisa, sobre gratidão, sobre responsabilidade, sobre solidariedade?
Certamente, vamos ocupar nosso território. Voltaremos para a fila do Antônio, vamos lotar o Campo de São Bento, como estará Itacoatiara no fim de semana?, o que está passando no Reserva?, vamos ter que ir ao Plaza no Natal… E todo o resto: show na praia, escola de samba…
Mas os desafios são enormes. A cidade também sai ferida da pandemia. O desemprego aumentou, a inflação subiu, as desigualdades estão expostas a cada esquina. Como vamos resgatar a cidade?
A pandemia nos empurrou para dentro de casa, nosso melhor abrigo. E nos fez viver mais intensamente o que está por perto: sem passeios ao Rio, finais de semana na praia, sem viagens internacionais. Descobrimos o mercado da esquina, o produtor local – que delícia a produção de alimentos orgânicos de Niterói! -, as trilhas, a atividade cultural, a solidariedade. Este é um bom caminho: valorizar e fortalecer a atividade local. O comércio, o emprego, o entretenimento, o lazer… Cuidar da nossa casa.