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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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Mercado cervejeiro nacional saúda a mandioca

Foto: reprodução rede social cervejaria Nacional

Em 2015, a então presidenta Dilma Rousseff fez um discurso que foi alvo de incontáveis deboches e memes, que ficou conhecido como “saudação à mandioca”.

Ela participava da abertura dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que contava com a presença de representantes de povos originários de 23 países. E o que fez foi saudar o principal alimento dos brasileiros, por consequência, dos nossos povos indígenas.

Em 2022, foi a vez do mercado cervejeiro nacional saudar a mandioca, com o lançamento, em agosto, do projeto Manipueira. Esse é o nome do líquido extraído na prensagem da mandioca durante a produção de farinhas e tapioca, utilizadas na culinária praticamente em todo o país, mas, principalmente, do norte do Brasil.

O projeto tem a manipueira como base de uma produção coletiva e simultânea de 22 cervejarias artesanais brasileiras, em dez estados (não há representante do Rio de Janeiro). A partir de uma receita comum, os cervejeiros adicionarão leveduras extraídas da manipueira.

A ideia é que os micro-organismos de cada localidade sejam protagonistas no produto final, que ficará pronto dentro de 12 meses – depois da fermentação e de um período de maturação em barris de madeira na temperatura ambiente de cada local.

A manipueira foi pensada como ponto central do projeto justamente por ser a mandioca cultivada em todo o país. Como cada cervejaria buscou fontes de manipueira em sua cidade ou região, a expectativa é obter uma cerveja única, que só pode ser produzida em cada uma daquelas cidades.

Até 2006, já haviam sido catalogadas, no Brasil, mais de 4 mil variedades de mandioca. Nativa da América do Sul, é plantada em mais de 100 países, sendo os maiores produtores, em ordem decrescente, Nigéria, Tailândia, Brasil, Indonésia, Angola, Gana e República Democrática do Congo.

Uma das primeiras marcas artesanais do país (criada em 1996), a Colorado, de Ribeirão Preto (SP), criou o rótulo Cauim, tendo a mandioca como ingrediente da sua receita. Atualmente, a marca pertence à Ambev e a gigante cervejeira aproveitou essa ideia para lançar um projeto que já lhe rendeu muitos prêmios.

Basicamente, a ideia é utilizar um produto típico de um local para a criação de uma cerveja regional de baixo custo, a ser comercializada somente na região. O fornecimento regular desse produto para a cervejaria garante o sustento de famílias de agricultores. A cerveja se torna, assim, mais do que um simples produto, mas motivo de orgulho local. E o “produto típico local” usado em três dos quatro rótulos iniciais do projeto é a mandioca.

Em 2015, fazer cerveja com adição de mandioca foi uma grande novidade. Em 2022, produzir cerveja com terroir brasileiro a partir de levedura extraída da mandioca é ainda mais.

Assim, repetindo a presidenta Dilma, “hoje, eu estou saudando a mandioca”.

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