O preconceito em relação a questões relacionadas ao gênero, infelizmente, ainda é bastante comum e movimenta polêmicas clássicas. Uma delas é a crença de que brincar com bonecas ou participar de atividades consideradas “femininas” vai “tornar” homens gays, homossexuais.
Mas onde está escrito isso? Qual o fundamento? E quais as consequências emocionais para uma criança, quando o preconceito limitador entra em cena e impede a liberdade de escolha?
Em nenhum lugar do mundo, um brinquedo irá definir a sexualidade ou o gênero de uma criança. Essas crenças são limitantes e impeditivas das pessoas serem livres e fazerem o uso de sua liberdade de escolha.
Nem brincar de boneca ou participar de atividades ditas ou rotuladas como “femininas” podem determinar uma opção sexual ou a determinação de um gênero.
A liberdade de escolha de um simples brinquedo ou brincadeira permite a ampliação do autoconhecimento de uma pessoa em seu pleno desenvolvimento psicossocial, visto que contribui para a formação de uma personalidade liberta de preconceitos. Rotular brinquedos e brincadeiras é um grande erro que pode fomentar ainda mais segregações.
As consequências dessa castração, falando em termos psicoterápicos, é sem dúvida a construção de crianças que carregam para a vida adulta inseguranças, medos, dificuldades em sua interação social. Além de muitas amarras que vão fazer com que esse indivíduo se retraia ao ponto de negar desejos.
Essas repreensões vão podar vivências naturais e lúdicas que devem e precisam ser alimentadas na infância para construção de suas memórias saudáveis. A longo prazo teremos aí, seres humanos desenvolvendo depressão, fobias, dificuldades de relacionamentos interpessoais, seres desconfiados, medrosos, frustrados, angustiados e ansiosos.
Uma limitação que impede escolhas e a expressão natural de suas vontades e desejos, fazendo com que esse indivíduo entre dentro de uma “ostra” por medo da rejeição. Medo de não conseguir atender aos anseios de uma sociedade que, por natureza já rotula e define papéis.
Ou seja, no mínimo será infeliz, limitado em demonstrar sentimentos. Pode também favorecer a frieza nas interações sociais e o receio de dialogar com os outros. Prejudicando a comunicação com os indivíduos por se colocar no papel de castrado desde a infância. Inclusive, poderá ajudar na formação de adulto que não respeita os sentimentos dos outros, já que ele aprendeu assim, a não respeitarem os sentimentos e vontades dele.
Os ambientes saudáveis de respeito são muito favoráveis na construção de uma personalidade leve, desprovida de crenças limitantes e recheada de carinho e acolhimento. Podem possibilitar que a criança desenvolva habilidades equilibradas, trabalhando a criatividade e ampliando sua imaginação. Além disso, será um adulto com grandes possibilidades de conseguir lidar com os desafios da vida de maneira a encarar melhor as derrotas e frustrações.
Portanto, é urgente a desconstrução de preconceitos do tipo: “só meninas brincam de boneca”. Não cabe associar brincadeiras ou brinquedos com a sexualidade ou o gênero de quem quer que seja. É preciso informar, quebrar os tabus e educar de maneira livre para termos adultos e crianças mais felizes e menos enraizadas na limitação. Dentro de casa esse diálogo também precisa estar aberto.
Permitir o diálogo, os questionamentos, a expressão do que se deseja e acredita é um ato de amor e empatia e deve começar desde cedo, tanto na escola quanto em casa. A melhor maneira de fazer isso é promover as brincadeiras lúdicas sem imputar esses rótulos de que “menina só brinca de boneca”, “menino só brinca de carrinho”, “azul é menino e rosa é menina”. A segregação precisa ser combatida e é simples, basta querer promover essa desconstrução.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista