O francês Arthur Rimbaud viveu apenas 37 anos. Afora seus atributos como poeta, era conhecido como “O homem das solas de vento”. Caminhava, caminhava muito. Estava sempre “de passagem” por algum lugar. O termo entre aspas aparece, inclusive, no obituário do hospital: “nascido em Charleville, de passagem por Marselha…” Rimbaud morreu há exatamente 130 anos, no dia 10 de novembro de 1891. Escreveu, certa vez: “Vamos à estrada! Sou um pedestre, nada mais.”
Eis-me aqui, um pedestre. Sem pretensão, sem rumo, sem pressa. Caminhar, andar, perambular, flanar… Não importa o verbo. Mundo afora, Brasil adentro. Na rua, na areia, na trilha, asfalto ou barro, chova ou faça sol. Botas, tênis, sandálias, até descalço se preciso for. Bater pernas em Niterói, cidade de meus três quartos de vida; ou em Nova Friburgo, onde nasci “quase andando”, como exagera minha mãe. Puxei a meu avó materno Urias. Lembro-me de dizer que ia de Bom Jardim a Nova Friburgo a pé quando jovem. Achava isso impossível. Há dias, mochila nas costas e bastão na mão, fiz o trajeto. Também sou capaz: 24 quilômetros na terra batida.
Domingo fui à Fortaleza de Santa Cruz, uma ponta extrema de Niterói que sempre me traz à mente a cidade de Finisterre, na Espanha, o chamado “fim do mundo” à beira do Atlântico antes do Descobrimento da América. Lá, na Galícia, como aqui, dois quilômetros depois de Jurujuba, a sensação é a mesma: terra e mar se juntam, se abraçam, se entendem numa sintonia perfeita da natureza. De Icaraí à monumental Fortaleza, ida e volta, também 24 quilômetros a pé, em quase seis horas de passadas bem suadas. Uma área rural, na serra, e um trecho urbano, ao nível do mar, ambos com a mesma distância. Como os canhões que ali apontam para os céus, na ausência de inimigos no mar, também sou meio de ferro na minha composição.
Viva Rimbaud, viva Urias, ambos andarilhos. Estarei aqui, sempre de passagem, para contar histórias. Vem comigo, nessas… Andanças!