No Dia das Mães é comum as pessoas pensarem apenas na maternidade positiva, perfeita, colorida, amorosa e com muita acolhida para a mulher que veste a capa de heroína perfeita. Mas, infelizmente, sabemos que essa não é uma realidade de todas.
As mães atípicas, por exemplo, vivem um cenário bastante complexo. O cuidado com as crianças neurodivergentes exige uma dedicação intensa, uma experiência que envolve um alto volume de terapias, laudos, diagnósticos e muita luta.
Mas, quem cuida e acolhe essa mulher? Como elas se cuidam e qual o tempo dispensam para seu autocuidado, uma vez que, grande parte delas, estão sem rede de apoio e se sentem exauridas pela rotina e atividades dos filhos?
Mães atípicas são aquelas que criam seus filhos com necessidades especiais, sejam elas físicas, emocionais, cognitivas ou comportamentais. Elas enfrentam desafios únicos, além da sobrecarga natural da maternidade. A verdade é que, muitas mulheres entram no mundo da maternidade atípica quando seus filhos começam a manifestar sinais e sintomas de doenças genéticas durante a infância.
Elas veem suas vidas serem inundadas por incertezas, inseguranças e medos. “Por que meu filho?”, “O que esperar do futuro?” são apenas alguns exemplos dos muitos pensamentos inquietantes e angustiantes que ouvimos, e que se fazem estampados nos olhos dessas mulheres que, muitas vezes, abdicam de suas próprias vidas em prol da rotina de cuidados de seus filhos.
São mulheres que se transmutam em força e coragem para dar aos filhos todo suporte necessário para que tenham a melhor qualidade de vida possível dentro de suas condições. São mães que se desdobram para cuidar da casa (e muitas vezes de outros filhos) e conciliar as várias consultas médicas e terapias de estimulação. São mães que saem de casa com horas de antecedência porque tem que pegar ônibus, metrô e trem para conseguir levar as crianças às consultas.
São mães que saem de casa carregadas de bolsas contendo os inúmeros aparatos de suporte ao filho. São mães que despendem grande esforço físico para empurrar seus filhos em cadeiras de rodas pelas ruas cheias de buracos. Nenhum desses esforços é romântico ou poético, mas exaustivo. Até porque grande parte dessas mulheres são, inclusive, mães solo. São mulheres fortes, movidas pelo amor, capazes de transformar fardo em propósito.
São mães que, muitas vezes, se tornam invisíveis aos olhos da sociedade. Mães que se dedicam tanto aos seus filhos que esquecem de si mesmas. Mães que, frequentemente, se sentem culpadas por não conseguirem oferecer mais aos seus filhos. Mães sem apoio, angustiadas por não terem com quem compartilhar suas angústias, e desabafar o quanto se sentem exaustas.
Sofrem de exaustão física e mental. A sobrecarga mental da mãe atípica, é atípica mesmo. Inclusive, há pesquisas que comparam a maternidade atípica com a situação dos soldados em campos de guerra. Nessa fase, é comum muitas mães se sentirem exaustas, ansiosas e até deprimidas.
Enfim, a mãe atípica merece e precisa de espaços de acolhimento. Compreender suas necessidades e oferecer suporte emocional e prático, é fundamental. É preciso conscientizar essa mulher de que cuidar de si também é muito importante. Tirar um tempo para fazer si, ajuda a trazer alegria e relaxamento. E, não importa quantidade de tempo, mas, sim, a qualidade. Além disso, encontrar ajuda em uma rede de apoio, seja de familiares, amigos ou profissionais de saúde, fará toda a diferença para a construção de conforto e segurança na jornada dessa mãe.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista