Niterói por niterói

Pesquisar
Close this search box.

Luiz Cláudio Latgé

Jornalista, documentarista, cronista, atuou na TV Globo por 30 anos, como repórter, editor, diretor. Consultor em estratégia de comunicação, mora em Niterói e costuma ser visto no Mercado de São Pedro.
Publicado

‘Joga fora no lixo’, o Brasil que vai pelo ralo no governo Bolsonaro

O Presidente Jair Bolsonaro. Foto- Agência Brasil: Fábio Rodrigues Pozzebom
O Presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Agência Brasil

‘Joguem a medalha no lixo’. A frase expressa a indignação do antropólogo baiano Antônio Risério  ao descobrir que a comenda oferecida pela Biblioteca Nacional, a ordem do mérito do livro, seria entregue, entre outros homenageados, também ao Deputado Federal Daniel Silveira. Aquele que quebrou a placa de rua com o nome da Vereadora Marielle Franco, xinga a mãe dos Ministros do Supremo e foi preso por ataques contra a democracia.  O truculento ex-policial escapou da cadeia graças ao Presidente Jair Bolsonaro, companheiro de pensamento, que o beneficiou de forma inusitada com um indulto presidencial. Mas para os gestores da Biblioteca Nacional, mesmo sem escrever uma linha, merece a lembrança.

Não foi o único. O professor e escritor Antônio Carlos Secchin e o escritor e poeta, Marco Lucchese, ambos da Academia Brasileira de Letras, também abriram mão da distinção.

A medalha de Daniel Silveira simboliza bem o desprezo do Governo Bolsonaro pela cultura, pelo conhecimento e pelos valores da sociedade. Representa o Brasil que vai para o lixo na desastrosa gestão do Planalto. Um presidente que tripudia do Brasil, capaz de nomear para o Meio Ambiente um desmatador, e assim joga no lixo floresta amazônica;  entrega a Saúde a um apalermado que prescreve cloroquina e joga no lixo a vida de quem deveria proteger; ou coloca a Educação nas mãos de um pastor corrompido, que joga no lixo o futuro das nossas crianças para distribuir bíblias com o próprio retrato…

A lista é enorme e só aumenta. E empurra o Brasil para a linha da pobreza e mais de 20 anos de retrocesso, com 36 milhões de brasileiros em situação de miséria, jogando no lixo a esperança de um país inteiro.

Não deveria ser assunto de uma coluna de jornal local. A Biblioteca Nacional é pauta da grande mídia, não seria necessário abordar neste espaço, entre os temas da semana. Mas a cidade não escapa dos desastres da vida nacional, o desemprego, a inflação, o isolamento internacional, a insegurança, que se impõe a todos, em todo o território.

Niterói também tem seus representantes nesta linha de pensamento. O Deputado Federal Carlos Jordy, que compartilha dos ideiais de Bolsonaro e Daniel Silveira, também recebeu a medalha. Além disso, o noticiário da semana também botou em evidência o vereador Douglas Gomes, o representante do bolsonarismo na Câmara Municipal. Ele foi condenado a mais de um ano de prisão por ofensas e ameaças contra a vereadora transexual Benny Briolly.  Vai recorrer, alegando que a punição restringe sua liberdade de expressão.

O pensamento bolsonarista não tem sofrido cerceamentos no país, apesar dos inúmeros processos e pedidos de impeachment. Também nesta mesma semana, o país teve a chance de conhecer melhor o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. O “Pedro maluco”, como é conhecido no mercado financeiro. “Pedrão”, como se refere a ele o Presidente Bolsonaro, parceiro em centenas de eventos, quase um papagaio de pirata nas fotos espalhadas nas redes sociais. Pois soubemos que o dirigente de um dos maiores bancos do país gosta de convidar as funcionárias para fotografias, quando pede um abraço e costuma apalpar a bunda das meninas.

O Presidente não se manifestou sobre o assunto. Poderia dizer que não pode ser responsabilizado pela conduta sexual de todos os seus funcionários. É verdade. Mas deve ser responsabilizado, sim, pela qualidade profissional e pessoal do homem que escolheu para comandar a Caixa. Esta desqualificação não se escondia nas repartições do banco como o assédio covarde praticado contra as funcionárias. Estava visível nas reuniões de trabalho. Uma das performances de “Pedrão” está  disponível nas redes sociais. É a gravação de uma reunião do executivo com diretores e gerentes do banco. Reproduzo um trecho, em que ameaça o grupo, depois de ter uma decisão questionada:

“Quem for responsável vai deixar de ser. O (fulaninho) é pau mole. Quero o CPF de todo mundo”. Ele grita. “Não é aceitável!” E de novo: “caguei para a opinião de vocês. Porque eu é que mando! Isso aqui não é uma democracia”. E conclui: “Ah, mas o vice-presidente (aprovou)… Foda-se. Manda todo mundo tomar no cu.”

É provável que a Biblioteca Nacional só tenha tomado conhecimento da literatura de Pedro Guimarães esta semana. Soubesse antes, provavelmente também receberia uma medalha, ao lado de Daniel Silveira.

Então, me perdoem, mas é assunto, sim, para uma coluna de jornal de Niterói. É a nossa vida jogada no lixo.

 

 

COMPARTILHE