Pode até parecer historinha, mas em Niterói teve um maluco que explodiu uma bomba dentro de um apartamento em plena Rua Moreira César (hoje Paulo Gustavo). Ninguém se feriu, mas houve pânico e correria na rua lotada. Era de dia. O estrondo foi ouvido em Icaraí toda.
Vivíamos os anos finais da ditadura militar. Chegou-se a pensar em atentado político ou coisa parecida. Ainda mais porque o cidadão que detonou a bomba era (ou tinha sido) militar, de acordo com o que a Polícia divulgou à época.
Eu trabalhava como repórter de “O Fluminense”. O fato aconteceu há quase 40 anos, portanto. A notícia da explosão logo chegou à Redação do jornal.
“Corre, repórter, que estão explodindo tudo na esquina da Moreira César com a Lopes Trovão. A rua está cheia de presuntos. Tem prédio quase desabando!!”, disse ao telefone um mentiroso informante.
Avisei na hora ao chefe de Reportagem, Gilberto Fontes.
“Voa pra lá, garoto”, bradou o brilhante jornalista.
A Moreira César estava quase toda interditada quando cheguei lá. A Polícia Militar cercava o quarteirão. Os policiais da 17ª Delegacia de Polícia, que à época funcionava na Rua Dr. Paulo César, já estavam no prédio.
Ninguém sabia, ainda, o que acontecera. Apenas que uma bomba explodira dentro de um apartamento em um dos edifícios na esquina da Moreira com a Lopes.
Rapidamente a versão de que havia dezenas de mortos no local era desmentida. Também não se notavam prédios avariados em demasia. Vidros quebrados pelo barulho ensurdecedor, pedaços de reboco na calçada e pouco mais do que isso.
Eu aguardava a saída dos policiais e peritos do prédio – o maluco da detonação já tinha sido levado – quando fui abordado por um rapaz que disse ser vizinho do cara.
O rapaz me deu algumas informações importantes. Ao final da conversa, ele me pediu um autógrafo. Estranhei, jamais alguém me solicitara algo tão insólito.
“Sabe por que, seu Sergio Torres, eu sou um fã entusiasmado do senhor”, disse ele.
“Deus do céu!! Pai amado!!! Fã!!!??? De onde você tirou isso? De onde você me conhece?”, questionei o tiete.
“Acompanho sua trajetória desde que o senhor jogava bola na Praia de Icaraí. Todos sabem, e eu concordo: o senhor é um dos melhores jogadores de futebol já surgidos em Niterói. E agora, como repórter, chego a colecionar suas matérias. Meu sonho é ser jornalista e trabalhar com o senhor. Um dia, quem sabe”, suspirou o aficionado vizinho.
Como a vida é feita de surpresas, o rapaz virou mesmo jornalista, e dos melhores que conheci. Convivemos nas Redações de “O Fluminense” e “O Globo”, em priscas eras. Até hoje trocamos zaps. Nos últimos tempos, ele anda inconformado com o sucesso do Fluminense Football Club, grande Campeão das Américas.
Como jornalista, ele certamente me ultrapassou em talento. Mas, como jogador de futebol, até tentou, mas não conseguiu superar o mestre. Jogamos muito juntos. Esforçado, ele era. Mas, dentro das chamadas quatro linhas, não dava para Antonio Werneck. Era uma alegria enfrentá-lo. Aproveitando-me de suas pernas compridas, aperfeiçoei a difícil técnica das canetas, que tanto deleitavam os torcedores.
Sim, o fã era Antonio Werneck, o consagrado jornalista. Vencedor de não sei quantos Prêmios Esso, laureado internacionalmente, hoje homem do campo voltado à produção orgânica de alimentos que enriquecem as refeições dos brasileiros.
Com um invejável currículo desses, é bastante provável que o querido Werneck já tenha dado muito mais autógrafos do que eu nestas quatro décadas de jornalismo. Mas, modéstia à parte, no futebol eu o superei em muito. Tenta outro esporte, Werneck!