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Andanças

Por Giovanni Faria

Giovanni Faria é jornalista com mais de 30 anos de atuação em jornais e rádios do país, professor universitário e um andarilho pelo mundo. Já percorreu mais de 5.500 KMs em 11 viagens pelo Caminho de Santiago de Compostela. Nasceu em Nova Friburgo, mas é frequentador assíduo das ruas de Niterói, onde mora e caminha diariamente por todos os cantos da cidade.
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Há uma Estrada Fróes no coração de todos nós!

Por mar ou terra, vá devagar. A três nós, de preferência
Visão da Estrada Fróes: vá devagar, por terra e por mar

São apenas 1.640 metros de extensão, algo em torno de dois mil passos na conversão matemática viciante de um andarilho. Mas essa pequena elevação sobre a baía, com mais curvas do que retas, exerce um grande fascínio em quem a percorre a pé. Depois da baixada da Praia de Icaraí, planíssima, até a igualmente sem ondulações Praia de São Francisco, nivelada pela linha das águas mansas, a Fróes é um oásis, embora sem água para comprar e beber. O corpo escala o pequeno monte e as águas mansas ficam sob seus pés e olhares. Um respiro.

A pé, andando ou correndo, ou mesmo de bicicleta, o privilégio é dobrado. Sim, claro. Já motoristas de carro ou piloto de moto, não: esses apenas vão, não voltam. Para eles, um sentido único de direção, algo meio sem sentido para o caminhante, que vai e volta com prazer. Numa marcha intermediária, sem muitas lufadas de ar no peito e com passadas normais, são apenas de 15 a 20 minutos, um tempo precioso para quem admira a natureza, em especial o mar. Ali, a moldura de pedra do cenário paradisíaco é perfeita: em primeiro plano, Jurujuba. Ao fundo, morrendo de inveja do outro lado da boca da baía, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, a Pedra da Gávea e – por que não? – a selva de pedra de prédios entre o mar e a Mata Atlântica.

Há dias sonhei com a Estrada Fróes. De verdade, sonhei. Era um mar de gente de um lado para o outro. Crianças, cachorros, bicicletas, avós e netos, vendedores de balão a gás, mate e coco. Havia gente chutando bola, pulando corda, até amarelinha. Não me lembro, no sonho, de ver carros cantando pneu nas curvas. Mas pássaros cantavam nos fios e árvores. Era um burburinho gostoso, de poucos decibéis. Tinha cara de parque do interior – faltou a maçã do amor, é verdade. Mas havia pipoqueiro. Muita selfie, muita paz. Cara de domingo.

Enfim, acordei. Era sonho mesmo. Fui caminhar e, naturalmente, a Estrada Fróes estava no meu roteiro. Era domingo, como no sonho. Havia carros de ponta a ponta, alguns apressados, outros também, num rali frenético. Até que um afoito, depois de um ziguezague, rodou na pista e, numa curva, beijou a mureta. Fui ajudá-lo. Nada além do susto. Apenas tinha pressa de chegar à praia para apreciar a natureza, a mesma que estava ali a seu lado, magnífica.

A Fróes não foi feita para apressados.

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