O estado do Rio de volta ao passado. Eleições costumam apontar para o futuro, a possibilidade de renovação, a força da vontade popular para mudar a vida. Mas não no Rio, antes mesmo da abertura oficial do calendário eleitoral. Por aqui parece que o território da política não será o da ideologia, nem dos planos para a economia ou o enfrentamento das questões sociais. Mas o do clientelismo, a velha política da bica d’água. É o que sugere a campanha do Governador Claudio Castro, que tenta a reeleição depois de chegar inesperadamente ao Palácio Guanabara, com o impedimento do Governador Wilson Witzel, ele mesmo um ocupante inesperado do Governo, sem nenhum histórico político até o tsumani bolsonarista de 2018.
Neste início do ano, o Governo do Estado decidiu criar uma caravana da saúde, para percorrer os municípios de seus aliados políticos. Castro produziu uma costura política que levou ao Governo representantes de diversos partidos até amealhar o apoio de cerca de 80 dos 92 prefeitos do estado. Para tanto, o estado loteou secretarias entre cabos eleitorais do governador e entregou o cidadão à gestão de personagens como o Secretário de Transportes Juninho do Pneu, entre outros igualmente folclóricos. Alianças feitas, botou a campanha na rua para se tornar mais conhecido e disputar a reeleição, com o apoio do Presidente Bolsonaro. Uma das ações eleitoreiras, com certeza, é esta semana da saúde, que pretende atender doentes em praça pública e distribuir benefícios que o estado deveria oferecer regularmente.
A última caravana aconteceu em São Gonçalo, na Praça Zé Garoto. Não será, com certeza, o único evento clientelista que veremos na campanha. São muitos os representantes políticos eleitos por sua atuação assistencialistas, que pode ir da organização de peladas e churrascos à promessa de obras de água e saneamento. Este, afinal, é o estado de Chagas Freitas e da família Garotinho… Mas a organização do evento carrega uma visão do governo, como distribuidor de favores. Em São Gonçalo, cidade que elegeu com a ajuda de Bolsonaro e do voto evangélico o Capitão Nélson, a oferta de serviços era enorme. Vacina, medição de pressão, exames simples, atendimento odontológico e distribuição de senhas para exames e tratamentos médicos que hoje demandam longo agendamento, porque não estão disponíveis de forma regular na rede pública. Nos documentos de divulgação, não aparece nenhuma oferta de bica d’água, assim, explicitamente. Na verdade, estamos mais atrasados ainda que o tempo da bica d’água: o estado ofereceu pastilhas de cloro para tratamento da água de poço. É a lata d’água na cabeça.
Antes de começar a campanha, seria interessante que o eleitor pudesse estabelecer o que espera do jogo político: o futuro ou o passado? Projetos ou demagogia? Um plano de governo ou a chance de conseguir uma senha num evento na praça da cidade? Saneamento ou bica d’água?