Os moradores de Niterói se dividiram, esta semana, entre duas notícias estampadas nas páginas do A Seguir Niterói, que poderiam parecer contraditórias. Uma dizia: “Niterói entra para o clube exclusivo dos imóveis de alto luxo.” Mostrava o crescimento do mercado imobiliário que enxerga na cidade potencial para oferecer imóveis de altíssimo luxo, para o AAA, que podem custar até R$ 12 milhões. Outra: “Comunidade de moradores de favelas em Niterói pode chegar a 85 mil no Censo do IBGE.” Esta alertava para o aumento, acima da média nacional, da ocupação das favelas.
Apesar da aparente contradição, ambas reportagens se referem à mesma cidade, Niterói, que figura entre os municípios com maior renda e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de primeiro mundo, ao mesmo tempo que vê crescer a população de baixa renda e as comunidades onde o IBGE mas consegue entrar. As reportagens que parecem nos confundir, no entanto, apontam para a mesmo direção e para um dos maiores desafios do nosso tempo, em Niterói, no Brasil e no mundo: enfrentar a enorme desigualdade social que se agrava nos centros urbanos.
O censo do IBGE, 12 anos depois da última pesquisa, vai atualizar este cenário. Niterói tem hoje 523 mil habitantes. É a cidade mais rica do estado, de acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, com renda média de R$ 4.188,51 por habitante, duas vezes mais que a média do Rio. Mas, ao mesmo tempo, tem hoje 16,33% de sua população espalhadas em 52 favelas, algumas delas, como a do Cavalão e a da Vila Ipiranga, no Fonseca, crescendo e incorporando comunidades menores, como aconteceu no Rio no Complexo do Alemão ou Complexo da Maré. A média, também neste caso, é o dobro da média do Rio.
A desigualdade, em Niterói, é dobrada.
No momento em que a economia ensaia uma retomada, e a vitória de Lula sobre Bolsonaro reabilita a política e o diálogo, cabe botar em pauta um projeto de sociedade que seja capaz de atender as demandas de toda a população. A começar pela universalização da Saúde e da Educação. Não deveria ser problema, num município que tem um orçamento de R$ 5, 3 bilhões, irrigado pelos royalties do petróleo. No entanto, temos hospitais sucateados e fila de até dois meses para consultas em algumas especialidades. E da mesma forma, encontramos escolas precárias e falta de vagas na educação infantil.
É difícil estabelecer em números muitas vezes maquiados pela disputa política os contrastes que vivemos. Os professores de economia costumam dizer, como anedota, que a estatística é a ciência pela qual uma pessoa pode morrer afogada num Rio com profundidade média de cinco centímetros. O mundo, definitivamente, não é plano. Trata-se de cuidar para que todos nós, moradores de Niterói, possamos enxergar a mesma cidade.