A terceira via que jamais decolou, como já escrevi aqui antes, agora afundou de vez com o desgaste ainda maior do ex-juiz Sergio Moro, até então o terceiro colocado na disputa presidencial. Moro anunciou uma desistência temporária (seja lá o que isso significa) e quer trocar o Podemos pelo União Brasil. João Doria, o governador tucano de São Paulo, blefou, ameaçou desistir da disputa e voltou atrás, mas jamais terá apoio do partido todo, sequer da maioria dos líderes do PSDB. Você, leitor, acha que o que está por trás disso tudo é um projeto para o Brasil? É dinheiro! São números estratosféricos para um país cujo salário mínimo é de R$ 1.212 e o desemprego atinge mais de 11% dos brasileiros.
O Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões aprovado pelo Congresso – e formado pelo meu, seu, nosso dinheiro – será distribuído aos 32 partidos com representação parlamentar para torrarem nas eleições deste ano. O Podemos em que Moro se refugiara é o nono da lista dos que ficarão com as fatias maiores, mas ainda assim são R$ 187 milhões. Como o dinheiro será usado não só pelo candidato a Presidente mas também por aqueles que disputarão governos estaduais e vagas na Câmara e no Senado, o ex-juiz, já desgastado com correntes do partido, pode ter feito as contas e achado que é pouco para “alavancar” sua candidatura.
Por enquanto, temporariamente (?), o plano dele é tentar uma vaga de deputado federal pelo União Brasil, o novo partido que surgiu da fusão de DEM e PSL. Dono da maior bancada hoje na Câmara, o União receberá sabe quanto? R$ 770 milhões! Mas esse poço de dinheiro informou que “por enquanto” descarta Moro como candidato à Presidência. Ainda está em busca de um nome, e não faltará quem se apresente diante desse caminhão de dinheiro e de tantos deputados para pedir votos pelo país todo.
Também por trás do tiro no pé que Doria deu nesta quinta-feira (31) há um monte de dinheiro em jogo. O PSDB receberá R$ 314 milhões do Fundo Eleitoral, e o candidato a Presidente queria pelo menos a metade disso. Claro que os deputados e candidatos a governador não pretendem dar essa dinheirama para alguém que não tem a simpatia deles nem sai do lugar nas pesquisas, amargando vexaminosos 2% das intenções de voto no último Datafolha.
Faltando pouco mais de seis meses para a eleição, não se sabe hoje se Moro e Doria serão ou não candidatos. Nem quem será patrocinado pelo União Brasil. Ou se o ex-governador Eduardo Leite (RS) vai trocar de partido ou ser lançado pelos tucanos que não aceitam a vitória de Doria nas prévias. Se o PSDB se junta com o MDB, que hoje tem a senadora Simone Tebet como pré-candidata, os dois partidos teriam, juntos, R$ 652 milhões para gastar nas eleições. Uma bela quantia, ficando atrás apenas do União Brasil.
Na relação dos partidos que dividirão a maior fatia do bolo, depois do União com seus R$ 770 milhões, estão o PT do pré-candidato e ex-presidente Lula (R$ 484 milhões), o MDB de Tebet (R$ 338 milhões), o PSD de Kassab e ainda negociando sobre a Presidência (R$ 334 milhões), o PSDB (R$ 314 milhões), o PL do Presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (R$ 283 milhões), o PSB que vai apoiar Lula (R$ 263 milhões), o PDT do também pré-candidato Ciro Gomes (R$ 248 milhões) e o Podemos (R$ 187 milhões), além de outros 23 partidos. Os seis que receberão menos ainda assim vão poder gastar R$ 2,94 milhões cada do Fundo Eleitoral.
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Depois de encher sua paciência com tantos números, vou citar mais alguns para exemplificar o buraco em que estamos metidos. Os remédios vão subir pelo menos 10,89% agora, aumento já autorizado para que a indústria farmacêutica ponha a maquininha para funcionar e elevar os preços nas farmácias, além de deixar doente quem precisa de medicamentos e está sem reajuste salarial ou na aposentadoria há tempos.
E os preços dos alimentos? Segundo o IBGE, a variação em março em relação ao mês anterior foi de 45,7% no caso da cenoura, de 29% para o repolho e de 28,5% para a abobrinha. O pimentão subiu 26,4% de um mês pro outro. E vou parar por aqui para não estragar o seu sábado, leitor, porque a salada já azedou há tempos.