Minas não há mais. José, e agora?
Ah, Drummond. Como não pensar em você aqui nessas montanhas fantásticas das Minas Gerais? Em janeiro de todos os anos, poeta maior, com o devido perdão, seu estado deveria trocar de nome: Águas Gerais!
Ah, Carlos. Itabira, seu berço esplêndido, estava no caminho. Chovia, e muito, naquelas terras cor de ferro. Era só o prenúncio do que viria à frente, na empreitada a pé entre a Serra do Cipó e Diamantina.
Ah, Andrade. Velho companheiro de colégio. Sim, estudamos no Anchieta, em Nova Friburgo, distantes algumas décadas um do outro. Você, brilhante. Tenho seus boletins, antes da expulsão. Belas notas. Eu, claro, aluno mediano, percorria aqueles imensos corredores em busca de seus passos.
Carlos Drummond de Andrade me fez um mineiro por adoção. Tenho carteirinha. Até torço para Galo-Celeste-Coelho. Me sinto vivo no Espinhaço, apesar do peso da mochila e cansaço das pernas. As jazidas de ferro, manganês, bauxita, ouro me trazem energia.
A paixão por Minas começou na faculdade. Na UFF, em 1979. Carlos Franco era o “Uberlândia”; cheio de sotaque, trazia o triângulo mineiro desenhado no coração. Marcos, belo-horizontino, nos ensinou o caminho da Pampulha. E assim Minas entrou no mapa. Niterói-Minas, conexão total.
Há dias, aqui em minhas andanças, um casal em uma cachoeira se aproximou de mim. Perguntou se uma caminhonete vermelha, placa de Niterói, era minha. Disse que não. Em cinco minutos, Icaraí, Ingá e Fonseca estavam unidos na água gelada. Conversa sem sotaque mineiro.
Drummond, Carlos, Marcos… invadi suas terras, suas minas. Mas em silêncio, admirando as montanhas, respeitando as cachoeiras. Andar por Minas é como estar numa procissão – quase uma profissão de fé. Mesmo que chova, em ainda que chova muito, e come chove, cada gota bate no corpo do caminhante como se o lembrasse disso: Minas (não) há mais, José!