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Andrea Ladislau

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Tem especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional a pessoas do Brasil inteiro.
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Dores e delícias de ser mulher em tempos atuais

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Coragem para fazer valer sua voz. Coragem para encarar os desafios, as dores e as delícias de ser uma mulher, em um mundo que cobra dela ser muito mais do que apenas um ser humano. E é com você mulher que quero falar. Com você que foi preparada, ainda na infância, para ser mãe, para tocar uma casa, para se movimentar pelo mundo, para ser a melhor em sua profissão, para ser esposa, para abafar suas emoções, além de mastigar as frustrações e não se sufocar com decepções e dores.

Enfim, você mulher que foi preparada para ser perfeita e não para ser corajosa.

E seguindo essa linha de raciocínio, o que dizer para a menina que está descobrindo agora o mundo e tem ainda uma trajetória de vida imensa pela frente? O que ela pode esperar desse mundo? Se queremos ensinar-lhe algo, vamos ensiná-la que a perfeição não existe e que ao longo da vida terá que enfrentar medos e que os fortes não são aqueles que não sofrem ou os que não têm medo, mas aqueles que os deixam de lado e os superam.

Aqueles que fazem isso de novo e de novo, enquanto assistem, com o canto dos olhos, como esses medos se tornam pequenos com o tempo.

Ensine a ela que, mulheres perfeitas não existem, mas as mulheres corajosas sim. É claro que, a perfeição não é real, mas fato é que, os medos se multiplicam quando avançamos e nos deparamos com os desafios. E está tudo bem. Isso é normal e faz parte da natureza humana.

Mas continue, provoque a consciência dessa menina para fazer com que ela enxergue que vão existir vitórias com preços que não valem a pena pagar, pois não fará o menor sentido se sucumbir ao ego apenas para ser a mais popular se, como resultado, o preço é o assédio, o escárnio, o insulto, o abuso e a desvalorização. Mostre para essa futura mulher que, a vulnerabilidade faz com que ela se enfraqueça e que o uso de armaduras para com as pessoas que ela mais ama, só provocará um afastamento inevitável.

E o que fazer quando se percebe envolto em uma relação tóxica e destrutiva? Pegar para si a responsabilidade de zelar pela paz a dois não resolve. Responsabilizar o outro por todas as mazelas, também não. É preciso avaliar não os papéis de vilão e mocinho, mas a dinâmica.

O principal é resgatar o amor próprio e a autoestima, ressignificar as experiências ruins, compreender o que faz você se sentir dessa forma e considerar o fato de que se afastar de pessoas assim pode ser a única saída para uma vida tranquila, uma vez que pessoas com esse perfil tóxico nem sempre estão propensas a modificações, principalmente se possuírem evidências de psicopatia.

O abusador, provavelmente, age assim por já ter sido abusado, mas suas dores não podem justificar suas atitudes. Já o abusado, deve entender que tipo de interação exerce na dupla e porque ainda está consumindo esse sofrimento.

O amor verdadeiro é aquele que te eleva e que te coloca no caminho da sua evolução, e não aquele que põe uma pedra em cima da sua semente a impedindo de crescer e florescer. O amor verdadeiro não tem razões para agredir moralmente, verbalmente, psicologicamente ou fisicamente, porque ele vem apenas para fazer o bem. Não se iluda com relacionamentos que não acrescentem.

Respeite a si mesmo e entenda, o importante é não desistir de buscar ser feliz.  Todos merecemos uma construção familiar saudável, ou mesmo relações interpessoais equilibradas. Fortaleça seu inconsciente e entenda a força que tem. Ame-se acima de tudo e não permita que diminuam seu valor.

Por fim, que fique claro que, nós mulheres temos grandes poderes e essa menina indefesa e cheia de vida precisa saber disso. Ela precisa aprender que ao menor sinal de abuso ou toxicidade, é necessário reagir, sem o receio de dizer não quando receber um convite suspeito ou quando a situação lhe parecer desconfortável.

Porém, diante de todo exposto, fica claro que é necessário haver mudanças não só no pensamento da mulher que está acostumada a carregar tudo nas costas, mas também de quem está a sua volta. É preciso aceitar que somos seres humanos, portanto, longe da perfeição, e entender que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é de suma importância na busca pelo autocontrole. A mulher não pode esquecer de cuidar também de si mesma.

Conscientizar-se de que a heroína não existe. É normal fracassar e perder, não conseguir sempre. É perfeitamente possível, permitir-se não dar conta de tudo a todo tempo, apenas para cumprir regras ou agradar uma sociedade esmagadora.

Portanto, que nossas meninas saibam se autoavaliar e perceber que o amor próprio é peça chave para se curar de toda e qualquer relação que lhe faça mal. Afinal, se elas não se valorizam e não se amam, ninguém fará isso por elas. Importante, olhar para as relações em que está envolvida e perceber se virou refém da situação. Não se pode permitir, em hipótese alguma, a perpetuação de abusos físicos ou emocionais que interferem em sua felicidade. Reflita e acredite em sua própria mudança.

Valorize-se em qualquer ambiente ou núcleo que venha a frequentar, ou mesmo, em qualquer tipo de relação que venha a desenvolver ao longo de sua trajetória.

Enfim, uma coisa é certa: a fórmula para uma vida adulta saudável e equilibrada é saber combinar poder e coragem, para se tornar digna. E todo esse aprendizado precisa ser transmitido para nossas meninas desde cedo para que tenhamos mulheres, cada vez mais, empoderadas e conscientes de sua força e de seu papel. Visto que, todos os papéis atribuídos ao sexo feminino – mãe, esposa, cuidadora do lar, profissional, filha, amiga, entre outros – precisam ser exercidos com equilíbrio.

O pulo do gato é evitar a sobrecarga e trabalhar o autoconhecimento, promovendo situações que favoreçam uma mente mais leve. Como consequência, a auto cobrança dará lugar a gratidão por suas conquistas reais, sem a neurose do controle do mundo, valorizando mais a si mesma através do cultivo do amor próprio. Afinal, só nós sabemos a dor e a delícia de ser mulher nos dias atuais.

Dra. Andréa Ladislau

Psicanalista

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