Quando pensamos na transição de gênero e buscamos a compreensão e levantamento dos impactos possíveis dessa mudança, fica fácil entender que os aspectos relevantes vão muito além do desejo e da aceitação. Eles estão fixados em um realinhamento da forma como esse indivíduo se enxerga e como ele acomoda em si, a pressão pelo olhar do outro. Afinal, sabemos que esse tema ainda é carregado por tabus e desconhecimento.
A disforia de gênero é uma condição clínica, caracterizada por desconfortos psíquicos, que geram alterações repentinas de sensações transitórias, modificando as emoções e estabelecendo sentimentos de baixo ânimo, tristeza, depressão e grande ansiedade. Essa situação revela um desconforto relacionado à distorção da imagem nos casos de transição de gênero, e possui ocorrência prevalente, principalmente, nos primeiros meses após a mudança.
De acordo com relatos, essas sensações são muito comuns em quem enfrenta os desafios da mudança de gênero. Normalmente, o período de transição é longo e pode apresentar episódios intensos de ansiedade, e uma necessidade intensa de isolamento para conseguir acolher e controlar os sintomas, que mexem e muito, com o emocional.
Essa alternância emocional envolve sintomas psiquiátricos concomitantes que não chega a serem considerados um transtorno mental, porém afeta psiquicamente o indivíduo, já que mexe muito com as emoções.
No caso de Maya, a feminilização corporal e facial às quais se submeteu, exigiram muitos procedimentos estéticos e cirúrgicos de redesignação sexual, que sem dúvida, mexem, não somente com o corpo físico, mas também com a mente e o emocional de quem se propõe a tais intervenções.
Uma mistura de sentimentos que podem provocar um desequilíbrio psíquico, principalmente, nos primeiros meses após a transformação. Dentre os sintomas da disforia de gênero podemos destacar a melancolia, o pessimismo, a alteração de humor, choro em excesso, tristeza profunda, necessidade de isolamento, perturbação emocional, distorções alimentares, entre outros.
Enfim, a disforia evidencia que, por ser uma transformação de vida muito radical, a transição de gênero exige um acompanhamento psicológico intenso, desde o primeiro momento da opção de mudança. O mais importante é estar ciente de todos os desafios do processo de transição e buscar fazer um acompanhamento psicológico para auxiliar a passar por essa fase com mais tranquilidade, indo de encontro à sua autorrealização.
É fundamental ter uma rede de apoio presente e um acolhimento emocional intensificado para aumentar o bem estar físico e psíquico. Através da psicoterapia é possível construir pontes, conexão e vínculos fortes, rígidos e assertivos, de equilíbrio entre a nova condição de gênero sexual e o gênero de nascença.
Além disso, ela trabalha a autoestima, a autocompaixão, a eliminação de fobias, complexos enraizados, a fim de fortalecer os gatilhos positivos de aceitação do processo, reduzindo os impactos negativos possíveis de julgamentos e preconceitos que essa pessoa possa vir a sofrer.
Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista