5 de dezembro

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Andrea Ladislau

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Tem especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional a pessoas do Brasil inteiro.
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Descortinando casos de violência obstétrica em favor da saúde mental da mulher

Pouco se fala sobre o parto traumático. Porém, ele é real e, infelizmente, nem todos os casos ocorridos são divulgados. Seja por falta de informação e conhecimento para entender que sofreu uma violência obstétrica, ou mesmo, por medo de represálias. Mas é muito importante descortinar inúmeras situações não expostas. Uma violência caracterizada por abusos, maus tratos ou desrespeito ao longo da gestação ou durante o trabalho de parto, tanto de forma física quanto psicológica.

Em média, 30% das mulheres descrevem o parto como traumático, com a prevalência de Transtorno do Estresse pós traumático (TEPT). Mas um dos grandes pontos é que este transtorno não se resume apenas às lesões físicas, temos muitos relatos de dores subjetivas, relacionadas à inadequação na assistência médica durante os procedimentos de urgência. A violência obstétrica é um tipo de violência de gênero, praticada durante o cuidado obstétrico profissional, caracterizada pelo desrespeito, abusos e maus-tratos durante a gestação e/ou no momento do parto, de forma psicológica, verbal ou física e, consequentemente, torna um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher em um momento traumático e devastador. Compreende desde ter o direito de um acompanhante na hora do parto negado, falta de esclarecimentos sobre o procedimento, até intervenções invasivas desnecessárias, como também comentários constrangedores, ofensas, humilhações ou xingamentos e negligência.

Mas quais são os impactos dessa violência para a saúde mental de uma mulher que vive um momento tão delicado como o nascimento de um filho? As consequências da violência obstétrica vão além dos danos imediatos, o trauma reflete seriamente na saúde da mulher, pois, é vivenciado em um momento decisivo em vários aspectos da vida e na saúde, física e mental, tanto do bebê como da mãe. O parto traz grandes alterações físicas, hormonais, psíquicas, a mulher se vê diante de uma transformação dos seus papéis sociais e suas relações. Por consequência, existem possibilidades do aparecimento de um quadro de tristeza ou surgimento de transtornos psiquiátricos que interfere no vínculo afetivo saudável entre a mãe e bebê, que é potencializado no caso de violência obstétrica.

O constrangimento é o primeiro sentimento que as mulheres enfrentam após a violência. A angústia é intensificada e podem desenvolver e potencializar uma sensação de inferioridade, medo e insegurança, através da humilhação, reforçando sentimentos de incapacidade, inadequação e impotência da mulher e do seu corpo. Outro ponto extremamente relevante é que, tanta dor e sofrimento podem desencadear o medo de uma nova gestação por causa da experiência vivida. Aliás, essa é uma das principais queixas da mulher que sofreu esse tipo de violência. Em geral, a grande maioria aponta indícios de depressão pós-parto. Fato é que, as vivências experimentadas desse momento fazem parte dos sentimentos, pensamentos e das relações das mulheres no processo de construção do significado da maternidade, por isso, é preciso considerar o impacto que o trauma provoca em cada mulher. Ou seja, significa que as consequências de uma violência obstétrica atravessam o sentido de ser mãe e a própria história dessa gestante.

Portanto, diante de toda essa descrição, constata-se que muitas situações que acontecem durante o parto podem e devem ser evitadas. É preciso que as mulheres tenham consciência das circunstâncias desse trauma e verbalizem, denunciem e busquem ajuda de um profissional de saúde mental para que possam fortalecer o seu emocional a ponto de não ferir e prejudicar o desenvolvimento saudável da maternidade e do cuidado com o recém-nascido. Apesar do trauma perinatal ou relacionado com o nascimento / parto ainda ser relativamente pouco estudado e divulgado, os casos alertam para a real necessidade de denunciar e expor as agressões físicas e psicológicas, uma urgente demanda do preparo das equipes obstétricas para que não provoquem traumas e saibam entender a importância de um trato humanizado neste momento sublime da mulher, minimizando assim, o sofrimento e promovendo a qualidade de vida, tanto para ela quanto para o recém-nascido.

Dra. Andréa Ladislau /  Psicanalista

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