A pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (26/5), que projeta a vitória do ex-presidente Lula (PT) já no primeiro turno, deve mudar o rumo das eleições presidenciais. Segundo o instituto, o petista teria hoje 48% das intenções de voto, oito pontos percentuais a mais que todos os adversários juntos. Isso inclui o atual presidente, Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição e aparece com apenas 27% das intenções de voto, 21 a menos que Lula.
O cenário de hoje detectado pelo Datafolha não dá ao petista a certeza da vitória no primeiro turno. Falta pouco mais de quatro meses para as eleições de outubro, mas muita coisa ainda pode acontecer quando a campanha estiver oficialmente nas ruas. Apesar disso, a ampla vantagem de Lula agora tende a ajudar a empurrá-lo ainda mais para a frente, com o eleitorado antecipando o voto do segundo para o primeiro turno. Seria uma espécie de voto útil para tirar Bolsonaro do páreo e que pode sair principalmente do eleitor do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que patina nos 7% na pesquisa.
A consulta foi feita após a desistência do ex-governador tucano João Dória de disputar a Presidência. Antes, o ex-juiz Sergio Moro já tinha desistido. Nada disso abalou a polarização entre Lula e Bolsonaro, com a chamada terceira via derretendo cada vez mais. A vantagem para o petista e o motivo de preocupação para os bolsonaristas é que esses movimentos confusos e desastrosos do Centro parecem estar favorecendo mais Lula que Bolsonaro.
Não é preciso recorrer a análises políticas mais sofisticadas para entender o que pode estar acontecendo com o eleitor. Na véspera da divulgação do Datafolha, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, foi morto por asfixia ao ser trancado no porta-malas de um carro da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe. Genivaldo foi detido, e em seguida morto, porque estava sem capacete numa moto. É contra a lei andar de moto sem capacete? É! Mas não é um crime punido com pena severa, muito menos com pena de morte, que o Brasil condena. Tanto que o Presidente Jair Bolsonaro já foi fotografado diversas vezes pilotando motocicletas sem capacete e nada aconteceu.
Talvez isso tudo explique um pouco o Brasil de hoje e também o humor do eleitorado. O desrespeito às leis e à democracia, à saúde, à ciência, às mulheres, aos índios e à floresta podem estar ajudando a impulsionar a candidatura do hoje principal adversário de Bolsonaro na disputa. Não que todos esses eleitores e eleitoras morram de amores por Lula. Mas porque rejeitam Bolsonaro e o que ele significa, o que o Brasil virou desde que tomou posse.
O que vai decidir agora o novo rumo da campanha após este Datafolha, porém, é a movimentação dos partidos, especialmente os abrigados naquilo que se convencionou chamar de Centrão e que poderia ser chamado de vários outros nomes, nenhum deles abonador.
Hoje com Bolsonaro, o Centrão abandona qualquer barco e pula pro outro lado quando sente cheiro de derrota e vê perspectiva de poder na outra margem.