4 de dezembro

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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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Cerveja faz conexão solidária entre Niterói e Porto Alegre

maniba 1

A cervejaria Malteca, de Niterói, vai produzir um rótulo clássico da cervejaria Maniba, de Porto Alegre (RS).  O lucro obtido com as vendas será destinado integralmente à marca gaúcha. Como consequência das enchentes, no Rio Grande do Sul, a Maniba fechou as portas.

O que será produzido na fábrica de Jurujuba é a Black Metal IPA (7,5% ABV; 70 IBU). Trata-se de um dos primeiros rótulos da cervejaria gaúcha. Foi para o mercado em 2014, um ano depois da criação da marca e, desde então, se tornou uma medalhista de concursos.

O lançamento em Niterói será no próximo dia 17, quando a Malteca realiza seu IPA Day – evento dedicado às cervejas mais lupuladas.

– A Black Metal IPA é mais do que uma cerveja. É um símbolo de resiliência e união dentro da nossa comunidade cervejeira. Estamos empenhados em ajudar nossos amigos da Cervejaria Maniba a superar esse momento difícil e a retomarem suas atividades com força total – afirmou Diego Verticchio, um dos sócios da Malteca.

A iniciativa surgiu a partir de uma conversa com os gestores do Brewteco, rede carioca de bares de cerveja artesanal, que planejava uma forma de ajudar algumas cervejarias gaúchas atingida em seus negócios pelas enchentes. Dentre várias possibilidades,  a Malteca escolheu a Maniba por “afinidade” : na cervejaria, vários eram fãs da Black Metal IPA.

Maniba

O lixão visto do taphouse da Maniba. Foto: Maniba

Parece ironia, mas a Maniba não fechou as portas porque a água invadiu suas instalações – até porque isso não aconteceu. Mas porque a prefeitura de Porto Alegre transformou em um imenso lixão uma área atrás do taphouse da marca, sem data para ser desativado. O odor e as condições para se chegar ao local tornaram o negócio inviável, como contou Cristiano Winck, criador e mestre-cervejeiro da Maniba:

– Nossa fábrica fica em Lomba Grande, bairro de Novo Hamburgo, e não pegou água. Eu moro ao lado e na minha casa também não entrou água. Nosso taphouse fica em São Leopoldo e também não foi afetado pelas águas. Mas a cidade parou e não tínhamos como seguir com a produção e o restaurante. Quando a água baixou e íamos recomeçar a trabalhar, criaram o lixão que já recebeu 100 mil toneladas entulho, criando um paredão de 15 m de altura. É um cheiro insuportável. Não dá para ter um estabelecimento que trabalha com alimentos ali.

Enquanto praticamente toda a população de Porto Alegre sofria com falta de água potável, Cristiano também não passou por esse sufoco. Na sua casa tem um poço que não foi afetado. No auge da calamidade, só lhe restou uma coisa a fazer: ajudar a distribuir doações e, principalmente, água potável.

No momento, quando os moradores de Porto Alegre tentam retomar suas rotinas, é justamente quem trabalha com alimentação que está conseguindo se reerguer. Segundo Cristiano, a maioria da população perdeu a cozinha de suas casas – em vários lugares, a água atingiu 3,2 m de altura. Poucos têm condições de fazer a própria comida, atualmente.

Depois de um bom tempo fechado e com o público consumidor de cerveja reduzido, a decisão de não mais abrir o taphouse fez Cristiano repensar seu negócio. Ele está desativando a fábrica, que tinha capacidade para 8 mil litros por mês, para trabalhar em outra em Eldorado do Sul e partir para projetos cervejeiros colaborativos. E a cutelaria, de hobby, está virando ofício.

– Se não fosse o lixão, as coisas seriam diferentes. E como a Maniba não foi diretamente atingida pelas águas, nós não recebemos qualquer ajuda. É surreal. De repente, surge uma cervejaria de Niterói que chega para nos ajudar. Isso está sendo muito legal e eu confesso que não esperava – disse Cristiano que não poderá vir para Niterói para o lançamento da sua cerveja na versão “papagoiaba”.

IPA Day Malteca

A Black Metal IPA é uma cerveja escura, como indica o nome. Porém, não é o torrado do malte que dá o tom no sabor e sim o lúpulo, com predomínio de cítricos e toques resinosos. Segundo Cristiano, quem bebe a cerveja  “às cegas” não imagina que se trata de uma bebida escura.

No taphouse da Malteca, o rótulo será um dos destaques, ao lado de outras cervejas lupuladas da marca. Junto com o IPA Day, vai acontecer também, o já tradicional Malteca de Portas Abertas – evento que conta com a participação de pequenos expositores da região de Jurujuba. Petiscos feitos do bar da fábrica e música ao vivo também fazem parte do cardápio de atrações.

A Malteca fica na Av. Carlos Emerindo Martins, 926.

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