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Andanças

Por Giovanni Faria

Giovanni Faria é jornalista com mais de 30 anos de atuação em jornais e rádios do país, professor universitário e um andarilho pelo mundo. Já percorreu mais de 5.500 KMs em 11 viagens pelo Caminho de Santiago de Compostela. Nasceu em Nova Friburgo, mas é frequentador assíduo das ruas de Niterói, onde mora e caminha diariamente por todos os cantos da cidade.
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Caminho de John, Jorge e Gil

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Salve Jorge, um e outro: o gari do caminho e o santo protetor!

John e Jorge cruzaram meu caminho. John não era o Lennon, Jorge não é o Ben Jor. Aliás, ambos nem são músicos. O primeiro é irlandês; o outro, nasceu em São Gonçalo. Mas como os dois se encontram em minhas “Andanças”?

Um passo de cada vez.

John é um monge. Tem pouco mais de 40 anos. Fazia o Caminho de Santiago de Compostela de uma forma que eu nunca havia visto: caminhava um quilômetro, se ajoelhava no chão, fazia uma breve oração e seguia adiante, depois de limpar a vestimenta suja de poeira na altura dos joelhos.

Jorge é gari. Tem 63 anos, mas com vitalidade de alguém com os algarismos da idade invertidos. Pode ser visto todos os dias entre a Praia de Icaraí e São Francisco. Também se ajoelha, mas não reza: cata lixo no chão, não só folhas, mas tudo o que se joga pela janela de um carro. E não é pouco.

John está vestido a caráter, como monge. Tem uma mochila minúscula para quem se propõe a caminhar cerca de 900 quilômetros em um mês. E carrega um violão. Aqui e ali, para e dedilha as cordas. Canta sempre uma canção triste. Algo há.

Jorge é elétrico. Arrasta a lixeira pela Estrada Fróes acima com velocidade e habilidade. E a vassoura não para um segundo. Por onde passa, nada fica para trás: nem ponta de cigarro, nem folha trazida pelo vento. Apenas o suor que escorre de seu rosto.

John perdeu a fé. A morte da mãe foi um duro golpe, que abalou suas estruturas e crenças. Estava no caminho em busca de respostas. “Vim dialogar com Deus”, disse-me na borda de uma fonte romana em terras espanholas. Objetivo cumprido, fé recuperada. Salve John!

Jorge esbanja fé. Na ponta do cabo da vassoura, fitas com as cores de São Jorge, seu padroeiro, chamam a atenção de quem o vê. Esse é um dos objetivos: ser visto pelos motoristas para não ser atropelado. No peito, exibe uma reluzente medalha, claro, do santo xará. Salve Jorge, um e outro!

Não sei o sobrenome de John e Jorge. Mas isso não importa. São gente do meu caminho de todos os dias. Gente de fé, que pode até estremecer, mas que, no fim, não costuma “faiá”. Não é, Gil?

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