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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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Caju: a fruta do Carnaval 2024 do Rio também é hit na cerveja

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No Carnaval de 2024, o caju foi parar na boca do povo. A fruta foi escolhida como tema do enredo da escola de samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel. E o samba virou hit, como há tempos não acontecia com um samba-enredo, no Rio de Janeiro.

“Pede caju que dou… Pé de caju que dá”, lançado no meio do ano passado (época em que as agremiações escolheram seus sambas), chegou “viralizado” no fim do ano. Segundo a plataforma Spotify, foi a música mais ouvida, no Rio de Janeiro, no Réveillon.

Duas curiosidades sobre o samba:

Um dos autores é o humorista Marcelo Adnet.

A música que não para de tocar nas rádios cariocas está sendo cantada pelo novo intérprete da escola, Zé Paulo Sierra, demitido ano passado da Viradouro, de Niterói, depois de dez anos na “casa”. Foi substituído por Wander Pires que começou sua carreira justamente na Mocidade.

Mas por que estou contando isso em uma coluna cervejeira? Porque, é claro, que o caju já foi usado para fazer vários rótulos, no país.

Com a ajuda do amigo Guilherme Alfradique, beer sommelier do bar Dona Cevada, de Niterói, listei alguns desses rótulos para quem quiser ficar “em dia” com a fruta do momento, no Rio. Mas não só isso. Conversei com alguns mestres cervejeiros para saber se o caju é uma fruta que dá fácil, ou não, liga nas receitas.

Alguns rótulos com caju:

Saison de Caju – Cervejaria Tupiniquim (RS)

Flip-Flops to Heaven – Gose com Caju – Cervejaria Narcose (RS)

Flip-Flops To Hell – Gose com Caju e Pimenta – Cervejaria Narcose (RS)

Cajuminado – Milkshake IPA com Caju – Cervejaria Suricato (RS)

Frutaria Caju e Maracujá – Fruited Gose – Morada Cia Etílica (PR)

Cara de Piscina Caju – Berliner Weisse – Cervejaria Dádiva (SP)

Cajueira – Session IPA – Tank Brewpub (SP)

Louvada Blond Caju – Blond Ale – Cervejaria Louvada (MT)

Nassau – White IPA de Caju – Cervejaria Colorado (SP)

Cajunela – Weiss – Cervejaria Turatti (CE)

Sour de Caju – Cervejaria Proa (BA)

Berrió – Amerian Lager – Ambev (PI)

Até 2022, a área ocupada com cajueiro, no Brasil, está sendo estimada em 425,2 mil hectares, sendo 63,9%, no Ceará; 17,2%, no Piauí; e 11,7%, no Rio Grande do Norte. E, no Nordeste, a estimativa é de 424,0 mil hectares, o que representa 99,7% da área nacional.

 

Foi com frutas do Ceará que a Tank Brewpub fez a sua Cajueira. O cervejeiro da marca, Rodrigo Louro, conta sua experiência com a fruta:

– Além de cervejeiro, faço consultoria para desenvolvimento de receitas. Um cliente de Fortaleza (CE), que tem uma plantação de caju, me pediu consultoria para fazer uma cerveja com a fruta. Então, fizemos uma parceria e produzi na Tank com os cajus dele. O caju é uma fruta bastante aromática e libera o aroma e o sabor da fruta muito fácil, em contato com o álcool. Além disso, tem alguns lúpulos que remetem a caju, principalmente, lúpulos da Nova Zelândia. Fizemos 50 litros, ficou muito boa, então, produzimos 500 litros.Usamos 80 quilos de caju para fazer essa cerveja, então, a maior dificuldade foi processar essa quantidade toda, que foi tirar a castanha e cortar o caju em pequenos cubos. A fruta foi colocada dentro da cerveja pronta, na etapa de maturação para extrair o aroma e o sabor do caju. Foi um processo fácil e rápido. E a cerveja ficou com muito caju, mesmo. Fizemos em março de 2023 e a cerveja acabou bem rápido. Temos planos para fazer mais um lote este ano, só temos que coordenar a produção com a safra do caju, que é em setembro. O feedback que tivemos dessa cerveja foi excelente, inclusive no nordeste. É uma cerveja que faria sempre, com acesso a um bom caju como tive.

 

Em fevereiro, a Dádiva lança uma nova versão da Cara de Piscina, mas com adição de maracujá. A de caju foi produzida há cerca de um ano e meio e o lote terminou. A experiência com a fruta quem conta é Victor Pereira Marinho, sócio e cervejeiro da marca:

– Utilizar caju é bem difícil porque a fruta tem um toque de fruta verde que amarra a boca, que é adstringente. Essa adstringência é potencializada pela acidez da cerveja. Então, tem que equilibrar a acidez muito bem para que não potencialize essa adstringência. Não pode reduzir a fruta se não perde o sabor e o aroma, então, achei bem difícil utilizar o caju.

Na Morada Cia Etílica, a Frutaria Caju e Maracujá é uma das best-seller. Sobre o uso do caju, quem fala sobre a experiência é André Junqueira, sócio e cervejeiro da marca:

– Em termos de uso da fruta não é muito complicada não, sai suco fácil dela. Mas o caju tem um desafio de resolver em termos de equilibrio. Isso já penso desde o suco, pois ele é saboroso e aromático, porém não tem acidez. Com isso, fica faltando aquele brilho pra abrir o sabor dele mesmo. Até por isso, o uso do maracujá na cerveja, para ajudar na acidez e trazer um pacote completo. Na Frutaria, o caju é primeiro plano. São três partes de caju para uma de maracujá. Quando bebo suco de caju, costumo colocar limão.

Ele contou que, na infância, morou no norte do país e tinha dois pés de caju, perto da sua casa. Assim, caju se tornou uma de suas frutas favoritas.

– Nada igual chegar num pé de caju cheião, tudo madurinho, botar inteiro na boca e se babar todo – comentou.

Ele acrescentou que, na Morada Cia Etílica, a Frutaria Caju e Marcujá é uma das top de vendas, atualmente, até por ser “super gastronômica” e “rodar bem em diversos restaurantes bacanas” que a marca atende.

Junqueira acabou de lançar uma versão especial com caju, feita em colaboração com Jota Bê, cronista gastronômico de São Paulo.

– Saiu uma Sour jovem com caju e melado e cana, com um blend no final de uma cerveja estilo lambic de centeio, envelhecida em barris de amburana. Ficou super interessante, com acidez tanto lactica quanto um toquezinho de acética, o condimentado da madeira e o caju, obviamente, no primeiro plano, bem aromático. Demos o nome de “Cajota – informou.

Ambev

Em 2020, a Ambev lançou no Piauí sua cerveja regional Berrió. É uma American Lager (estilo das cervejas que a marca indica nas latas como Pilsen) feita com adição de caju. É produzida na cervejaria Teresina, na capital do estado.

Os chamados rótulos regionais da Ambev fazem parte de um projeto de produção de cerveja de baixo custo feita com ingrediente típico do local, fornecido por produtores familiares.A maioria dos rótulos é feito com mandioca. A única exceção, até o momento, é a Berrió. Essas cervejas são comercializadas apenas onde são produzidas.

Na época do lançamento do rótulo, a cervejaria informou ter comprado 241,7 toneladas de caju, de produtores da agricultura familiar de cinco municípios do Piauí: Monsenhor Hipólito, Francisco Santos, Campo Grande do Piauí, Canto do Buriti e Pio IX, por meio da cooperativas. O projeto, então, envolveu o trabalho de 1400 pessoas e impactou, diretamente, a vida de 600 famílias.

Ouça o samba da Mocidade Independente de Padre Miguel, aqui

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