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Lupulinário

Por Sônia Apolinário

Sônia Apolinário é jornalista tendo trabalhado nos principais jornais do país, sempre na área de Cultura. Também beer sommelière, quando o assunto é cerveja e afins, ela se transforma na Lupulinário.
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Brassagem aberta ao público na Vila Cervejeira

ingredientes da cerveja

Foi ao fazer cerveja em uma panela doméstica, na cozinha de casa, que muita gente boa pôs os pés na profissão de cervejeiro. Quem tiver curiosidade para saber como se produz a bebida, de forma artesanal, mas com técnica profissional, se programe para ir na Vila Cervejeira no sábado, 13 de novembro.

A partir das 10h, integrantes da Associação dos Cervejeiros Artesanais (Acerva) de Niterói se reúnem em frente ao taproom da BrewLab para brassar 60 litros de uma Patersbier, um estilo belga de Abadia. Será a primeira produção coletiva do grupo depois de quase dois anos, por conta da pandemia do Covid19. Vice-presidente da Acerva, Fernanda Marques será uma das responsáveis pela produção dessa cerveja e avisa: curiosos são muito bem-vindos.

Alguns esclarecimentos são necessários. O primeiro deles é que uma brassagem (nome dado ao processo integral de produção de uma cerveja) demora pelo menos seis horas. E ao final, a bebida não estará pronta para o consumo. No caso do estilo que será feito, o histórico Patersbier, a bebida precisa descansar por cerca de 25 dias até ficar no ponto para ser servida.  A boa notícia é que, em brasagens coletivas abertas, integrantes da associação costumam levar suas produções caseiras para serem compartilhadas e avaliadas pelos colegas. Aqui uma observação: a venda da chamada cerveja de panela é proibida.

A brassagem de sábado será feita em panela única – dependendo do processo, é possível se utilizar até três panelas em uma única produção. O fogo deve ser aceso por volta das 10h30. Tudo começa  com a mostura que é o processo de cozimento do malte (aliás, a imagem que ilustra a coluna mostra os quatro ingredientes básicos de uma cerveja: água, malte, lúpulo e levedura). Essa etapa demora 60 minutos e tem por objetivo converter o amido do malte em açúcar. Este, mais para frente, é que se transformará em álcool.

Próximos passos: lavagem do grão e fervura. Neste, o objetivo é esterilizar o mosto (nome dado ao líquido extraído do cozimento do malte). Também é o momento em que sua excelência, o lúpulo, dá o ar da graça, ou melhor, o futuro amargor e aroma da cerveja.

Da panela, a bebida passa para o balde de fermentação. É ali que o álcool surge “milagrosamente” quando o açúcar (lembra dele?) serve de alimento para as leveduras. São elas que farão o trabalho, dali em diante. Para saber quando a cerveja ficou pronta, o cervejeiro tem que medir sua densidade, de tempos em tempos, até que atinja o número desejado para o estilo que está sendo produzido. A densidade é que vai determinar o futuro teor alcoólico da futura cerveja. Uma Patersbier tem por volta de 5%.

Essa produção de sábado será consumida, em dezembro, na tradicional festa de final de ano da Acerva, que também não acontece há um ano. Esse evento, porém, é fechado para associados. Atualmente, a Acerva Niterói, tem 72 deles.

Formada em tecnologia cervejeira e também beer sommelière é Fernanda quem explica o que é uma Patersbier:

“Esse é o estilo de cerveja consumido no dia a dia pelos monges, dentro dos monastérios. Para eles, é fonte de nutrição e bebem mais de uma vez por dia. Ou seja, é uma cerveja leve, com pouco álcool, para não afetar a execução das tarefas rotineiras. Os monges produzem as tradicionais Dubbel ou Quadruppel, que são cervejas mais fortes. O grão lavado dessas brassagens é usado em nova brassagem para fazer a Patersbier. No nosso caso, faremos a cerveja diretamente dentro das suas características que o guia de estilos classifica com Trapist Single”.

Das marcas de Niterói, a Arariboia tem uma Patersbier no seu portfólio: a Charitas (5,2%  de álcool e 14 de teor de amargor, ou IBU).

Mais um aviso de Fernanda. Qualquer pessoa pode se associar à Acerva, ou seja, não é preciso ter qualquer tipo de conhecimento prévio – mas se souber química, física e biologia vai ajudar bastante. Para fazer parte é preciso pagar uma anuidade (atualmente no valor de R$ 125).  Além de brasagens coletiva, a associação promove cursos, degustações guiadas e concursos. A Acerva não tem sede física.

Afinal, produção de cerveja é clube do bolinha?

“Ainda são poucas as mulheres nesse meio, mas o número está aumentando. Há muito machismo, principalmente, no chamado chão de fábrica, por ser um local onde o trabalho exige um certo esforço físico e muitos acham que não é lugar de mulher”, comenta Fernanda lembrando que é uma mulher, Ingrid Matos, a cervejeira da Masterpiece, de Niterói.

E pensar que, lá nos primórdios, fazer cerveja era tarefa dos monges ou das mulheres. Mais precisamente, das donas de casa da Idade Média. Quando elas queriam avisar que tinha cerveja disponível para venda, elas colocavam uma vassoura na porta. Qualquer associação com as míticas bruxas não será mera coincidência, mas isso é assunto para outra coluna.

A Vila Cervejeira fica na Rua professor Heitor Carrilho, 250, no Centro de Niterói. Entrada mediante apresentação de comprovante de vacinação.

 

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