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Silvia Fonseca

Silvia Fonseca é jornalista e trabalhou por 30 anos no jornal O GLOBO, onde foi Editora Executiva. Tem pós em Gestão de Redação, tem uma consultoria em soluções de mídia e é sócia fundadora do A Seguir: Niterói. Nasceu em Minas, mas mora em Niterói há 32 anos.
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Bolsonaro depende mais da economia que do TSE

O TSE aumentou o esquema de segurança para acessar o prédio do tribunal neste domingo
O prédio do TSE, em Brasília, onde será retomado o julgamento da ação do PDT contra Bolsonaro

“Qual a acusação principal contra mim? Reunião com embaixadores! Isso é crime?”  Bolsonaro desembarcava em Porto Alegre. O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estava reunido para julgar ação do PDT que pede a inelegibilidade do ex-presidente. O voto do relator era lido e deixava clara sua conclusão de que houve crime eleitoral naquela reunião em que o então presidente atraiu embaixadores ao Palácio da Alvorada para atacar o sistema eleitoral brasileiro. A pergunta que os ministros do TSE responderão a partir da semana que vem é justamente a que fez Bolsonaro ao ser recebido por apoiadores no Sul: “Isso é crime?”.

Não, se reunir com embaixadores não é crime. Mas usar o palácio oficial para evento de campanha eleitoral, atacar o TSE e desacreditar o sistema de votação eletrônico, tudo isso, sim, será considerado crime. Crimes de abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação, como alega o PDT na ação.

É pouco, muito pouco perto do que Bolsonaro fez e deixou de fazer ao longo de seu mandato. Não tomar a vacina contra Covid quando o mundo enfrentava uma pandemia que deixou milhões de famílias órfãs também não é crime. Crime é atacar a vacina, desestimular a vacinação, falsificar ou deixar falsificarem comprovante de vacinação. Assim como é crime, não tipificado no Código Penal mas igualmente hediondo, debochar das famílias que choravam seus mortos.

“E daí? Não sou coveiro!” Ideal seria que o TSE sepultasse de vez Bolsonaro para a política. Mas, no caso desta ação que começou a ser julgada, a pena máxima deverá ser a inelegibilidade política por oito anos.  O que o ex-presidente já chamou de afronta.

Ele fala em “afronta” da mesma forma como diz que “reunir embaixadores não é crime”. Não se esqueceu do tanto que afrontou as instituições e os brasileiros, mas aposta que seus seguidores jamais pensaram nisso. Sabe muito bem para quem está mandando as mensagens. Sabe que há pessoas tão toscas quanto ele e também outras bem espertas como ele para as quais a retirada de cena, caso o TSE casse seus direitos políticos por oito anos, não significará o fim do bolsonarismo.

Embora tenha dito que gostaria de continuar “100% ativo politicamente” e que sua possível condenação lhe tiraria “um pouquinho de gás”, Bolsonaro perderá muito poder se não puder disputar eleições pelos próximos anos. Mas não toda a sua influência. Por lei, se condenado, ele só poderá se candidatar de novo em 2030, aos 75 anos. Ainda assim, será importante cabo eleitoral para seus aliados nas próximas duas eleições municipais e na nacional de 2026.

Jóias das Arábias, crianças mortas por falta de oxigênio, índias estupradas, floresta derrubada, palácios depredados no 8 de janeiro, nada disso tirou o ânimo de bolsonaristas raiz porque eles pensam como o ex-presidente. Preferem isso à “ameaça do comunismo (rsrsrs)”. Ou se fazem de cegos, surdos e mudos. Isso é crime?

O fato é que o futuro de Bolsonaro dependerá do humor de seus seguidores mais do que do julgamento do TSE. E o humor de seus seguidores dependerá, em grande parte, do rumo da economia no governo Lula. Dinheiro no bolso.  Isso é crime?

 

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