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Sergio Torres

Sergio Torres trabalhou nos três maiores jornais do país ao longo de 35 anos. Mas se interessa mesmo é pelas notícias locais de Niterói, onde nasceu e sempre viveu. 
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‘Aloha’

big wave itacoatiara
Ondas imensas em Itacoatiara, muito tempo depois daquele campeonato: folclore no surfe de Niterói

O surfe tem seus rituais. Um deles, o emprego da saudação havaiana “aloha” pelos esportistas. Em uma roda de surfistas, quem chega e sai pronuncia a tal palavra. Uma forma de cumprimentar os colegas, desejar-lhes paz e bem-aventurança na jornada da vida.

Em Niterói, certa ocasião, o que seria demonstração de gentileza por parte de um funcionário da Prefeitura transformou-se em chacota e deboche.

Estávamos na primeira metade dos anos 80 do século passado. Era, então, repórter de “O Fluminense”, principal jornal diário do velho Estado do Rio antes da fusão com a Guanabara, em 1975.

Não lembro a razão, mas fui pautado pelo chefe de reportagem, o grande Gilberto Fontes, a cobrir a finalíssima de um campeonato nacional de surfe que se realizava na praia de Itacoatiara.

Havia na Editoria de Esportes jornalistas mais capacitados do que eu para cobrir o evento. Cito aqui João da Matta, ainda hoje banhista capaz de enfrentar qualquer mar bravio. Mas, talvez por questões etárias, o destemido colega prefere hoje as tranquilas marolas de Itaipu, onde se faz presente nos sábados e domingos ensolarados.

Voltemos, então, ao feroz mar de Itacoatiara. No dia da final, as ondas eram gigantescas. Encantavam até expoentes do surfe nacional da época, como Picuruta Salazar, Daniel Friedman e Rico de Souza, que participavam da disputa.

O fato é que, terminada a competição, subiram ao palanque os medalhistas e as autoridades. Havia uma associação niteroiense de surfe, cujo presidente era um cara conhecido pelo vulgo de Índio.

Pois Índio fez um rápido pronunciamento, saudou os campeões e agradeceu o apoio da Prefeitura de Niterói. Ao final, como bom surfista, o dirigente classista mandou: “Aloha [pronuncia-se alorra] para todos!”.

Passou-se a palavra, a seguir, ao representante do Prefeito Waldenir de Bragança. Ao que me recordo, não havia Secretaria Municipal de Esportes. O sujeito que falaria em nome da municipalidade era uma espécie de coordenador ou coisa que o valha.

O homem começou o discurso de modo comedido. Mas empolgou-se à medida que citava a lista de presentes (vereadores, empresários, convidados em geral). Aos gritos, elogiava o esforço da Prefeitura em patrocinar o campeonato de um esporte moderno como o surfe.

E mais alto ainda encerrou a cerimônia com um desejo que entrou para a história do surfe niteroiense.

“Repito aqui o que disse o querido amigo Índio, este nobre descendente do nosso fundador, o cacique temiminó Arariboia, guerreiro que é orgulho da nossa amada Niterói: Ahola [pronuncia-se a rola] para todos!”

A gafe do orador gerou gargalhadas que ressoaram ainda por muito tempo no tormentoso mar de Itacoatiara.

 

 

 

 

 

 

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